Mas não é qualquer risada não, e sim, uma boa gargalhada. Segundo a pesquisa, ela pode reduzir a sensação de dor em até 10%, graças à liberação de endorfina no organismo. Com isso, além de criar um estado leve de euforia, essa substância química também amenizaria a sensação de dor.

Durante o levantamento de dados, os cientistas analisaram primeiro os limiares de dor dos voluntários. Quanto mais alto o limiar, menor é a sensação de dor que a pessoa sente. Em seguida, os indivíduos foram divididos em dois grupos: aqueles que assistiram a 15 minutos de vídeos de comédias e aqueles que viram um material considerado chato, como programas de golfe.

Descobriu-se, então, que os voluntários que haviam gargalhado eram capazes de suportar até 10% a mais de dor, sempre em relação ao estado de antes de rirem. Para surpresa dos cientistas, o grupo que assistiu aos programas considerados chatos se mostrou menos capaz de aguentar a dor após verem o conteúdo. O tipo de riso, no entanto, fez diferença no limiar de dor. Sorrisos discretos e risadas não provocaram quaisquer efeitos fisiológicos, apenas as gargalhadas. Além disso, comédias do tipo pastelão pareceram atingir os efeitos mais notáveis.

Gargalhada que se aprende
Não à toa, gargalhar ao redor do mundo já virou terapia conhecida como Ioga do Riso, ou risoterapia. Internacionalmente conhecida, a técnica de gargalhar para superar a dor nasceu 1995 pelas mãos do médico indiano Madan Kataria. E apesar de ainda nova no Brasil, já tem escola e professores por aqui.

Defensoras da gargalhada com analgésico para dores físicas e emocionais, as sócio-fundadoras do Clube da Gargalhada do Brasil – primeiro do gênero na América do Sul – comprovam na prática o que o estudo inglês apresentou. A Dra. Úrsula L. Kirchner, Ph.D. Médica-Dentista, doutora em odontologia pela Universidade Livre de Berlim e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) conta que superou as dores de um acidente grave onde teve fratura exposta dos ossos dos braços e pernas gargalhando enquanto aguardava atendimento médico. Já Mari Thereza N. Vieira superou a dor emocional da separação com a terapia do riso.

“Cientificamente a gargalhada também libera no organismo dois hormônios importantes, a dopamina (do bem-estar), e a serotonina, hormônio anti-estresse”, explica a pesquisadora. Mari completa dizendo que muita gente pensa apenas na dor enquanto dor física, mas que a gargalhada também é um poderoso analgésico emocional. “Um exemplo disso é o grande Charles Chaplin, que viveu na grande depressão, era filho de um pai alcoólatra, no entanto é um dos grandes gênios da comédia”, conta.

Com essa crença é que o Clube da Gargalhada do Brasil ensina por meio da risoterapia as pessoas a superarem dificuldades. Mas como diz o estudo, não é qualquer gargalhada que serve. Ela pode até ser uma gargalhada treinada, como ensinam as duas pesquisadoras, mas precisa ser forte, profunda e intensa, ou seja, tem que vir de dentro. “A gargalhada eficaz contra a dor é aquela que mexe com todos os músculos do abdômen e que toca realmente as emoções”, ensina Úrsula.

Justamente pelo lado emocional é que o estudo inglês afirma algo que as “professoras do riso” também defendem. Quem ri mais, se relaciona melhor. Daí a hipótese levantada pela pesquisa de que graças ao riso, os primeiros humanos foram capazes de criar comunidades com mais de 100 pessoas – enquanto os macacos, por exemplo, se reuniam em grupo com no máximo 50 animais. A pesquisa foi publicada no periódico Proceedings of the Royal Society B.