Uma rajada de 13 tiros, em apenas um segundo, disparada de um helicóptero da Polícia Civil que tinha o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel a bordo perfurou uma lona azul estendida numa trilha do Monte do Campo Belo. Nas palavras dele, era uma operação da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) para “dar fim à bandidagem”, mas, naquele momento, o alvo acabou sendo um ponto de apoio para peregrinação de evangélicos, confundido com uma casamata do tráfico. Por sorte, estava vazio, algo incomum numa manhã de sábado.

“Foi um livramento. Nos fins de semana, sempre tem alguém ali, ajoelhado junto à lona, rezando. Faz parte da nossa peregrinação. O prefeito sabe disso”, reclamou ao Globo o diácono da Assembleia de Deus Shirton Leone, citando Fernando Jordão (MDB), que também estava no helicóptero. “Aos sábados, cerca de 30 pessoas sobem o morro para orar. Algumas passam a noite acampadas ali. Poderia ter sido uma tragédia”, completou.

A operação de sábado levou a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro a denunciar Witzel à Organização dos Estados Americanos (OEA). Ele é acusado de “legitimar a letalidade policial dentro das favelas e periferias do Rio”. Nos três primeiros meses deste ano, foram 434 mortes decorrentes de intervenções de agentes de segurança — em média, quatro por dia.

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