Quem vê Celso Portiolli hoje à frente do “Domingo Legal” nem imagina tudo o que ele passou para chegar onde está – e completar 17 anos de SBT.

O apresentador iniciou sua carreira como telefonista de rádio, em 1984.

Durante os dez anos que se passaram desde sua estreia profissional até seu ingresso na emissora de Silvio Santos, Celso estudou Engenharia Civil e Jornalismo, trabalhou em rádios de Uberaba, Curitiba, Ribeirão Preto, São Paulo e Ponta Porã; passou fome, dormiu em um dos estúdios onde atuava, encarou horas de ônibus na estrada semanalmente, largou tudo para cuidar do pai no final da vida, encontrou um grande amigo, colocou metas em sua vida e sonhou.

Sonhou grande.

“Quando eu estava com 17 anos, em Uberaba, fiz um plano.

Até os 21 anos eu estaria trabalhando em uma rádio em São Paulo”, disse.

Quando o Silvio me viu, fez aquelas perguntas: ‘que você faz? Que fez? Trabalhou em qual rádio? Quanto você ganha?’ Eu ganhava uns R$ 2 mil por mês.

Ele falou: ‘não, televisão paga mal, te pago R$ 500’.

Eu estiquei a mão e disse: ‘negócio fechado’”.

Seu grande projeto era ser apresentador, embora sua primeira experiência no ramo não tenha sido por vontade própria.

A rádio em que ele trabalhava em Curitiba também tinha um canal de televisão e, com seu sucesso como locutor, o convidaram para apresentar um dos programas na telinha.

“Eu briguei que não queria fazer.

Tinha medo, vergonha.

Me ameaçaram de demissão, aí eu fui, e sem saber o que fazer, fazia de qualquer jeito”, conta o apresentador.

Já no SBT, começou como roteirista do programa “Topa Tudo Por Dinheiro”.

Pediu uma chance para Silvio Santos e conquistou a vaga para substituir Angelica no “Passa ou Repassa”.

Depois vieram o “Xaveco”, “Tempo de Alegria”, “Sessão Premiada”, “Namoro na TV”, e tantos outros programas.

Hoje recebe o carinho e reconhecimento dos fãs.

Celso corresponde a esse calor do público: no palco, em um dos intervalos de sua atração, faz questão de fotografar ao lado de cada uma das cerca de 150 pessoas da plateia de cada “Domingo Legal”.

– Sua trajetória no SBT já é de 17 anos, enquanto o “Domingo Legal” vai completar 18.

Quando você entrou na emissora, imaginava chegar onde está?
Celso Portiolli: Eu fiz programas tão bons quanto o “Domingo Legal”.

Mas o que eu nunca imaginei foi o Gugu (Liberato) sair do SBT.

Apresentar o “Domingo Legal” nunca passou por minha cabeça.

De repente, quando menos eu esperava, aconteceu.

Eu já ia sair do SBT, estava com planos de mudar de emissora.

Tanto é que, quando Silvio me convidou para fazer, eu não aceitei.

Falei: “Não quero fazer, estou desgostoso, quero ir embora”.

Aí ele falou pra eu ficar e foi a melhor coisa que aconteceu.

Não sei se é minha personalidade, meu jeito de fazer, mas eu não tenho medo de apresentar programa de ninguém.

Mas nunca vi ninguém pegar programa meu (risos).

– Você até ficou com uma fama de “substituto” do SBT por isso.

.

.

Celso Portiolli: É, foi isso.

Mas o “Curtindo uma Viagem”, que foi meu maior sucesso, foi uma criação minha e do Silvio.

E era meu.

Era um programa que eu dirigia, editava, produzia, fazia até câmera nas externas para você ter uma ideia.

– Mas essa fama de substituto, nunca te incomodou?
Celso Portiolli: Nãaaao.

O povo comenta.

Pode comentar, mas desde que assistam (risos).

