A Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro (CEV-Rio), vinculada ao governo do estado, revelou, nessa sexta-feira, 11, que a secretária da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Lyda Monteiro foi assassinada em 27 de agosto de 1980, por agentes do Centro de Informação do Exército (CIE), ao abrir uma carta-bomba. A correspondência era endereçada ao então presidente da entidade, Eduardo Seabra Fagundes, mas foi aberta por Lyda, secretária dele. Na época, a OAB denunciava desaparecimentos e torturas de perseguidos e presos políticos.
A comissão identificou a participação do sargento Magno Cantarino Motta, codinome Guarany, que entregou a bomba pessoalmente na sede da OAB; do sargento Guilherme Pereira do Rosário, que confeccionou a bomba e do coronel Freddie Perdigão Pereira, que coordenou a ação, com base em depoimentos de testemunhas, fotos e retratos falados.
O filho da secretária Lyda, Luiz Felippe Monteiro, disse que o resultado das investigações é um alento, 35 anos depois de ações do Estado terem impedido uma investigação justa sobre a morte da mãe dele.
“A verdade está devidamente contada e a história reestabelecida. Tirei o maior peso que jamais imaginei que conseguisse carregar”, desabafou. ” Vi meus filhos mais velhos estudarem o atentado da OAB no ensino médio, porém, não havia desfecho nos livros escolares. Agora, os pequenos terão a história completa, com todos os elementos devidamente registrados”, completou ele, que tem filhos de 5 e 8 anos.
Apesar do reconhecimento pelo Estado Brasileiro de que a morte de Lyda ocorreu em função da perseguição do regime militar a ativistas políticos, Luiz Felipe Monteiro não abre mão de um pedido de desculpas do ministro da Defesa e dos comandantes das Forças Armadas. “Esse pedido não é só para mim, mas para toda nação por esse odioso atentado”, concluiu.
Riocentro
Os agentes militares que participaram da ação contra a OAB são os mesmos envolvidos no fracassado atentado à bomba, ocorrido em 1° de maio do ano seguinte, no estacionamento do Riocentro, durante um show com mais 10 mil pessoas em comemoração ao Dia do Trabalho. No episódio, o sargento Rosário morreu quando a bomba que seria lançada sobre a multidão explodiu em seu colo, no carro onde estava. À época, o governo atribuiu à explosão a militantes de esquerda, versão esclarecida anos mais tarde.
As informações são da Agência Brasil