Quando tinha apenas 14 anos de idade, Janicleia de Souza teve o pai, Jaime Barbosa Soares, assassinado com um tiro no rosto. Anos depois, a baiana de Curaçá, no norte do estado, se formou em Direito e virou advogada; tudo para concretizar um juramento feito diante do caixão do pai, que se concretizou na última terça-feira (27), mais de 20 anos depois. Janicleia atuou como assistente de acusação no julgamento que condenou Adão Gonçalves da Silva, o homem acusado pelo crime.

Após a sentença, que condenou Adão a 16 anos e quatro meses de prisão em regime fechado, a advogada revelou que havia prometido diante do caixão do pai que iria em busca do homem apontado pelo homicídio.

“A promessa que eu fiz no dia da morte dele, no caixão dele, de que a pessoa que cometeu aquele crime iria pagar, iria ser condenado… E ele foi condenado apesar do tempo. Mas a sensação não poderia ser melhor, uma das melhores noites que tive de sono. Botei a cabeça no travesseiro em paz”, desabafou Janicleia.

A advogada ainda relatou sentir uma sensação de paz e dever cumprido.

“Sentimento de paz, sentimento de Justiça, sentimento de satisfação, de visto o homem que matou meu pai condenado. Uma satisfação só dada por Deus mesmo, uma satisfação de consciência tranquila, de honradez”, pontuou.

Na época do crime, o pai de Janicleia tinha 44 anos. Adão Gonçalves era funcionário da vítima e suspeitava de um envolvimento de Jaime com a filha dele, uma adolescente, o que teria motivado do crime. Após a morte de Jaime, Adão fugiu e nunca mais foi visto na localidade. As informações são do G1 Bahia.

Processo de Buscas

Janicleia de Souza se formou em Direito no ano de 2012. No ano seguinte, ela procurou o Ministério Público da Bahia (MP-BA) para saber sobre o processo criminal envolvendo o pai. Na ocasião, ela descobriu que depois de tantos anos, o prazo para julgamento não tinha vencido, porque o suspeito sequer tinha sido ouvido pela polícia.

“Apesar de tantos mandados de prisão dentro do processo, esses mandados não tinham condições de ir para o banco de dados nacional, porque não tinha nem a qualificação completa dele”, explicou.

A advogada, então, decidiu se habilitar como assistente de acusação no MP-BA. Janicleia conta que há 23 anos a saudade acompanha ela e a família. Além de Janicleia, Jaime deixou esposa e outros dois filhos.

Em 2014, um ano após a advogada, que estudou em Belém do São Francisco, em Pernambuco, começar a atuar no caso, um mandado de prisão foi expedido. O nome do acusado, que até então estava foragido, foi para o banco nacional de dados para facilitar a localização dele. E em 2017, o suspeito foi preso na cidade de Ipameri, em Goiás. Em 2015, ele foi transferido para o presídio de Juazeiro, no norte da Bahia.

Adão ficou à disposição da Justiça, no entanto, para Janicleia, ainda faltava se cumprir o capítulo mais importante da história: o julgamento do homem apontado por matar o pai dela.

No julgamento da última terça-feira, o salão do júri ficou lotado. Muita gente queria acompanhar como seria o desfecho do crime. Familiares usaram camisas com a foto da vítima e cobraram justiça.

O promotor de Justiça do Ministério Público da Bahia, Rildo Mendes de Carvalho, fez a acusação de homicídio qualificado por motivo fútil, dificultando a defesa da vítima.

“O processo é claro, de forma que o Ministério Público espera uma resposta a esse crime”, disse.

O advogado do acusado alegou que ele teria agido em legítima defesa.

Foram mais de 10 horas de julgamento. Quatro testemunhas de acusação e duas de defesa foram ouvidas. Sete pessoas formaram a bancada do júri.

Ao final da sentença, Janicleia fez um apelo: “Rezem para que nunca sintam a tristeza que carregamos no peito por 22 anos”, disse.

Após a condenação, Adão Gonçalves da Silva seguiu para o presídio Juazeiro.

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