O prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), assinou por volta das 15h desta quinta-feira (7) o decreto que institui a "Operação Salvador Alfabetiza", que tem como objetivo estruturar o sistema da rede municipal de ensino. A cerimônia aconteceu na sede da Prefeitura Municipal, na Praça Municipal, e contou com a participação do secretário da Educação, João Carlos Bacelar.

O programa está previsto para começar a partir de sexta-feira (8). Consta nas suas diretrizes elevar o desempenho dos estudantes do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano) no período de abril a novembro de 2013.

Entre os pontos, está a garantia da alfabetização dos alunos até o fim do 1ª ano de escolaridade e também dos que não foram alfabetizados nos demais anos do Ensino Fundamental, além da incorporação do conteúdo do estudo da História e Cultura Afro-Brasileira e indígena no currículo escolar. Estão previstos ainda a realização de reflexões e aprimoramento da prática pedagógica, informou o gestor.

Do lado de fora da prefeitura, os professores da rede municipal de Salvador protestaram mais uma vez contra a utilização do material didático do Instituto Alfa e Beto. Segundo Marilene Betros, diretora da Associação dos Trabalhadores em Educação (APLB-Sindicato), as mudanças nos métodos de ensino nas escolas não foram aceitas pela categoria.

"Essa manifestação demonstra a indignação dos trabalhadores em educação frente à atitude do prefeito, que consideramos desrespeitosa porque ele entende que tem que assinar um decreto onde implementa um programa Alfa e Beto, quando a categoria o rejeitou. Nós entendemos que estávamos em um processo de debate, discussão e negociação. Não fechamos as discussões. Inclusive, o secretário não assinou o acordo com a categoria, que rejeitou por unanimidade o programa Alfa e Beto", relatou Marilene Betros, representante da categoria.

Professores realizaram manifestação (Foto: Imagem/ TV Bahia)

A diretora da APLB afirma que o programa apresenta uma série de problemas. “O Alfa e Beto não tem nenhuma identidade com essa cidade. Ele traz, em seus materiais, um caráter racista, um caráter sexista. Não trabalha a questão da autonomia do aluno, formando cidadãos críticos. Pelo contrário, traz um método em que o aluno vai repetir, em que o aluno, inclusive, vai imitar os seus professores. Nós não queremos cidadãos e cidadãs 'robôs', queremos cidadãos críticos, autônomos e sujeitos da sua própria história”, apontou Marlene Betros.

De acordo com o prefeito ACM Neto, o programa não é impositivo e permite aos professores seguirem o Pacto Nacional Pela Alfabetização, do Ministério da Educação (MEC). "Nós estamos desejando um entendimento com os professores para que eles possam aderir. Não tornei obrigatório a adoção do programa, mas tenho certeza que levá-lo adiante vai mudar a realidade de Salvador. E à medida que haja a evidente evolução dos nossos alunos, a cidade vai reconhecer a decisão acertada desse momento”, argumentou.

O profeito revela que o programa terá investimento de R$ 14 milhões, a depender do número de professores que aderirem ao programa. "Nossos alunos ocupam hoje a 22ª posição nas primneiras séries entre as capitais e, nas séries finais, a penúltima opposição. O protesto é legítimo. Eu respeito. Agora, estamos instituindo uma operação que vai tocar na qualidade do ensino público, que vai dar às nossas crianças a mesma condição dos filhos daqueles que estudam na rede particular", avaliou ACM Neto

Decreto foi assinado na prefeitura de Salvador, sob protesto de professores (Foto: Ruan Melo/ G1)

O secretário de Educação, João Carlos Bacelar, acredita que nenhum sistema é totalmente livre de críticas. “Não há método que tenha unanimidade. Há crenças pedagógicas que acreditam que esse método é o melhor, outras que acreditam que aquele outro é melhor. Como vamos dirimir essa dúvida? Ao final do ano, fazendo avaliação da rede”, respondeu.

João Carlos Bacelar acredita que a implementação do sistema é um desafio, mas que irá fazer com que Salvador se torne uma capital de destaque na qualidade de ensino. “Salvador, com certeza, será a primeira capital do Brasil que vai alfabetizar as crianças na rede municipal pública aos seis anos de idade. O que é importante é que a rede municipal consiga alfabetizar as nossas crianças aos seis anos, que a gente consiga reverter esse triste quadro brasileiro, em que 80% das crianças que frequentam escolas públicas chegam ao quinto ano analfabetas”, afirmou.

Polêmica

No mês de fevereiro, professores do sindicato realizaram uma paralisação contra a adoção do programa educacinal "Alfa e Beto". Eles também alegaram a estrutura precária de algumas escolas e falta de professores.

O sindicato disse que a secretaria adquiriu material didático do Instituto Alfa e Beta que contém possíveis conteúdos racistas. A secretaria negou e apontou que os textos precisam ser contextualizados e que o debate crítico deve ser estimulado em sala de aula. Na ocasião, o secretário Educação, João Carlos Bacelar, apontou que era preciso que os professores analisassem os textos explicando o contexto histórico aos aluno. Fonte: G1 Bahia