Na manhã desta terça-feira (24), o radialista Roque Santos conversou com a jornalista camaçariense, Milane Maria Magalhães, que atualmente reside na Nova Zelândia. O assunto abordado, diante do cenário mundial, é a pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Em Camaçari, segundo o último boletim epidemiológico divulgado na segunda-feira (23), um caso da doença já foi confirmado.

Inicialmente, Milane detalhou como o país, situado no sudoeste do Oceano Pacífico, está enfrentando a calamidade pública provocada pela doença.

“Infelizmente, aqui na Nova Zelândia, também temos passado por essa fase terrível da pandemia do coronavírus. Hoje [24], começa a valer a quarentena aqui na Nova Zelândia, quatro semanas, o governo decretou ontem [23]. O governo decretou quarentena com cento e dois [102] casos. Cento e dois [102] casos, em comparação com o Brasil, é muito pouco, né?! Mas, pro governo é muito. A Nova Zelândia tem um pouco mais de cinco milhões de pessoas, e a maioria da população é idosa. Então, esse cuidado é importante agora, com cento e dois [102] casos, para que não se espalhe mais o vírus, ainda mais que é um país também que, apesar de ter uma população muito idosa, ele é basicamente financiado, a economia vive aqui do turismo de muita gente jovem”, contou.

A jornalista destacou que, segundo as autoridades do país, o vírus se espalhou, justamente, pela circulação do turismo de jovens.

“Na verdade, o grande problema é a população jovem que circula e que, pelo mapeamento que o governo fez, era essa população, os turistas jovens que estavam entrando na Nova Zelândia, que estavam espalhando o vírus. Então, a ordem agora é todo mundo em casa, apenas vai trabalhar, vai funcionar supermercados e hospitais”, disse.

Questionada sobre o comportamento da população, em relação ao acatamento das determinações dos órgãos de saúde, sobretudo, o islomaneto social, Milane revelou que os neozelandeses são “muito obedientes”.

“Aqui, os neozelandeses, eles são muito obedientes. São muito obedientes mesmo, inclusive, fizeram uma regra de que as pessoas só podem ir no mercado comprar dois produtos do mesmo, não mais que isso. Eles são muito obedientes com relação não só a isso, mas de modo geral, as pessoas têm ficado em casa, antes mesmo [do decreto]. Hoje, decretou a quarentena, mas há duas semanas a gente já via que não tinha quase ninguém na rua; se cancelou todos os eventos, a iniciativa [partiu] da própria comunidade. Aqui, a quarentena voluntária funcionou muito bem, funcionou até cinco dias atrás”, assegura.

Em seguida, ela continua falando sobre a chegada do vírus no país, bem como a evolução dos casos confirmados.

“Aqui na Nova Zelândia eram vinte e oito [28] casos, até cinco dias [atrás]. Os novos casos, que hoje resultam em cento e dois, na verdade, com o monitoramento do governo, foi visto que eram de turistas que estavam entrando no país e não estavam cumprindo uma das regras que tinham sido impostas pela primeira ministra [Jacinda Arden], que era de se isolar por quatorze [14] dias. Esses turistas não estavam se isolando e acabou que a doença se espalhou por conta disso. Mas, até então, eram vinte e oito casos, até cinco dias atrás. Aqui, eles estavam bem preocupados com a doença e isso aconteceu de forma voluntária, as pessoas se isolaram de forma voluntária, cancelaram eventos de forma voluntária, eles são muito obedientes, é uma coisa assim que eu fiquei realmente impressionada, quando se diz ‘não saiam’. A gente sai na rua , assim, pra jogar o lixo, pra fazer uma coisa normal, e não tem ninguém na rua, ninguém em carro, não passa nem o vento, se puder falar assim”, pontuou.

Outra medida enumerada por Milane, diz respeito ao espaçamento nas filas dos estabelecimentos comerciais que ainda seguem funcionando (supermercados, farmárcias).

“Além dos dois produtos, aqui, eles fizeram voluntariamente o espaçamento. Então, a fila ela é bem larga porque as pessoas tomam dois metros de distância voluntariamente. Então, a gente vê que o pessoal é bem consciente aqui na Nova Zelândia”, acresenta.

Na quinta-feira (19), a Nova Zelândia anunciou o fechamento das fronteiras para estrangeiros e não-residentes. De acordo com o jornal New Zeland Herald, é a primeira vez na história que o país decidiu fechar suas fronteiras.

