O discurso da nova comissão técnica da seleção brasileira, de prioridade ao conjunto e não a individualidades, tem um alvo: David Luiz. O jornal Folha de São Paulo apurou que os "recados" contrários ao marketing pessoal feitos pelo novo técnico Dunga e pelo coordenador de seleções Gilmar Rinaldi não são dirigidos a Neymar, mas sim ao zagueiro mais caro da história do futebol.
Contratado por € 49,5 milhões (R$ 148 milhões) pelo Paris Saint-Germain antes do Mundial, o ex-defensor do Chelsea corre risco de ficar fora da convocação para os jogos contra Colômbia (dia 5 de setembro) e Equador (dia 9), nos Estados Unidos.
Se for chamado, terá que se enquadrar à filosofia "um por todos e todos por um". Entre o título da Copa das Confederações (em junho de 2013) e a Copa, David Luiz se transformou no mais carismático jogador da seleção.
O cabelo caricato e o jeito "gente boa", de quem não se nega a dar autógrafo ou entrevista, fizeram-no ser adorado especialmente pelas crianças. Suas expressões faciais a cada treino ou jogo também se tornaram populares.
Depois de Neymar e do ex-técnico Luiz Felipe Scolari, foi o que mais estrelou comerciais. Só que Gilmar e Dunga não querem o grupo personificado em um ou dois atletas. Neymar, considerado craque, será o principal nome da seleção ao menos até a Copa da Rússia, em 2018.
Mas o protagonismo de David Luiz se mostrou prejudicial, na análise da comissão técnica e diretoria da CBF, fora e dentro de campo. Fora porque tirou a noção de coletividade, transformando o grupo em uma equipe de somente dois jogadores.
Dentro de campo, são dois exemplos. Na semifinal contra a Alemanha, não agradou à nova comissão o fato de David Luiz, capitão naquele jogo com a suspensão de Thiago Silva, ter entrado em campo com uma camisa 10, a de Neymar, já cortado por contusão na coluna, que foi exibida na execução do hino.
Gilmar criticou o fato de o grupo ter exaltado a ausência de Neymar, e não dado força ao substituto Bernard. Contra a Holanda, pelo terceiro lugar, a crítica foi de que David Luiz quis resolver sozinho. Mandou-se para o ataque e foi o pior em campo, na avaliação do novo comando.
NOVA DEFESA
A insatisfação com o defensor ficou evidenciada na entrevista que Dunga deu à TV Globo no domingo (27). Uma criança, convidada pelo "Fantástico", perguntou se Dunga o convocaria, e o técnico desconversou. Mas citou o marketing pessoal. "O jogador tem que jogar por eficiência, não porque vende uma imagem", disse Dunga.
A renovação da seleção começará pelo setor defensivo, por orientação do coordenador das categorias de base da CBF, Alexandre Gallo.
Hoje, a dupla de zaga ideal para a Olimpíada de 2016, no Rio, seria Marquinhos, do PSG, e Dória, do Botafogo. Os dois devem aparecer na primeira lista de convocados.
Capitão na última Copa, Thiago Silva faz parte dos planos de Dunga–terá 33 anos na Rússia-2018. David Luiz é dois anos mais novo que o companheiro na seleção e agora no time francês.
O problema é o plano de renovação que a CBF pretende colocar em prática já a partir da próxima convocação. Talvez não haja espaço para dois futuros trintões na zaga. E pode sobrar para David Luiz.
Fonte: Folha de São Paulo