Odores exalados de ambientes fechados são o principal sinal de alerta de que o local está insalubre. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), passamos de 80% a 90% de nossa vida em recintos fechados, respirando cerca de 10 mil litros de ar por dia.

Como resultado da permanência nesses locais, podem aparecer sintomas como ressecamento da mucosa nasal, obstrução nasal, lacrimejamento, coceira nos olhos ou na pele, dores de cabeça, rouquidão e náuseas. Trata-se de sinais característicos da presença de poluentes no interior de casas, edifícios, locais de trabalho e até mesmo automóveis.

A Associação Sul Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Aquecimento e Ventilação (Asbrav) sinalizou, em 2012, que mesmo com o alerta constante de especialistas, as discussões sobre a qualidade do ar estão ainda restritas aos ambientes externos.

Se, por um lado, autoridades tentam conter a poluição de indústrias e automóveis, pouco voltam as atenções para os ambientes fechados e para os riscos de doenças respiratórias.

Diante disso, a obrigação de manter o ambiente interno salubre (evitando assim a proliferação de micro-organismos, principalmente nos locais de trabalho) deveria ser dos responsáveis pelo estabelecimento, segundo Lourenço Ricardo, que é biólogo, especialista em vigilância de saúde ambiental e pública e coordenador da Vigilância Ambiental de Salvador (Visamb).

“Realizar periodicamente a limpeza de móveis, paredes, janelas e piso e deixar, pelo menos por um curto período, janelas e portas abertas durante as primeiras horas do dia são medidas que contribuem significativamente para a pureza e qualidade do ar”, explica Lourenço.

Refrigeração
Para o especialista, o sistema de refrigeração é o principal vilão dos ambientes internos. A falta de limpeza e higienização do ar-condicionado pode causar doenças, como infecção pulmonar e várias alergias. Realizar a limpeza, higienização e manutenção preventiva, além de proteger contra essas doenças, prolonga a vida útil do equipamento e reduz o consumo em até 40%.

“A falta de manutenção desse aparelho, tanto interna quanto externa, corresponde a 90% dos casos de contaminação nesses ambientes. Na parte externa, as fezes dos pombos podem entrar na tubulação e contaminar a ventilação do ambiente”, afirma.

De acordo com a veterinária Camila Araújo Wendler, o pombo tem ácaros (ectoparasitas), espécie de piolho, que podem desencadear reações alérgicas. Esses ectoparasitas podem invadir a casa e se multiplicar entre os familiares. “Além disso, ácaros provenientes de aves e ninhos podem causar dermatites em contato com a pele do homem”, completa Camila.

Quando chove na capital baiana, é comum ver as pessoas fecharem as janelas nos coletivos, praticamente lacrando a entrada de ar. Segundo Lourenço, essa atitude é de alto risco para contágio de micro-organismos.
“Além de não haver a renovação do ar, que já é um fator de risco, a troca de ar de um passageiro para outro, um espirro ou tosse, pode potencializar os efeitos dessas doenças”, afirma.

Por isso, recomenda o biólogo, é sempre importante deixar uma entrada de ar em qualquer ambiente interno. “O ar precisa ser filtrado (renovado) continuamente. A respiração libera gotículas de água, que podem conter patógenos (agentes biológicos capazes de causar doenças)”.

Síndrome
Se mais de 20% dos ocupantes de um edifício relatam sentir os mesmos sintomas, pode ser um caso da chamada “síndrome do edifício doente”. Conforme Lourenço, trata-se de um problema que surge de condições desfavoráveis das construções, como a má ventilação, limpeza interna inadequada e falta de manutenção dos equipamentos.
“Começou a ser relatado nos países desenvolvidos com climas frios, em 1970, que passaram a construir edificações mais seladas, objetivando a redução do consumo de energia e de ventilação natural e a maior eficiência de aparelhos de refrigeração e aquecimento. Entretanto, a blindagem das construções afetou a circulação e renovação do ar”.
Um caso extremo dessa síndrome aconteceu na Filadélfia, Estados Unidos, em 1976. Durante uma convenção da Legião Americana de Veteranos, que reuniu mais de quatro mil ex-soldados no Bellevue Stratford Hotel, os participantes começaram a adoecer misteriosamente, apresentando tosse, febre e dificuldade para respirar.
Quatro dias depois, um dos participantes da convenção morreu. Outras 28 pessoas morreram em seguida. A causa da doença misteriosa foi a presença da bactéria Legionella pneumophila no sistema de ventilação do edifício.

Sem poluição interna

Evite o uso dos aerossóis – A maioria desses produtos possui fragrâncias artificiais que contêm compostos orgânicos considerados tóxicos e perigosos, tanto para o meio ambiente quanto para a nossa saúde.
Deixe o ar de fora entrar durante um período – Abra portas e janelas para deixar o ar fresco entrar, de preferência pela manhã.

Decore o ambiente com plantas – As plantas são responsáveis pela filtragem do ar. Algumas espécies são mais eficazes na filtragem dos elementos poluentes, como a azaleia, a bromélia, o cacto e a begônia
Não fume em ambientes fechados – A fumaça do cigarro contém toxinas que causam irritações e alergias
Limpe o filtro do ar-condicionado a cada três meses – Além de aumentar a eficiência do aparelho, economiza energia. As informações são do A Tarde Uol