Com uma malinha na mão e um farto buquê de rosas coloridas em outra, o lavrador João Paulino Barbosa chegou, na manhã desta quarta-feira (13), à Catedral São Pedro de Alcântara, no Centro de Petrópolis, na Região Serrana do Rio, onde está localizado o túmulo da princesa Isabel. Desde 2012, ele viaja cerca de 250 quilômetros de sua cidadezinha natal, Desterro do Melo, em Minas Gerais, para a Serra com o mesmo objetivo. Tímido e emocionado, o negro e neto de escravos prestou sua homenagem à mulher que em 13 de maio de 1888 decretou a liberdade de seu avô, vendido na África para trabalhar no Brasil, através da Lei Áurea.

Aos 71 anos, seu João carrega 127 rosas, cada uma representando um ano de liberdade, para depositar no mausoléu. Padre Jac, pároco da Catedral, lembrou durante a missa celebrada às 8h desta quarta-feira que "ele chegou aqui em um domingo falando sobre a homenagem que queria prestar. Então, nós sempre aguardamos ele nessa data. Para a Catedral é muito importante, pois se temos hoje este local é graças à Princesa Isabel, pontuou Padre Jac.

Além das flores, ele leva um cartaz com uma poesia que compôs para a princesa e, compositor, entoa a música que escreveu para Isabel. “A princesa Isabel liberou a escravidão, salve salve a raça negra e o Brasil de coração. Liberdade, liberdade, liberdade! Foi assim a lei da abolição, salva a pátria brasileira e nossa geração”, canta.

Na época em que compôs a música, oito anos atrás, seu João ainda não conhecia o município serrano. Apenas cinco anos depois, em uma visita ao Museu Imperial, onde viu de perto a pena de ouro usada pela princesa para a assinatura da lei, é que ficou sabendo, quase que por acaso, que a poucos metros de onde estava se encontravam os restos mortais de Isabel.

“Estava visitando o museu e falei que tinha composto a música para a princesa. Duas jovenzinhas que ali se encontravam me perguntaram se eu já tinha ido visitar o túmulo dela. Eu não sabia que ficava em Petrópolis. Foi uma grata surpresa e, desde então, naquele mesmo ano, passei a levar as rosas no dia 13 de maio. Farei isso enquanto vida tiver. Fico muito feliz que Deus me dê forças para continuar prestando essa singela homenagem”, contou.

Seu João conta que começou a trabalhar na lavoura ainda criança, aos 9 anos. Nesta época, dividia seu tempo com os estudos e completou até a 4ª série, ouvindo do pai, as histórias sobre o avô.

“Ele contava muito sobre a vida difícil que meu avô levava, sobre as histórias que foram passadas sobre o tempo da escravidão. Apesar de toda a dureza, meu avô viveu até os 110 anos e só quando veio para o Brasil teve condições de viver com dignidade”, rememorou.

Para seu João, a liberdade é um dos maiores bens que as pessoas têm nos dias de hoje. “Agora estou aqui, amanhã posso voltar para a minha cidade ou ir para onde eu quiser. Posso dizer o que o quero, sem que isso ofenda ninguém, é claro, mas sem ter medo de ser condenado. É o maior bem da humanidade, e a menor sombra de dúvida”, opinou.

Ainda na véspera

Após a longa viagem de ônibus, de cerca de 6 horas, seu João chegou em Petrópolis carregando pouco mais de 6 kg em rosas, algumas mudas de roupas, documentos e sua poesia. Com um sorriso no rosto de só quem já viveu o suficiente para saber que a gratidão é uma das maiores virtudes, ele adentrou a Catedral ainda na terça-feira (12), com o buquê nas mãos para fazer sua já tradicional visita.

o entanto, as flores esperaram até hoje para serem depositadas no túmulo da princesa. “Hoje (12) eu não entrego, não. Só amanhã. Vou assistir a missa, pedir para o padre abençoar e aí sim fazer a entrega. As rosas já são dela, mas amanhã (13) as rosas serão entregues oficialmente, abençoadas”, finalizou.

As informações são do G1