Durante mais de uma hora, o deputado federal e pastor Marco Feliciano (PSC-SP), acusado de ter posições racistas e homofóbicas, palestrou ontem para centenas de pessoas em uma igreja batista na Ribeira. O deputado veio a Salvador um dia depois de a cantora Daniela Mercury assumir o namoro com a jornalista Malu Verçosa e criticar no twitter a postura do deputado. Na frente da Igreja Batista Avivamento Profético, na rua Domingos Rabelo, manifestantes do Grupo Gay da Bahia (GGB) e da Associação de Travestis de Salvador (Atras) protestaram contra a vinda de Feliciano à Bahia.

“Nosso movimento não é contra os evangélicos, mas contra o que Marco Feliciano representa. Ele é homofóbico e racista. A sociedade está com um mal-estar enorme com a presença dele”, disse o presidente do GGB, Marcelo Cerqueira. Os militantes levaram cartazes com a provocação “Feliciano não me representa”.

“Soubemos da chegada dele através de uma travesti que o viu no aeroporto. Não vamos aceitar. Se ele botar o pé da Bahia, ele não sai. O cara que disse que negro é uma maldição não bota o pé aqui”, ameaçou Vida Bruno, integrante do GGB, pouco antes de o deputado chegar ao local. Em resposta aos militantes da causa gay, evangélicos levaram cartazes defendendo o político: “Pastor Marcos o Senhor é contigo nessa batalha”.

Na porta da igreja, manifestantes contrários a Feliciano encontram defensores do pastor que levaram bíblia

A disputa estava montada: de um lado, Cerqueira, Bruno e Millena Passos, presidente da Atras, incitavam os opositores de Feliciano. Do outro, o deputado estadual sargento pastor Isidório (PSB) comandava os evangélicos, que cantaram músicas gospel para abafar os gritos de protesto: “Jesus Cristo salva, cura e batiza. Isso é que é vida. Carregando a cruz”. Para provocar, Bruno respondia: “a nossa cruz é Feliciano”.

Isidório reafirmou a posição da Igreja Batista em relação aos homossexuais. “Ninguém pode ser forçado a ser gay. Se a bíblia diz que o homem e a mulher foram os sexos abençoados, qualquer outro é amaldiçoado. Quem diz isso é a bíblia, o papa e os pastores. Eu fui homossexual e sei o que estou dizendo. Tenho 18 anos de recuperado e tenho amigos se recuperando em clínicas”, contou o deputado baiano.

Três viaturas da 17ª Companhia Independente de Polícia Militar (Uruguai) foram ao local para controlar o tumulto, mas não houve agressão física. Feliciano chegou ao culto, marcado para as 17h, às 20h40 e entrou pela porta lateral para evitar o encontro com os militantes. O deputado não falou com a imprensa. “Agradeço pelo calor humano que recebi ao chegar na igreja”, palestrou Feliciano, no 20º Congresso do Poder do Impacto do Espírito Santo.

Durante o culto, ele disse que sofreu preconceito por sua origem humilde e pelo cuidado com o cabelo. Indiferente às acusações que tem recebido, Feliciano pautou a pregação. Anteontem, o pastor determinou que as sessões da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, da qual é presidente, sejam fechadas para o público. O deputado volta hoje para Brasília. O GGB informou que fará protesto contra Feliciano no domingo, no Porto da Barra. Fonte: Correio