“Eu estava com o alvará na casa [na cadeia pública], só que não foi cumprido. Fiquei esquecido pelo sistema. Mas, graças a Deus, ao mutirão da Defensoria Pública da Bahia, conseguiram me localizar e me resgatar. Ninguém havia me chamado para dar a minha liberdade.”

Momentos antes de ser morto a tiros durante um ataque na Estação Pirajá, na última sexta-feira (1º), o pedreiro Diego Santos de Souza, 35 anos, havia gravado um vídeo para comemorar a sua saída do sistema prisional. Outras seis pessoas ficaram feridas em meio aos disparos efetuados por dois homens, que fugiram em seguida.

Diego era assistido da Defensoria Pública da Bahia e foi solto durante um mutirão do órgão realizado naquele mesmo dia. Ele, no entanto, já deveria estar em liberdade há três meses. Além dele, outras duas pessoas foram liberadas durante o atendimento.

Segundo a Defensoria, que lamentou a morte do homem, ele havia praticado violência doméstica, cumpriu prisão provisória, mas ainda estava resguardado pelo princípio da presunção da inocência e do devido processo legal. Não tinha outros antecedentes criminais.

“Antes de sair, Diego gravou e autorizou a divulgação desse vídeo para os (as) defensores(as) que fizeram o atendimento e se mostrou feliz em ter o seu direito garantido”, informou o órgão em publicação em sua conta no Instagram.

A Defensoria também diz repudiar os comentários depreciativos nas redes sociais, dentre os quais o de que egressos do sistema penal deveriam ter o mesmo fim que ele. “Diego errou, estava respondendo pelo erro, e merecia uma vida digna como qualquer outra pessoa. Ele também foi vítima da violência; é cruel e desumano ser agora vítima da violência moral. É desrespeito contra quem já partiu e contra a sua família”, diz o post.
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Ainda de acordo com a publicação, o vídeo de Diego levanta o debate sobre as pessoas que estão esquecidas no sistema prisional, apenas enquanto estão lá, e que, quando saem, são encontradas pela violência. “Mostra o preconceito, quando, em qualquer circunstância em que a pessoa sofra uma violência, é levantada a hipótese, sem nenhuma informação, de que ela deveria ter merecido aquilo ou que estaria envolvida com algo mais grave. É uma tentativa de justificar a violência sofrida, que é injustificável”, prossegue o texto da Defensoria.

Assista ao vídeo:

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