– Você comentou que antes de apresentar o “Domingo Legal”, deixaria o SBT e, atualmente, existe um boato que você recebeu um convite para ir para a Band.

O convite aconteceu mesmo? O que te tiraria do SBT?
Celso Portiolli: O marasmo.

Falta de investimento do programa.

Acho que isso me tiraria do SBT.

Ainda colocaram na mídia que eu estava infeliz com a minha produção.

A minha melhor fase é agora.

Estou junto com o Magrão (diretor de seu programa), participo da reunião de pauta, dou sugestão.

O programa é sucesso de faturamento.

 – Mas houve mesmo o convite?
Celso Portiolli: Oficialmente não teve nenhum convite.

Quando sai essas coisas na mídia o Silvio fica tranquilo.

Porque nesses 17 anos eu nunca fiz leilão.

Quando tenho proposta eu falo pra ele; e quando não tenho, também falo.

Emissora não compra seu talento, compra seu sucesso.

Na linha de apresentadores, posso não ser o melhor, mas também não sou o pior.

Por enquanto estou feliz no SBT.

Meu contrato vence em novembro, então não sei o que vai acontecer.

– Te preocupa, de repente, o Silvio diminuir seu salário, como já fez com alguns apresentadores?
Celso Portiolli: Silvio já diminuiu meu salário quatro vezes.

Se ele diminuir mais um pouquinho, vou ter que pagar para trabalhar.

(risos)

– Você disse que, quando queria trocar de emissora, era sem nenhuma proposta.

Você faria o mesmo que na época de rádio: largaria tudo em busca de um novo sonho?
Celso Portiolli: Eu me preparei.

Gravei três pilotos de programa, eu tinha ideias.

Falei para o Silvio: “Não se preocupa comigo.

Eu vou embora, não vou passar necessidade, porque eu me preparei profissionalmente para isso.

E pode ter certeza: enquanto eu tiver voz, tiver gogó, fome eu não passo”.

Ele sabe da minha vontade.

Quando tem desafio, viro um gigante.

Dentro de mim tinha uma vontade muito grande de vencer, e ainda tem.

Eu acho que minha carreira nem começou.

Para meus amigos íntimos eu sempre falava que quem analisar as coincidências, pode prever o futuro.

Quando eu vim para São Paulo, receber o dinheiro do Silvio, fui dormir na casa da minha irmã.

Liguei a televisão e estava passando “Em Nome do Amor”.

E ele falou o seguinte ditado: “Coincidências são pequenos milagres onde Deus prefere não aparecer”.

Minha vinda para o SBT foi pautada por uma coincidência atrás da outra.

Foram tantas, que quando consegui o emprego de redator, fui para uma pizzaria comemorar, com meu amigo Joaquim, que um dia eu seria apresentador do SBT.

– Você comemorou antes?
Celso Portiolli: Comemorei.

Porque falei, ‘não é possível tanta coincidência pra não acontecer nada’.

Tem muitos apresentadores no SBT, mas que têm a minha história com o Silvio Santos, pode esquecer.

  É muito forte.

E eu sou um funcionário exemplar.

Não reclamo com o patrão, chego no horário, faço o meu, não peço aumento, sou um cara muito tranquilo, um funcionário dedicado.

– Seu primeiro programa foi o “Topa Tudo por Dinheiro”.

Você topa tudo por dinheiro?
Celso Portiolli: Não topo tudo por dinheiro, não (risos).

Tem que ter ética, caráter.

– Você falou uma vez que ganhou muito dinheiro no “Sessão Premiada”.

Que sonho material conquistou nesse momento?
Celso Portiolli: Ai, não sei, acho que todo mundo que ganha um pouco de dinheiro, parece que tem uma cartilha.

Primeira coisa é você ter sua casa, depois você quer uma casa na praia, quer ter um carro muito bom.

Parece que é tudo muito parecido.