“Proteger a Nova Zelândia do Covid-19 é a nossa prioridade número um”, disse a primeira-ministra Jacinda Arden à reportagem.

Saúde

“Sobre a questão hospitalar, o teste é gratuito também, o monitoramento é muito detalhado, a gente aqui sabe o avião que a pessoa esteve no dia, a pessoa infectada qual foi o avião, a gente tem acesso ao roteiro que essa pessoa teve, provavelmente por onde ela passou, para que a gente saiba se a gente não teve contato com ela, mesmo sem nem conhecê-la. Ela [a pessoa] disse, ‘eu peguei’, ‘eu sai de tal país’, ‘eu peguei tal avião’, ‘eu fui no aeroporto em tal ônibus’, ou, ‘minha família me pegou em tal aeroporto’, ‘frquentei isso, isso e isso’. Até o dia em que o sintoma, que ela percebeu os sintomas, a gente tem acesso”, revela.

Milane também assegurou que o governo neozelandês está preparado para enfrentar a situação, apesar de destacar um problema em relação ao acesso de turistas que chegaram recentemente e se encontram no país, na questão do atendimento, tendo em vista que o país não possui um Sistema de Saúde gratuito, como acontece no Brasil.

“O governo sim está preparado. O atendimento é gratuito pra quem é daqui, quem não é, quem está de turista, por exemplo, no meu caso, eu tenho seguro. O seguro vai me cobrir, caso eu tenha a doença. Porém, quem chegou recente não. Aqui, o único problema vai ser esse, uma pessoa que ela chegou na Nova Zelândia, que ela é turista, ela tendo um seguro de, no mínimo um mês, se eu não me engano, ela não pode ter acesso. Então, o grande problema tá aí, o governo tá estudando como fazer, porque aqui o Sistema de Saúde é privado. Aqui não é igual [ao Brasil], nós [população brasielira] somos privilegiados de ter o SUS, de ter o acesso gratuito, porque aqui não, se uma pessoa que não estava aqui, não tem o seguro de mais de um mês, ela não pode ter atendimento [médico]. Então, o governo tá vendo como atender essa pessoa, porque querendo ou não vai ter que demandar um valor pra cuidar dela”, amplificou.

Saudade

Por fim, Milane salientou a nostalgia que sente do Brasil e, principalmente, de Camaçari.

“Sinto saudade todo dia, eu amo essa cidade, eu amo Camaçari. Já tem um ano e quatro meses que eu tô aqui, e tinha viagem marcada pra chegar em agosto, agora já não sei quando eu posso ir. Então, isso só aumenta minha angustia de tá aí. Queria tá aí, queria tá noticiando, queria tá me dispondo pra sociedade de alguma maneira, mas infelizmente Deus me quis aqui. De alguma maneira que isso reflita aí na população, eu fico angustiada nesse momento, porque as notícias que eu vejo não são boas, tenho lido, tenho me ‘debruçado’ pra entender a questão da doença, e sei que se a gente não se cuidar, as coisas vão ficar muito complicadas”, disse.

Ela ainda aproveitou para eleogiar o trabalho de alguns governantes, em âmbito municipal e estadual, e repreendeu a postura do presidente Jair Bolsonaro, em meio as medidas adotas para combater a propagação do coronavírus no território brasileiro.

“Quero deixar meu agradecimento ao prefeito [de Camaçari] Elinaldo, ele tem feito um trabalho extraordinário, e o governador [da Bahia] também, Rui Costa. Já que o nosso presidente [Jair Bolsonaro], infelizmente, não tem tomado atitudes assim. Se eu botar pra comparar Bolsonaro com a primeira ministra e as atitudes que ela tem tomado aqui, e de outros governantes de outros países, é uma vergonha, infelizmente. Então, isso me deixa muito angustiada, essa falta de postura, essa maneira que ele [Bolsonaro] tá conduzindo as coisas. Mas, assim, tenho fé, tenho visto o trabalho do prefeito Elinaldo e as pessoas têm me dado um bom feedback, de que está todo mundo em casa, de que as pessoas estão cumprindo, eu espero que, de verdade, isso esteja acontecendo. É isso gente, a doença, ela é muito grave. Então, vamos ter atenção, seguir as orientações do governantes, dos médicos, e ter muita fé, rezar para que esse pesadelo acabe logo”, finalizou.

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