O Conselho Nacional de Saúde (CNS) solicitou que fosse suspensa as recomendações do Ministério da Saúde sobre o uso de um medicamento anti-malárico para tratamento de casos leves do novo coronavírus (Covid-19).

Por meio de um comunicado, emitido na sexta-feira (22), a entidade salientou que não existe eficácia comprovada da substância para prevenção ou tratamento da Covid-19. Na quinta-feira (21), o Ministério da Saúde informou uma nova versão do documento técnico, no qual orienta que médicos receitem a cloroquina, bem como a hidroxicloroquina para pacientes diagnosticados com o novo coronavírus, mesmo os casos considerados leves.

De acordo com o CNS, as orientações do Ministério da Saúde não se baseiam em evidências científicas, além de fazerem referência a estudos criticados pela comunidade científica.

Ademais, a entidade ainda pediu que o “governo federal desempenhe seu papel na defesa da ciência e a redução da dependência de equipamentos e insumos, construindo uma ampla e robusta produção nacional”, além de enviar um pedido ao Ministério Público Federal (MPF) para que o órgão fiscalizador atue em “defesa da sociedade brasileira”.

O pedido do CNS atua em consonância com as diretrizes de entidades médicas, a exemplo da Sociedade Brasileira de Infectologia, da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, que emitiram uma outra nota, em 18 de maio, contraindicando a cloroquina e a hidroxicloroquina (e outros remédios experimentais) em qualquer estágio do novo coronavírus.

Riscos

Segundo dados de uma pesquisa científica, que foi publicada na renomada revista “The Lancet” e realizada com 96 mil pacientes, a hidroxicloroquina e a cloroquina não apresentam benefícios no tratamento da Covid-19.

Os resultados do estudo apontam que, além de não efetuar melhora na recuperação dos infectados pela doença, as susbtâncias podem ocasionar um risco maior de morte e piora cardíaca durante a hospitalização do paciente contaminado pelo vírus.

Durante a pesquisa, o grupo de cientistas comparou os resultados de 1.868 pessoas que receberam apenas cloroquina, 3.016 que receberam só hidroxicloroquina, 3.783 que tomaram a combinação de cloroquina e macrólidos (uma classe de antibióticos), e mais 6.221 pacientes com hidroxicloroquina e macrólidos. O grupo controle, que serve para comparação e não fez uso dos medicamentos, é formado por 81.144 pacientes.

Ao final do período de testes, 1 a cada 11 pacientes do grupo controle havia evoluído para o óbito, o que corresponde a cerca de 7.530 pessoas (9,3%). Todos os quatro tipos de tratamento foram associados com um risco maior de morrer no hospital.

Um outro grupo de autores, responsáveis por um estudo francês que recomendava o uso de hirdoxicloroquina e azitromicina para o tratamento da Covid-19, voltou atrás e tirou o trabalho do ar. Eles, inclusive, pediram que a pesquisa não seja mais citada em outros trabalhos clínicos e acadêmicos. Liderados pelo médico Benjamin Davido, os pesquisadores foram os primeiros a recomendar a combinação de medicamentos aos internados pelo novo coronavírus.

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