Hoje eu não ligo para carro, mas já tive vontade de ter carros maravilhosos.

Tem coisa que vai perdendo o valor.

O grande sonho da minha vida era ter uma emissora de rádio.

Em uma época eu perdi esse sonho.

Mas depois que vi meu filho fazendo imitações, sempre com rádio ligado, pensei: “Pô, esse cara parece comigo, parece que vai se interessar por rádio”.

Aí me deu vontade de voltar para o rádio.

Voltei, comprei uma rádio.

Chega uma hora que não faz diferença dinheiro.

E digo o que sei: não é o dinheiro que traz felicidade, agora a falta dele, traz uma infelicidade complicada (risos).

 – Você é o caçula de doze irmãos.

Quando era mais jovem, passou por alguma necessidade por falta de dinheiro?
Celso Portiolli: Vixe Maria, nossa! Meu pai foi um vencedor.

Ele foi balconista de farmácia, depois comprou a farmácia, quebrou duas vezes e não tinha dinheiro nem pra comprar o cigarro, imagine comida.

.

.

No final da vida, quando estava bem e tinha uma fazenda, falou: “É, filho, eu sou um herói.

Criei doze filhos, então agora vou acabar de arrumar a vida de todos e depois aproveitar”.

Dali um tempo, morreu.

Então eu sempre falo: ‘vou trabalhar até achar que tenho que curtir a vida.

– E na época que já estava trabalhando, longe de seu pai, passou por alguma dificuldade?
Celso Portiolli: Passei, mas fiquei na minha.

Eu pesava 60 quilos, pô.

Eu não comia direito, comia lanche, me alimentava mal, não dormia, morava a 11 quilômetros da rádio, gastava todo meu dinheiro com táxi, porque não tinha ônibus.

Mas depois melhorou, vim para São Paulo e a vida ficou mais tranquila.

– Aos 24 anos, você foi vereador.

Pensa em retornar para a política algum dia?
Celso Portiolli: Ih, esse negócio de política fica dentro da gente.

Mas não quero não.

Por enquanto, não quero não.

– Pode contar um mico que pagou ao vivo, um inesquecível?

Celso Portiolli: (Nessa hora, o diretor Magrão entrega: O tombo foi ao vivo!) Ai, é verdade.

.

.

Fui chutar a bola ao vivo na grama sintética e levei um capote feio.

Minha mão está melhorando agora, depois de três meses.

Esse virou hit.

Fiquei no chão dando risada.

Magrão: outro mico também foi quando ele dançou com uma cachorra.

Era uma cachorra ensinada que veio do Chile, ela dançava merengue e o Celso começou a dançar com ela.

A cachorra começou a ir para o chão, ele foi também.

A cachorra virava, ele virava.

Foi engraçado porque foi espontâneo.

– Tem algum arrependimento?

Celso Portiolli: Arrependimento? Ai ai ai.

Eu me arrependo de não ter ficado mais tempo ao lado do meu pai.

Como hoje, que quero ficar mais tempo ao lado da minha mãe, mas não dá.

A vida às vezes não permite.

E a “veinha” também é teimosa, não permite também (risos).

Na televisão, acho que me arrependo de alguma atitudes ou posicionamentos que fiz há tempos atrás.

Talvez por falta de experiência.

Você vai ficando mais maduro, olha pra trás e pensa “que besteira”.

É inconsequência da idade.

– Quem é Celso Portiolli, por Celso Portiolli?

Celso Portiolli: Acho que na verdade eu sou um pai de família, apaixonado pela minha família, faço tudo pelo meus filhos.

Um cara muito dedicado à profissão, que não tem preguiça de trabalhar, que valoriza os colegas de trabalho.

Acho que o sucesso não é de ninguém sozinho.

Então sou um cara que respeito os outros, batalhador, sonhador, que sempre tem objetivos em mente para não deixar a vida perder a graça.

*Fonte: IG