Economia e Vida.

Esse é o tema da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2010, lançada em 17 de Fevereiro.

Tendo início no período da Quaresma, momento propício de reflexão sobre valores, ética e amor ao próximo, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC) aborda um assunto do qual se pode levantar várias questões.

A começar pelo consumismo exacerbado, em que a publicidade consegue fomentar no consumidor uma necessidade inexistente de determinado produto.

Seja ele um novo celular com uma câmera de alta resolução, uma TV de 110’ polegadas, um computador com cinco placas mãe, um cosmético que substitui uma cirurgia plástica em 24 horas, uma lingerie que disfarça qualquer deformidade da pele e por aí vai.

A desculpa é sempre a mesma: as novas tecnologias facilitam a vida de qualquer indivíduo.

Não faço nenhuma campanha contra o desenvolvimento tecnológico, mas é fato que o estilo de vida estabelecido por essa sociedade consumista põe uma grande maioria de fora.

Sabe-se que o poder de compra é concentrado nas mãos de poucos e quem não tem como comprar, em busca da sua inclusão no hall dos que muito consomem, se esforça ao máximo pra dividir o pagamento em 24, 48 ou 60 vezes, quando paga.

Há os que não aceitam a exclusão e tentam resolver o problema com a violência.

É alto o índice de violência no Brasil causado por jovens e adolescentes que roubam e matam por dinheiro, mochila, um par de tênis, um celular, ou seja, não medem as conseqüências e entram na vida do crime para sentir-se incluso.

Cenas do Filme Tropa de Elite retratam bem isso, histórias de garotos que, quando se “dão bem” no tráfico, o desejo é comprar “roupas de bacana”.

Influenciados pelo consumismo não se incomodam com a forma de como adquirir o bem almejado, querem também fazer parte dos que “podem”.

E, não se dão conta de que continuam compondo uma parte da sociedade que vivem à margem e, por isso, são considerados os marginalizados.

Aqui não é questionado aquilo que se adquiri através do trabalho e o que é adquirido através do crime, mas serve para ilustrar o quão uma economia onde a renda é concentrada nas mãos de poucos, pode levar a graves conseqüências e atingir a todas as classes sociais de um país.

Diante desse cenário real, são sábias as palavras do arcebispo primaz do Brasil, D.

Geraldo Majella, que afirma: “aqueles que são donos da economia mundial fazem tudo em torno do lucro, a qualquer preço, sem que seja levado em conta aqueles pobres, aqueles que não tem nem mesmo o necessário suficiente para a sua vida”.

O tema da Campanha da Fraternidade Ecumênica tem como lema: “ Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro”.

A frase do Evangelho de São Mateus que, segundo o secretário-geral do CONIC, o reverendo Luis Alberto “traduz a preocupação com uma economia a serviço da vida, que caminhe para uma sociedade sem exclusão”.

O tema também levanta a questão da necessidade de reformas políticas que inibam a corrupção de políticos, que eleitos pelo povo, utilizam o poder a fim de enriquecerem guardando dinheiro em bolsas, cuecas e meias, usando o dinheiro público em benefício próprio.

Os políticos, na sua grande maioria, ignoram as reais necessidades do povo, que entre elas estão: a reforma agrária- tema que ainda precisa ser muito discutido, uso irresponsável dos recursos naturais, desemprego, saúde, segurança pública e educação.

Como foi citado no início, o tema da CEF-2010 levanta várias questões, e uma que não se pode deixar de lado é a questão do dinheiro angariado dos fiéis pelas igrejas.

Sabe-se que muitas enriquecem e possuem incontáveis patrimônios através das doações dos fiéis.

Infelizmente muitos líderes transformam os cultos religiosos em barganha, pois trocam uma suposta salvação pela moeda.

Se o lema diz: ”Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro”, essas práticas de inúmeras igrejas também vão de encontro ao lema que é bastante pertinente aos tempos em que vivemos.