As lágrimas de angústia já não convencem mais. Por 37 rodadas, o Fluminense se equilibrou perigosamente na linha de descenso do Campeonato Brasileiro. Uma longa sequência de jogos em que o Tricolor carioca tentou escapar da ameaça de degola, esforço até agora em vão. Os seguidos fracassos criaram uma situação totalmente desfavorável para o time de Dorival Junior. No domingo, a equipe das Laranjeiras vai até a Fonte Nova, para encarar o Bahia, rival que já não tem grandes ambições na Série A, mas que nos últimos anos se tornou o "fiel da balança" do Z-4. Uma espécie de carrasco que aguarda fielmente a ordem para executar a próxima vítima.
Desde que voltou para a elite do futebol nacional, em 2010, o Bahia selou o rebaixamento de duas equipes para a Série B do Campeonato Brasileiro. Em 2011, o Tricolor baiano encarou o Ceará na última rodada da competição nacional. O Alvinegro precisava desesperadamente de um triunfo, além de torcer contra rivais diretos – situação semelhante à do Fluminense na atual edição do Brasileirão. Impiedoso, o Bahia não se comoveu com a situação do rival e venceu o jogo no estádio de Pituaçu por 2 a 1, resultado que rebaixou o Vozão.
No estádio, a torcida do Esquadrão fazia a festa e provocava os jogadores do Ceará. A massa azul, vermelha e branca entoava o grito “Ão, ão, ão! Segunda Divisão”, afronta que o torcedor do Fluminense certamente não quer ouvir no próximo domingo. No ano de retorno à Série A, o time baiano mostrava uma vocação para algoz até então desconhecida, mas que se repetiria na temporada seguinte.
Em 2012, o Bahia teve o Atlético-GO pela frente na última rodada do Brasileirão. Desta vez, o adversário já estava rebaixado, mas o Tricolor, mesmo fora de casa, colocou o último prego no caixão ao vencer o Dragão . O grito do torcedor tricolor não se fez ouvir no Serra Dourada, mas em Salvador, contudo, ele rugia como um ensurdecedor trovão. Tricolores dos quatro cantos da capital baiana comemoravam a permanência do time na Série A e a recém-adquirida fama de carrasco, que este ano pode se efetivar de vez como uma marca, dessas que demoram para se apagar.
Neste domingo, o time de Cristóvão Borges terá a chance de manter a fama de algoz impiedoso. O treinador já reuniu o elenco e pediu seriedade para o jogo contra o Fluminense. O time baiano sabe do desespero do adversário, mas não se importa. Tem seus próprios planos para a competição. Terminar a Série A na parte de cima da tabela de classificação pela primeira vez na era dos pontos corridos virou uma meta. Não vale título, mas funciona como motivação para o 'carrasco' do Brasileirão.
– É o que esperamos e planejamos. Até porque, quando entramos em campo, não entramos para perder ou empatar. Entramos com toda a seriedade, porque nosso nome está em jogo. Então temos que ir sempre pensando em fazer o nosso melhor. Mesmo não fazendo um bom campeonato, podemos chegar em nono lugar, melhor colocação do clube nos pontos corridos. Então tenho certeza de que o grupo está totalmente focado, totalmente determinado a fazer um grande jogo no domingo, uma grande festa com o torcedor, para que possamos conseguir uma vitória e a nona colocação, uma classificação na parte de cima da tabela – assegurou o zagueiro Demerson, que não pretende perdoar os pecados do Fluminense no jogo da Fonte Nova.
O técnico Cristóvão Borges garante que o Bahia encara o Fluminense com força total. O treinador até fechou os treinos marcados para os dias que precedem a partida. O machado do Tricolor baiano se aproxima do pescoço do Fluminense, que pode começar a próxima semana degolado.
– Nós vamos com o melhor que temos, para fazer uma grande festa e encerrar o campeonato de forma bonita, porque os jogadores e a torcida merecem isso – diz o treinador baiano, que não cansa de repetir que a torcida do Bahia merece respeito e está à espera de um triunfo no domingo. Até a noite da última terça-feira, mais de 18 mil ingressos haviam sido vendidos para o confronto.
De olho no passado
Não é a primeira vez que Bahia e Fluminense ganham ares de protagonistas na fuga do rebaixamento numa edição do Campeonato Brasileiro. Em 1996, o time baiano não encarou o Tricolor das Laranjeiras na última rodada da Série A, mas acabou se livrando e vendo o rival despencar para a Segunda Divisão.
Na ocasião, as duas equipes lutavam para escapar da zona de degola. Com 20 pontos, o Esquadrão de Aço era o primeiro time fora da área de corte. Um ponto atrás, na penúltima colocação da tabela de classificação, o Tricolor das Laranjeiras via o perigo da queda de muito perto – o Brasileirão era disputado por 24 clubes, e apenas os dois últimos eram rebaixados.
Para escapar, o Fluminense enfrentava o Vitória na última rodada. O jogo estava inicialmente programado para o Barradão. No entanto, o Rubro-Negro baiano transferiu o confronto para Cariacica, no Espírito Santo. A mudança foi vista com desconfiança pela torcida do Bahia. Especulações sobre a facilitação da partida para rebaixar o rival vieram à tona, e o Tricolor das Laranjeiras aproveitou. Tupãzinho, Paulo Roberto e Leonardo marcaram para a equipe carioca, que venceu por 3 a 1, resultado que poderia livrar o time do rebaixamento em caso de derrota do Bahia.
O Bahia, entretanto, não perdeu. O time baiano encarou o Flamengo em São Januário e, pela segunda vez na história do competição, bateu o Rubro-Negro carioca fora de casa. O placar de 1 a 0, gol de Edmundo, salvou o Tricolor da Boa Terra da queda. Para deixar a torcida pó de arroz com uma pulga atrás da orelha, dois jogadores do Flamengo foram expulsos e Romário perdeu um pênalti no confronto, que efetivou o primeiro dos dois rebaixamentos do Fluminense para a Série B.
As informações são do G1.