O Calabetão vive dias tensos desde sábado, quando duas pessoas foram mortas, segundo a polícia, por homens da localidade da Rocinha, na Mata Escura, que vêm tentando dominar o tráfico na região. Com medo, a comunidade do Calabetão já realizou dois protestos, um deles ontem pela manhã, quando caminharam pela BR-324.
Moradores contam que tudo começou há 15 dias, quando bandidos da Rocinha tentaram assaltar um mercadinho no bairro e foram expulsos a tiros, supostamente, por um policial militar à paisana.
Após jurarem vingança, no sábado integrantes de uma quadrilha mataram o ajudante de pedreiro Jefferson Oliveira de Jesus, 20 anos, e o ambulante Valnei de Jesus Souza, 40. Outras quatro pessoas ficaram baleadas na ação.
Jefferson tinha acabado de almoçar depois de sair do trabalho em uma obra e estava indo cortar o cabelo quando foi baleado nove vezes por dois dos quatro bandidos que chegaram atirando na Rua das Pedreiras.
“A gente veio comentando no carro sobre as ameaças e justamente no dia isso aconteceu. Meu filho trabalhava comigo. Perfuraram ele todo”, lamentou o pai de Jefferson, o mestre de obras Nerivaldo dos Reis Oliveira, 43. Segundo moradores, Valnei estava a caminho de casa quando cruzou com os banidos e foi baleado três vezes.
Ontem, às 6h, cerca de 50 pessoas caminharam em protesto pelo acostamento da BR-324 na altura da Rua Jaqueira do Carneiro até o bairro do Calabetão. "Queremos segurança, nós temos direito à segurança. Cadê os direitos humanos?”, ressaltou uma moradora identificada como Ana. Outra manifestação já havia sido realizada no domingo, depois do enterro das vítimas no Cemitério da Ordem Terceira de São Francisco.
ncursãoApós o protesto, vizinhos se concentraram na associação de moradores, na praça central, onde receberam o capitão Souza Ferreira da 48ª Companhia Independente (Sussuarana/CAB). “Eles (os bandidos) disseram que viriam para fazer um extermínio e que só iam poupar mulheres e crianças”, disse um morador durante a reunião. “Aconselho que vocês não fiquem até mais tarde na rua, pois ficam vulneráveis aos marginais. Vamos intensificar o patrulhamento por aqui”, disse o capitão, na tentativa de tranquilizar a comunidade. Em seguida, guarnições da 48ª CIPM foram à cena do crime.
Durante a incursão, um “E” escrito em uma parede próximo ao local do crime chamou a atenção dos policiais. “Os bandidos usaram o sangue do rapaz (Jefferson) para fazer a letra e disseram que vão voltar pra derrubar mais três”, contou um morador na reunião. Segundo a comunidade, os bandidos não são conhecidos da região. “A gente sabe que eles não são daqui. Quem matou os moradores daqui foi dois adolescentes. Vieram e fugiram andando pelo matagal”, declarou uma dona de casa.
O duplo homicídio é investigado pela delegada Cleuba Regina, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). A delegada disse que ontem ouvia testemunhas do caso, mas depois não foi mais localizada para falar sobre as investigações.
Há um ano, disputa provocou até toque de recolher
Em dezembro do ano passado, moradores da Mata Escura viveram momentos de terror, com medo da rivalidade existente entre facções de três localidades: Larguinho, Inferninho e Bate Folha/Rocinha. Os tiroteios entre as quadrilhas eram constantes, principalmente no final de linha.
A população sofreu também com os toques de recolher e o fato dos ônibus terem deixado de entrar no bairro. O relato de moradores indicava que a guerra entre bandos rivais se acentuou após a prisão de Cristian Sóstenis Barreto da Silva, ocorrida no mesmo mês. Ele era apontado como um dos líderes do Inferninho.
Sobrinho do traficante Tampinha, que cumpre pena no Presídio Salvador, Cristian matava a mando do tio e por conta própria. Integrante da quadrilha de Dente de Prata, que está foragido e também é apontado pela polícia como autor de diversos homicídios na região da Mata Escura.
À época, a polícia ativou um módulo no final de linha, que funcionava como ponto de base das operações da PM.*Correio.