Na cidade em que a palavra de ordem é terror, bandidos agem livremente e cometem infrações a qualquer hora do dia ou qualquer lugar – seja no subúrbio ou nas áreas nobres–.
E pior: os policias que deveriam proteger a população também tornaram-se vítimas da bandidagem.
O titular da 18ª Delegacia de Camaçari, Clayton Leão Chaves, enquanto dava uma entrevista ao vivo, por telefone, à Rádio Líder, dia 26/5 reafirma a fragilidade da segurançaEntre janeiro e abril de 2010, oito agentes militares e civis foram assassinados e a Bahia anda na contramão dos outros estados.
Enquanto em São Paulo e Rio de Janeiro as taxas de homicídios despencaram nos últimos três anos (2006 a 2009) – 38,68% e 22,3% respectivamente –, os índices baianos sobem vertiginosamente.
A taxa de homicídios no Estado cresceu, entre 2003 e 2009, de 2.
095 mil para 4.
769 mortes – salto de 64,16%.
A morte do delegado pública da Bahia.
“Nosso investimento não vem acompanhando o crescimento da criminalidade.
Estamos presenciando o governo tratar com descaso a questão da segurança pública”, argumenta a presidente do Sindicado dos Delegados do Estado da Bahia, Andréa de Oliveira.
Verba mal aplicada – “Para mim, a morte de um policial significa a falência da segurança pública”, pontua o PM sargento Pires.
Para ele, a estratégia de aplicação do orçamento para a segurança pública na gestão atual é falha.
“O investimento de Wagner é voltado para a compra de viaturas, armamentos e munições.
Salários e capacitação dos policiais não são prioridade”, afirma.
Mas o presidente da Associação da Polícia Militar, subtenente Adailton Leal, a violência não é combatida apenas com investimento na polícia.
“Armar-se até os dentes não é a melhor forma de combater a violência.
O cidadão necessita de saúde, educação, emprego e moradia dignas”, ressalta.
Medo de trabalhar – O enterro do delegado Clayton, no dia 27/5, no Cemitério do Campo Santo, foi marcado por muitos protestos.
Centenas de policiais civis estavam revoltados com a insegurança no exercício da profissão e as péssimas condições de trabalho.
O policial Aderbal Cerqueira desabafa: “A sociedade tem a nós para protegê-la, e nós temos quem? A Bahia nunca foi como está hoje.
Os policiais estão com medo de trabalhar”.
O policial civil Anselmo Duarte também está descontente com a profissão.
“Toda vez que saio de casa, despeço-me de minha família sem saber se conseguirei voltar.
O sistema é falho, a gente corre risco, troca tiro, prende, faz o trabalho direito e em menos de dois meses o bandido está solto”, conta.
Um peso, duas medidas – A Polícia Civil, em greve há dez dias, abriu uma exceção para investigar o caso do assassinato do delegado de Camaçari e, no mesmo dia, conseguiu prender os três culpados.
Enquanto isso, o resto da população sofre com a ausência de peritos e de policiais na investigação de crimes.
Para o presidente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, promotor Geder Gomes, há um paradoxo na ação da corporação.
“Por um lado, a agilidade da investigação da polícia com o caso que atingiu um membro de sua corporação é compreensível e esperado.
Por outro lado, isso cria um paradoxo porque a classe mobilizouse de imediato para resolver a questão, enquanto a sociedade encontra-se desassistida.
Isso mostra fragilidade da instituição nas suas reivindicações e compromete sua imagem”, avalia.
A classe decidiu manter a greve até dia 1°/6.
Políticos criticam – O descaso do governo Wagner com a segurança pública pode ser comprovado em números.
Enquanto no último ano de governo Paulo Souto, em 2006, foram investidos R$ 47,7 milhões.
Em 2009, Wagner investiu míseros R$ 26,6 milhões.
Tais dados parecem ainda piores se comparados com os gastos do Estado com publicidade: R$ 213 milhões em dois anos.
“A nossa polícia é extremamente capacitada.
Só que, à medida que o governo não investe nela, o poder de reação ao crime diminui drasticamente”, avalia o deputado estadual Carlos Gaban (DEM).
O pré-candidato ao governo do Estado Geddel Vieira Lima (PMDB) ressalta que as reações de Jaques Wagner a críticas têm sido agressivas.
“Tenho notado o governador cada vez mais irritado com as críticas.
Politizar essa questão da segurança só interessa a ele.
Eu não quero politizar nada, só quero um debate claro”, afirma.
Já o précandidato Paulo Souto (DEM) diz que os problemas não podem ser creditados ao governo anterior.
“Depois de tanto tempo, achar que isso tem alguma relação com o que aconteceu há seis ou oito anos é uma desculpa esfarrapada”, ataca.
Policiais mortos
Policial civil Eli da Silva Pavie – Dia 26/4, o policial civil Eli da Silva Pavie, 36 anos, foi morto no bairro da Pituba.
Ele estava com a família quando foi abordado por três homens que queriam roubar o carro.
Policial militar Tiago de Jesus Brito – Tiago de Jesus Brito, 26 anos, era soldado na 9ª CIPM, em Pirajá, e foi morto a tiros no dia 9/3, em Jaguaripe I, no bairro de Cajazeiras.
Ele foi o quinto policial militar a ser morto na Bahia em 2010.
Delegado Carlos R.
Dórea Amaral – O delegado da Ouvidoria da Polícia Civil Carlos Raimundo Dórea Amaral, 61 anos, foi morto no dia 30/12/2009 com 11 facadas, na casa de veraneio, na Ilha de Itaparica, município de Vera Cruz.
Delegado Clayton Leão Chaves – O delegado de Camaçari Clayton Leão Chaves foi assassinado com dois tiros na cabeça, no dia 26/5, enquanto dava uma entrevista ao vivo, por telefone, à Rádio Líder.
Clayton estava com a esposa, no acostamento da Via Cascalheira – pista alternativa ao pedágio entre Vila de Abrantes e Camaçari –, quando foi abordado por quatro homens que dispararam vários tiros de metralhadora.
Os bandidos chegaram ao local em um corsa branco quatro portas, de placa vermelha.
Delegado André Serra – Dia 29/10/2009, o delegado de Ipiaú, André Serra, foi assassinado em frente ao prédio dos correios da cidade.
Ele estava na Praça Ruy Barbosa quando foi abordado por dois homens que disparam quatro tiros à queima-roupa.
Fonte: Jornal da Metrópole
O RMS NOTICIAS, durante esta semana vai apresentar os números da violência em todos os municípios da região metropolitana de Salvador