Faltavam cinco minutos para o horário programado para a entrevista coletiva do meia Marchisio quando a assessoria de imprensa da seleção italiana avisou aos jornalistas que tinha havido uma mudança na programação e que quem falaria seria o técnico Cesare Prandelli.

A notícia causou surpresa, porque o treinador já dará entrevista nesta terça-feira no Castelão como manda a norma da Fifa. Mas quando a coletiva começou, ficou claro que ele estava com muita vontade de falar.

Com a lucidez e a clareza de sempre, Prandelli falou muito sobre o jogo contra a Espanha que vale vaga na final. Admitiu o favoritismo do adversário, considerado por ele a melhor seleção do mundo, mas deixou claro que prepara alguma surpresa para tentar derrubar a lógica e colocar seu time na decisão. "É quase impossível derrotar a Espanha, mas enfrentá-la cria o estímulo de tentar fazer coisas diferentes.

Tentaremos fazer isso, e tenho convicção de que podemos criar dificuldades para eles." Essa novidade que ele está preparando será testada esta terça (a Itália treina pela manhã e também à tarde, mas só os primeiros 15 minutos do segundo período serão abertos à imprensa).

O treinador disse depois da derrota para o Brasil que, caso a Espanha fosse mesmo o adversário na semifinal, a Itália tentaria manter seu estilo baseado na posse de bola. Quando o Estado lhe perguntou como fazer para roubar a bola dos espanhóis, ele começou a resposta com uma brincadeira: "Acho que vamos levar a nossa própria bola para o campo, porque é muito difícil desarmar os espanhóis."

Depois, falando sério, explicou que a meta de seu time será manter o jogo indefinido até o final e aproveitar as chances que tiver. Se a Espanha estabelecer logo uma vantagem confortável, seu plano irá por água abaixo. "A Espanha não é perfeita. Não existe time perfeito, e sim momentos perfeitos. Se o jogo for equilibrado até o fim, tenho certeza de que teremos chance de ganhar."

Uma das chaves para criar problemas para os espanhóis será, na opinião de Prandelli, tirar Xavi e Iniesta da zona de conforto. Ele se declarou fã dos dois meias – chamou-os de "fenômenos" – e disse que ambos já provaram que podem sair de qualquer marcação.

O que ele vai tentar fazer é forçar os dois a correr mais e, para isso, seu time terá de ser corajoso. "Vamos atacar quando tivermos a bola. Quero uma equipe que faça o que fizemos no segundo tempo contra o Brasil. Ter mostrado coragem e criado os problemas que criamos para os brasileiros diante de sua torcida foi algo muito importante para o crescimento do nosso time."

O único assunto que incomodou o treinador durante a coletiva foi o número de gols tomados pela Itália na primeira fase (oito em três partidas), marca que contraria a tradição de solidez defensiva da Azzurra. Primeiro, disse que o time sofreu quatro gols irregulares. Depois ressaltou o número de chances criadas.

"Vi o jogo da Espanha domingo. No primeiro tempo, a Nigéria teve quatro chances claras. É muito difícil impedir que o adversário tenha ocasiões para marcar. Se eles criam quatro ou cinco, nós temos de criar seis ou sete. E temos criado. Esse é o futebol do futuro."

Para ele, seria ótimo se o futuro chegasse quinta-feira com uma vitória consagradora sobre a Espanha. *Estadão.