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Só este ano, o antigo paraíso de veranistas já soma 28 homicídios. Foto: Divulgação

O medo vem tomando conta da população da Ilha de Itaparica, Região Metropolitana de Salvador (RMS). O local que antes era sinônimo de calmaria, hoje é território de uma disputa de tráfico por três facções diferentes. Entre as ocorrências mais comuns estão execuções, roubos e ameaças em uma região formada pelos municípios de Vera Cruz — que registra 20 homicídios este ano — e Itaparica, com um saldo de oito, totalizando 28 assassinatos.

Em Vera Cruz, o território é comandado atualmente por Sulemir Lima Estrela, o Mica, que pertence à facção Caveira, porém Adilson Santana Silva, que é dono de bocas de fumo em Itaparica e é ligado ao Bonde do Maluco (BDM), quer tomar o seu posto. Já Billy, da Katiara, atua na região da praia de Tairu, em Vera Cruz, aproveita as as falhas das duas facções para ampliar seu domínio.

 O caso mais recente registrado na região foi a morte de Felipe da Silva Santana Luzia, 21, no último domingo (24). De acordo com a polícia, o jovem era soldado de Mica e foi morto em troca de tiros contra os PMs. Mas a disputa pelo tráfico entre Caveira e BDM, resultou na morte dos irmãos Joelson Silva dos Santos, 19, e Caíque de Jesus Silva, 14, no dia 14 de maio, em Vera Cruz, localidade cobiçada por Adilson, apontado como o mandante das execuções.

Adílson: moradores expulsos

Um dos líderes do BDM, Adilson comanda o tráfico na Gameleira, Bom Despacho e as Urbis de Baixo e de Cima, porém ele vive no barro de Marcelino, localizado numa região de morros, atrás do mercado Bompreço de Itaparica. “O local é bem vigiado. Quando a gente passa, já tem olheiros avisando”, disse um agente do Serviço de Investigação da 19ª Delegacia (Itaparica). Segundo ele, a segurança é feita por homens armados até de metralhadoras. “Eles têm armas de grosso calibre e de longa distância”, continuou.

Adilson. Foto: Divulgação
Adilson. Foto: Divulgação

Nascido em Juerana, Vera Cruz, Adilson fez carreira no crime. Quando novo, vendia drogas na beira da estrada. Aos 14 anos, já participava de bondes – quando o grupo saía para fazer um ataque –, em um ano se tornou um dos líderes. “Quando o chefe do bando foi morto por uma quadrilha, ele tinha 18 anos e tornou-se o patrão do Marcelino”, contou o agente.

O delegado Lúcio Ubirecê, da 19ª Delegacia, explica que as armas usadas pela quadrilha de Adilson vêm de Salvador. “A facção deles é abastecida por criminosos da Liberdade e São Caetano, por exemplo”. Além disso, o grupo também usa armas artesanais, oriundas de Feira de Santana. Em uma das imagens divulgadas pela polícia, o traficante aparece com uma submetralhadora improvisada. “Quem mais sofre com tudo isso é a comunidade. Algumas pessoas são expulsas e suas casas transformadas em ponto de venda de droga”, afirma o delegado.

Mica: R$ 5 mil para olheiros
Extremamente perigoso, Mica é um dos mais temidos em Vera Cruz. “É frio e calculista. Conversando, ninguém dá nada por ele. Mas, para mandar matar, é daqui pra ali”, disse o delegado Geovane Paranhos, titular da 24ª Delegacia (Vera Cruz), que já prendeu Mica, há quase um ano. “Saiu com autorização da Justiça”, lamentou. Segundo ele, Mica tem “uns 20 homens de confiança, sem falar nos outros, do baixo escalão, e olheiros”. Ao traficante, são atribuídos mais de 20 homicídios.

Mica. Foto: Divulgação
Mica. Foto: Divulgação

Mica comanda o tráfico na localidade do Alto do Riachinho, em Mar Grande e segundo o delegado Paranhos, Mica, atualmente do BDM, e Adilson já foram parceiros. Os dois faziam parte da mesma facção, Caveira, que criou a BDM para ser uma extensão, mas se desvinculou há um ano.

Ainda conforme o delegado, o fluxo de drogas na região é intenso. “Apreendi um garoto de 15 anos que disse que recebia R$ 50 por dia, R$ 10 de almoço e folgava no domingo. Trabalhava das 7h às 19h, ele e mais sete. Das 19h até 7h era outro grupo. Só com olheiros, Mica tem um custo mensal de uns R$ 5 mil”, relatou.

Billy: por fora

Billy atua na região de Tairu, área da 24ª Delegacia, em Vera Cruz. “Aquela região anteriormente tinha um tráfico independente, mas a Katiara vem se espalhando pelo Recôncavo e regiões vizinhas, como Tairu. E vem a cada dia aumentando o número de homicídios. Temos o nome dele associado a várias execuções na localidade”, conta o delegado Paranhos.

Billy. Foto: Divulgação
Billy. Foto: Divulgação

O que se sabe sobre o traficante é que, ele está aproveitando a guerra entre os seus rivais para ganhar espaço. “Enquanto se matam, ele está se espalhando. Soubemos que Caixa Prego também já é domínio dele”, relatou um policial da 24ª Delegacia. O grupo comandado por Billy é predominantemente de adolescente. “São jovens muito pobres e que têm o mesmo desejo de outros garotos da idade: ter um bom tênis, por exemplo, e acabam aliciados por Billy”, informou o agente.

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