Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Camaçari, houve 41 casos de hanseníase no município em 2011. Este número inclui a cidade na lista das que se enquadram como prioritárias no tratamento desta doença.
Nomeada oficialmente com este termo desde 1976, a hanseníase é uma das doenças mais antigas na história da medicina. Conhecida popularmente como lepra, ela é causada pelo bacilo de Hansen, o Mycobacterium leprae: um parasita que ataca a pele e nervos periféricos, mas pode afetar outros órgãos como o fígado, os testículos e os olhos.
O Dr. Duplar, médico especialista em saúde coletiva de Camaçari, diz que a principal preocupação no tratamento da hanseníase refere-se à necessidade de um diagnóstico precoce. "Ele evitará sequelas nos nervos periféricos".
Com o avanço da doença, o número de manchas ou o tamanho das já existentes aumenta e os nervos ficam comprometidos, podendo causar deformações em regiões, como nariz e dedos, e impedir determinados movimentos, como abrir e fechar as mãos. Além disso, pode permitir que determinados acidentes ocorram em razão da falta de sensibilidade nessas regiões.
"Qualquer lesão ou mancha esbranquiçada ou avermelhada, com sinais de perda de sensibilidade, deve incentivar a pessoa a procurar imediatamente uma unidade de saúde da família", disse o médico.
Apesar da cura da doença ter sido descoberta há quase dois séculos – em 1873 – e de ter havido muitos avanços no tratamento – um fator contribui para o seu regresso: a desinformação.
De acordo com a responsável técnica pelo programa de tratamento da hanseníase em Camaçari, Ana Iara Carneiro, tem faltado nas pessoas informação referente à doença. "Se você pergunta o que é, tem gente que nem sabe do que se trata".
O período de incubação da doença varia entre três e cinco anos e sua primeira manifestação consiste no aparecimento de manchas dormentes, de cor avermelhada ou esbranquiçada, em qualquer região do corpo. Placas, caroços, inchaço, fraqueza muscular e dor nas articulações podem ser outros sintomas.
"Qualquer mancha deve ser avaliada", disse ela.
A hanseníase é mais prevalente em adultos; em crianças apresenta-se como extremamente grave.
O diagnóstico consiste, principalmente, na avaliação clínica: aplicação de testes de sensibilidade, força motora e palpação dos nervos dos braços, pernas e olhos. Exames laboratoriais, como biópsia, podem ser necessários.
A hanseníase é capaz de contaminar outras pessoas pelas vias respiratórias, caso o portador não esteja sendo tratado. Entretanto, segundo a Organização Mundial de Saúde, a maioria das pessoas é resistente ao bacilo e não a desenvolve. Aproximadamente 95% dos parasitas são eliminados na primeira dose do tratamento, já sendo incapaz de transmiti-los a outras pessoas. Este dura até aproximadamente um ano e o paciente pode ser completamente curado, desde que siga corretamente os cuidados necessários. Assim, buscar auxílio médico é a melhor forma de evitar a evolução da doença e a contaminação de outras pessoas.
O tratamento e distribuição de remédios são gratuitos e, ao contrário do que muitas pessoas podem pensar, em face do estigma que esta doença tem, não é necessário o isolamento do paciente. Aliás, a presença de amigos e familiares é fundamental para sua cura.
Durante este tempo, o hanseniano pode desenvolver suas atividades normais, sem restrições. Entretanto, reações adversas ao medicamento podem ocorrer e, nestes casos, é necessário buscar auxílio médico.
O Dr. Duplar disse ainda que as pessoas em tratamento devem tomar a medicação em todo o período, serem acompanhadas por uma equipe médica e examinadas mensalmente para ver se há sinais de incapacidade física.
Iara citou também que é 'hiperimportante' que o paciente não consuma bebida alcóolica durante o tratamento e que evite tomar sol – mas se isto for imprescindível, que seja utilizado filtro solar para que a pele não escureça. E 'faça o autoexame', concluiu a enfermeira.
O Brasil e a doença
Segundo a OMS, o Brasil é líder mundial em prevalência da hanseníase. Em 1991, foi assinado pelo governo brasileiro um termo de compromisso mundial, comprometendo-se a eliminá-la até 2010. Entretanto, a cada ano, há mais de quarenta mil novos casos tendo, entre eles, vários indivíduos em situação de deformidade irreversível.
Por Rafaela Pio.