Eduardo se acidentou em Cipó, mas veio para Salvador

Quando amanhece em Salvador, o motorista José Gil da Silva está encerrando a primeira parte do seu trabalho. Há dois anos, ele transporta pacientes vindos do interior do estado para fazer tratamento na capital. São pessoas com câncer, dores no estômago, problemas ginecológicos, cardíacos, auditivos, ou apenas precisando fazer alguns exames de laboratório.

Se a proporção de 1,25 médico para cada mil pacientes na Bahia já é muito aquém do necessário (o estado é o 18º no ranking quantidade de médicos, segundo estudo do Conselho Federal de Medicina), se for considerado apenas o interior do estado, a situação é ainda pior: 60% dos profissionais baianos estão concentrados em Salvador, o que resulta numa média de 0,6 médico para cada mil habitantes no interior do estado.

“A gente deixa o pessoal bem cedo nas clínicas ou hospitais públicos de Salvador. Mais tarde, os pacientes ligam e faço a panha. Normalmente às 17h pego a estrada de volta. Quando o tratamento requer mais tempo, o paciente fica na casa de parentes”, descreve o motorista José Gil, que trabalha para a prefeitura de Itapicuru, no Nordeste da Bahia, mas pelo caminho vai pegando também os pacientes de Banzaê, Ribeira do Pombal, Crisópolis e Rio Real.

Entre essas pessoas está a lavradora Josefa Mendes de Jesus. De três em três meses, ela vem a Salvador com a filha Jamile, 15 anos, que tem anemia falciforme. Desde 2008, mãe e filha vêm de Crisópolis para Salvador para a menina fazer o tratamento no Hemoba.

“Aqui em Salvador ela é acompanhada pelo mesmo médico há cinco anos. Quando ela sente dores fortes no corpo, levo para o hospital de lá (Crisópolis) que dá uma medicação na veia, mas isso é só para passar a dor. Todo o tratamento é feito aqui. Lá tem médico clínico para fazer tudo. Mas o ortopedista e o psiquiatra só vão lá uma vez por mês”, queixa-se a mãe. Fonte: Correio