A garota de 17 anos infectada por HIV durante transfusão de sangue em um hospital público de Salvador em 1998, foi sepultada por volta das 12h deste sábado (20), no Cemitério Jardim da Eternidade, em Camaçari. A jovem morreu na sexta-feira (19) enquanto aguardava transferência para um leito de UTI na capital baiana.

A família da adolescente acusa negligência no tratamento do Hospital Geral de Camaçari, onde deu entrada com sintomas de gripe no sábado (13). Indignado, Carlos Alberto, pai da garota, foi à frente do hospital e pediu por ajuda. De acordo com ele, a jovem teria ficado instalada no corredor do hospital sem diagnóstico. "Não tem estrutura. Ela ficou no corredor, sem ninguém. Minha filha morreu e eu não sei porquê. Um descaso total. Ela morreu à mingua. Isso é uma violação dos direitos humanos", reclama.

Através de nota à imprensa, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesab) informou que a paciente deu entrada no hospital com um quadro de infecção respiratória. A Sesab informa que a jovem tinha "total assistência, inclusive fazendo uso de ventilação mecânica necessária".

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Desespero

"Ela chegou sábado à tarde, ficou no corredor. Só vinham enfermeiros aplicar remédios. Eles disseram que ela estava com infecção pulmonar. Ontem [quinta-feira], o médico foi lá e disse que não era isso, que ela tinha que ser entubada, que era grave. Então levaram ela para uma sala. Hoje ela voltou para o corredor, demorou um pouco e o coração dela parou de bater", relatou Ana Clara, uma das três irmãs da adolescente.

Segundo Ana Clara, desesperado com a parada respiratória, o pai da jovem começou a realizar massagem cardíaca na filha enquanto esperava o atendimento médico. "Começaram a gritar por médicos. Aí meu pai foi massagear o peito dela. Aí chegou a polícia e depois tiraram a gente do corredor", disse.

O pai afirma que a menina estava lúcida antes de ser entubada e conversava normalmente com ele no corredor do hospital. "Ontem de ontem [quarta-feira], ela estava querendo dormir. Ela disse: 'meu pai, apague as luzes'. Mas eu não tinha como apagar. Como ia apagar com um monte de gente realizando procedimento?", lamenta Carlos Alberto.

De acordo com a família, a adolescente se sentia rejeitada pelos colegas na escola e mostrava sinais constantes de tristeza. "Ela tinha desgosto, não tinha ânimo de viver. Os colegas não a aceitavam", afirma o pai.

Transferência

A Sesab informou que, como a adolescente é portadora do vírus HIV, foi solicitada a transferência dela para o Hospital Couto Maia ou para o Hospital Geral Roberto Santos, que são referências no estado para o atendimento desses casos.

Na quinta-feira, foi identificada uma vaga na enfermaria do Hospital Couto Maia, mas não foi possível a transferência da adolescente em função do agravamento do quadro de saúde, tornando necessária a transferência para um leito de UTI, informou a Sesab.

Pensão

Em 2012, o Governo do Estado da Bahia foi condenado a pagar pensão vitalícia de quatro salários mínimos e indenização de R$ 100 mil para a menina devido à contaminação pelo vírus HIV. Entretanto, a família da garota diz que nunca recebeu valores referentes à condenação. "O Estado não repassou pensão, nunca recebemos nada, nem uma assistência de saúde, que para mim já seria muito", diz o pai da adolescente, que trabalha como pintor e mora com outras três filhas.

A Procuradoria Geral do Estado (PGE) informou por meio de nota que recorreu da decisão junto ao Supremo Tribunal Federal (recurso extraordinário) e ao Superior Tribunal de Justiça (recurso especial) e que aguarda o julgamento do mérito.

A decisão foi proferida pelo desembargador Salomão Resedá, relator do processo, e contou com votos unânimes de mais três desembargadores que participaram da sessão no dia 24 de julho de 2012.

O caso

A jovem precisou ser internada no Hospital Roberto Santos com três anos de idade, em 1998, por conta de uma anemia, e foi infectada pelo vírus. Em 2005, a família entrou com um processo na Justiça, que chegou a ser julgado em 2010, mas o governo recorreu. Desde então, os pais lutam por uma indenização. Na Bahia, são confirmados de 400 a 500 novos casos de HIV por ano.

De acordo com dados revelados pela Secretaria de Saúde do Estado, os casos de Aids aumentaram 150% na Bahia e nos últimos três anos, 3.614 novos casos foram registrados. O Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia analisou 1241 pessoas infectadas e 50% dos pacientes têm acesso tardio ao serviços de saúde. Para atendimentos especializados, os pacientes devem procurar o Hospital das Clínicas, Roberto Santos, Couto Maia, Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa, Rede Básica de Saúde e o Serviço Municipal de Assistência Especializada.De acordo com dados revelados pela Secretaria de Saúde do Estado, os casos de Aids aumentaram 150% na Bahia e nos últimos três anos, 3.614 novos casos foram registrados. O Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia analisou 1241 pessoas infectadas e 50% dos pacientes têm acesso tardio ao serviços de saúde. Para atendimentos especializados, os pacientes devem procurar o Hospital das Clínicas, Roberto Santos, Couto Maia, Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa, Rede Básica de Saúde e o Serviço Municipal de Assistência Especializada.

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