O Telecoronavírus, projeto voluntário criado através de uma parceria da Fiocruz, UFBA e SESAB, teve como objetivo organizar uma central de saúde, via web-telefônica, para triar casos suspeitos de infecção pelo COVID-19. O objetivo era reduzir o deslocamento desnecessário de pessoas para os serviços de saúde, diminuindo assim o risco da transmissão viral e favorecendo o achatamento da curva da epidemia. Para fazer acontecer, a Fiocruz contou com a colaboração de diversas universidades e faculdades públicas e privadas: UFBA, UNEB, Escola Bahiana de Medicina, FTC, UESB, UESC, UEFS, UNIFACS, UFRB, UFSB, UNIME e também com a colaboração voluntária de alunos do quinto e sexto ano de medicina e médicos de diversos locais da Bahia.
Ao todo, foram mais de 1.200 alunos prestando atendimento às pessoas que entravam em contato através da central de chamadas “155”. O Funcionamento era diário, das 7:00-19:00 de domingo a domingo e mais de 100 médicos (entre especialistas, professores e residentes) e outros profissionais colaboradores atuaram na orientação desses alunos e na coordenação do Projeto.
O atendimento era baseado em um fluxograma que era frequentemente atualizado de acordo com as orientações do Ministério da Saúde e da SESAB e o objetivo final do fluxograma, durante a teleorientação, era definir se os sintomas relatados pelo paciente, associados à presença ou não de sinais de alerta ou agravantes, justificavam uma avaliação médica presencial ou se o paciente poderia ficar em casa, em isolamento social e vigilância.
O trabalho foi árduo, principalmente em sua organização inicial com a convocação e capacitação dos médicos e alunos. O Telecoronavirus contou também com auxílio de outros profissionais que ajudaram com a divulgação, análise estatística, criação de plataforma eletrônica e aplicativo utilizado para a teleorientação. Tudo foi pensado e organizado com muita dedicação: montagem de fluxograma, vídeos de orientação e treinamento dos alunos.
Do primeiro ao último dia de atendimento (24 de março a 31 de julho) pelo “155”, foram contabilizadas 111.795 teleorientações.
Os alunos de medicina tiveram um papel fundamental no serviço. Inicialmente impossibilitados de manter suas atividades práticas acadêmicas por conta da pandemia, tiveram no Projeto a oportunidade de vivenciar de forma única e segura esse momento crítico no mundo. Aprenderam através dos atendimentos, ajudaram milhares de pacientes que ligavam solicitando ajuda, e ensinaram muito a nós médicos e professores que, através de suas dúvidas e demandas, íamos em busca das informações e do novo conhecimento para assim finalizar a ligação com a sensação de missão cumprida. O aluno fez o elo entre as escolas médicas da Bahia e soube associar o voluntariado, a assistência e o ensino durante sua atuação.
A minha função principal no “Telecorona” foi convocar médicos para participarem do Projeto. Nessa experiência pude ver de perto algo que em mim já estava meio descrente: Sim! A solidariedade, o amor anônimo e gratuito pelo próximo e a pró-atividade em busca de um bem comum ainda estão presentes e pulsam forte! Foram mais de 04 meses confirmando isso dia após dia. De início pensei: “como conseguirei convencer um médico, com a vida corrida que leva, a participar de um projeto não remunerado, que ocupará pelo menos um turno da sua semana?”. Mas eles me deram a resposta e ela foi simples: basta convidar. A cada ligação que fazia, a cada e-mail que enviava, a cada mensagem que escrevia, recebia sempre (sempre!) um “pode contar comigo”. E dentro das possibilidades de cada um íamos montando as escalas de plantão, íamos conseguindo as substituições, fazendo o Projeto permanecer vivo, ativo e fundamental para a população e para o governo que atuava em muitas programações públicas baseado nas informações que o Projeto fornecia.
Agradeço a todos os voluntários, alunos, médicos e equipe que tornaram possível a realização desse serviço diário. Agradeço aos criadores desse lindo Projeto, que permanecerá vivo, pois suas informações servirão agora para construção de estudos e linhas de pesquisa para a sociedade.