O novo “Mapa da Violência – Mortes Matadas por Arma de Fogo” no Brasil, apresentado ontem em São Paulo pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, classifica Lauro de Freitas como o terceiro município mais violento do país, com uma taxa crescente desde a primeira edição do mesmo estudo. Antes editado pelo Instituto Sangari, o Mapa da Violência deste ano foi apresentado com a chancela do Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela) e da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso).

A taxa verificada em Lauro de Freitas está em 106,6 mortes por cada 100 mil habitantes. Significa dizer que, em média, de 2008 a 2010, foram mortos por arma de fogo na cidade 182 pessoas por ano, 15 por mês ou uma a cada dois dias. A maior parte das vítimas tem menos de 29 anos. Em fevereiro, o Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência (IVJ-Violência), apurado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), já havia apresentado Lauro de Freitas como o segundo pior do país no que se refere a homicídios de jovens de 12 a 29 anos.

O “Mapa da Violência” divulgado em 2012 situava Lauro de Freitas na 14ª posição (taxa de 100,5) entre os mais violentos. Em 2011 a cidade estava em 16º lugar (94,8) e em 2010 em 32º (76,1). Apesar da crescente taxa de homicídios, a classificação anual não é comparável entre si porque nos estudos anteriores o autor incluiu todos os municípios com mais de dez mil habitantes enquanto este ano foram levados em conta apenas os que têm mais de 20 mil.

Waiselfisz calcula o índice pelo número médio de mortes por arma de fogo, proporcionalmente à população nos últimos anos com dados disponíveis. Os índices de 2012 e 2013 foram calculados com base em dados de 2008 a 2010. Em 2011 a média é dos anos de 2006 a 2008. Já em 2010 foi calculada a média dos anos de 2003 a 2007.

Mais violento que Lauro de Freitas, na Bahia, só o vizinho município de Simões Filho, com uma taxa de 141,5 mortes para cada 100 mil habitantes, destacadamente o mais elevado índice de todo o país. O segundo mais violento é Campina Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba (PR), com uma taxa de 107 – apenas quatro décimos acima dos 106,6 de Lauro de Freitas.

No dia da divulgação do Mapa da Violência 2013, cerca de trinta pessoas, com panelas e cartazes, protestavam em frente ao Fórum de Simões Filho. Ali prestava depoimento o policial militar Leandro Almeida da Silva, acusado de matar o taxista Pedro Augusto de Araújo Santos, 23, com cinco tiros na saída de uma festa. Mas especialistas apontam que a maior parte dos homicídios registrados na cidade pode ter acontecido em outro município.

Citado pela Agência A Tarde, o sociólogo Luiz Lourenço, da Universidade Federal da Bahia (Ufba), diz que Simões Filho tem características de cidade usada para desova de cadáveres, não sendo “necessariamente o município mais violento” do Brasil. “Já os números de Lauro de Freitas ninguém explica”, disse hoje o vereador Antônio Rosalvo (PSDB).

O vereador é autor de propostas de lei que pretendem implantar medidas do Plano Municipal de Segurança Pública, esquecido desde que foi encomendado a uma consultoria especializada há dois anos. Entre elas, já foi aprovada na Câmara a que fixa distância mínima de 200 metros dos pontos de venda de bebidas alcoólicas até as escolas e os pontos de transportes coletivos. O relatório afirma essa medida foi adotada com sucesso em várias cidades do Brasil e da Europa no combate à violência.

Outra medida já proposta pelo vereador seguindo o Plano Municipal de Segurança Pública, mas ainda não votada, é limitar o funcionamento dos pontos de venda de bebidas alcoólicas até 22h durante a semana e até 1h nos finais de semana. O vereador reconhece que a medida é dura, mas lembra que “estamos diante de uma situação extrema”.

Bahia – Com uma taxa geral de 34,6 mortes por arma de fogo para cada 100 mil habitantes, a Bahia aparece em quarto lugar entre os estados mais violentos. Alagoas vem em primeiro com 55,3 mortes, em seguida o Espírito Santo com 39,4 e depois o Pará com 34,6. O estado de Pernambuco, que antes ocupava o segundo lugar, aparece agora na sexta posição com 30,3 mortes por arma de fogo a cada 100 mil habitantes.

O Rio de Janeiro aparece em oitavo lugar no ranking, com 26,4 mortes por arma de fogo a cada 100 mil habitantes e São Paulo caiu 18 posições, saindo da sexta posição para 24ª, uma queda no índice de mortes por arma de fogo de 67,5%.

Na opinião de Waiselfisz, os dados mostram o que ele denomina de “desconcentração da violência”, que “migrou para outros estados do país acompanhando novos polos de desenvolvimento local”, que além de mão de obra também atraem violência.

Waiselfisz credita a diminuição da violência no Rio de Janeiro e em São Paulo aos investimentos em segurança pública. “Houve investimentos maciços nos aparelhos de segurança pública nesses estados", explica. Em contrapartida, houve estados em que os aparelhos de segurança "não estavam preparados para dar conta dos novos padrões de violência”.

Com informações da Agência Brasil