Ex-prefeito de Camaçari por dois mandatos e ex-presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB), Luiz Caetano (PT) considera que a falta de um nome de peso pode facilitar a sucessão petista ao Palácio de Ondina.

Questionado quanto a possíveis rivais dentro do seu partido, exemplo dos burburinhos que dão o secretário da Casa Civil, Rui Costa, como o favorito do governador Jaques Wagner, ele disse que respeita as estratégias de cada um.

O petista não titubeia ao tecer críticas à gestão de Wagner e chama de “factoide” o início da administração do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM).

Confira:

Tribuna da Bahia – O PT tem quatro nomes na disputa. De que forma pretende se viabilizar?

Luiz Caetano – Bem, aqui na sucessão chegou a ter oito nomes, e eu tive a paciência e competência de debater com cada um e no final unificamos, concluindo em um nome. Eu acho bom o PT ter quatro nomes, e tem quatro bons nomes, cada um com experiência em uma área. Isso é bom para o PT, bom para o governo do estado. Não precisa ter estresse. Eu estou trabalhando o meu nome sem estresse. Estou construindo uma agenda extremamente positiva. Nós temos que pegar a partir do avanço que o governo Wagner teve aqui na Bahia e trabalhar um projeto mais avançado, mais empreendedor, um projeto mais interno no sentido de consolidar a Bahia. Portanto, eu pretendo me consolidar discutindo uma agenda nova, mais avançada no sentido de gestão, com todas as forças políticas do estado da Bahia, a começar pelo meu partido, o PT. O meu foco agora é discutir com o PT, discutir com os militantes e trabalhar o sonho dos militantes, construir esse sonho com mais firmeza para ganhar musculatura, ganhar a convenção do partido para me indicar a candidato ao governo do estado.

Tribuna – A falta de um mandato dificulta essa articulação?

Caetano – Não porque eu sai de um governo de sucesso em Camaçari. Eu fui eleito prefeito em 2004, sendo reeleito em 2008, elegi o sucessor, ajudei a eleger a sucessão na UPB e fiquei muito conhecido na Bahia pelo trabalho que fiz em Camaçari e na UPB. Hoje estou construindo uma agenda sem mandato, e isso é possível como Lula fez, ajudando inclusive aos municípios, no sentido de discutir e de planejar a gestão, buscando a cultura do empreendedorismo, do desenvolvimento e da inovação e isso me dá uma condição e uma estrada aberta para eu percorrer. O mandato (a falta) neste momento não está interferindo muito porque eu já construí uma estrada, estou andando pela estrada que eu já construi, e quem sabe aonde quer chegar encontra um caminho e busca um jeito de caminhar, mas isso eu só vou encontrar quando eu conseguir agregar mais força e musculatura a essa candidatura.

Tribuna – Fala-se que Rui Costa é o preferido do governador. De que forma o senhor observa essa questão?

Caetano – É normal que esses rumores apareçam porque o Rui é o secretário que fica depois do governador organizando a gestão. Isso facilita a aproximação dele com Wagner, eles estão todos os dias juntos e é normal se o governador tiver essa queda pelo secretário Rui, porém não basta só a gente querer um candidato. É preciso construir e o próprio candidato se construir, e o Rui está fazendo a parte dele. Respeito muito isso, mas estou andando e construindo para que a gente possa fazer essa disputa do ponto de vista democrático e quem conseguir mais musculatura e mais apoio é quem será, e o governador entende isso. Quem se articular melhor pode ser o candidato, e eu estou fazendo isso.

Tribuna – Muito se fala que após derrota na sucessão municipal, o PT deveria rever as estratégias em prol da vitória em 2014, e a principal seria abrir mão de liderar o processo. O que acha disso?

Caetano – O partido é dialético, ele está sempre aprendendo com os erros. Quando acerta em uma, ele discute, e quando erra em outra, também discute, porque precisa consertar os erros. O PT debate muito e tem que debater muito, por isso que eu gosto muito do PT, por ser um partido democrático, muito dinâmico. O PT, em função disso, tem feito um enorme sucesso no Brasil e na Bahia. O PT vem de uma cultura do ensinamento e do aprendizado que nós tivemos , então o PT, com a derrota que teve em

Salvador, aprendeu muito e vai discutir e tentar consertar para ganhar em 2014.

Tribuna – Mas existe alguma possibilidade de o partido ceder a cabeça de chapa para um aliado?

Caetano – Olha, todos os aliados – e aí eu falo de todos, de Lídice, de Otto, de Mário Negromonte, de Marcelo Nilo –, que ajudaram a construir a vitória de Wagner nas duas eleições e na gestão têm direito de pleitear a cabeça de chapa, mas eu entendo que a vez agora é do PT porque nós estamos governando o estado, todas as forças estão participando, temos bons nomes. Se o PT não tivesse um bom nome, aí tudo bem, mas eu acho que ainda é a vez do PT e espero que o PT seja a cabeça de chapa. Obviamente, se um outro aliado costurar e conseguir se viabilizar, aí nós vamos ter que discutir.

Tribuna – Nesse caso, Otto Alencar não seria um nome que conseguiria agregar mais?

Caetano – Eu respeito muito Otto. É um bom nome, uma pessoa que contribui muito, assim como Lídice, como Marcelo Nilo, como Negromonte. Não tenho nada contra eles. Pelo contrário. Eu não posso falar nada em relação a isso porque estou atrás do apoio deles.

Tribuna – O socialista Eduardo Campos desenha entrar na disputa em 2014 e já é ventilada uma chapa no Estado com o PSD e PSB, leia-se Otto Alencar e Lídice da Mata. Lídice não esconde o desejo de sair candidata. Considera essa possibilidade?

Caetano – Olha, nesse período pré-eleitoral os hormônios estão aflorados e, então, é debate de todo jeito, é ideia de todo o jeito, é fuxico de todo jeito, é confusão de todo jeito, mas o PSB até agora tem alinhamento com o governo federal, tem alinhamento aqui dentro. É normal que o Eduardo Campos esteja todo animado e com os hormônios lá em cima para ser candidato, mas ele tem pela frente um profissional como Lula, uma figura extremamente consolidada no Brasil, respeitadíssima, tem a presidente Dilma, o PT, tem todas essas alianças que formamos nacionalmente, por isso acho muito difícil ele ser candidato. Acho muito difícil. Ele está conversando, está buscando o seu espaço, mas acho que ele luta para ter o espaço na chapa de Dilma como vice.

Tribuna – E o PMDB como fica nessa história?

Caetano – Obviamente que vamos ter que trabalhar. Vamos conversar, e é isso o que eu falo em relação a Lula, pois ele sabe conversar, sabe ouvir com humildade, é simples, e na prática é o coordenador da campanha da Dilma. Sabemos que a presidente Dilma é muito boa tecnicamente, mas Lula que é o mentor político desse processo. Eu tenho certeza que vamos sair com um bom desenho com o PMDB e com o PSB participando, e acho que aqui na Bahia, se soubermos costurar, até o PMDB poderá vir para a nossa base de governo. Lá na frente nós teremos que conversar sobre isso.

Tribuna – A falta de um nome de peso na oposição facilita para o PT?

Caetano – Graças a Deus. Facilita, mas Lula diz uma coisa: Oposição é igual a carrapicho, nasce a qualquer hora e em qualquer lugar. Com isso nós não podemos dar sorte para o azar. Nós não podemos menosprezar o adversário nunca, mas temos que fazer de conta que eles estão fortes e trabalhar bastante fazendo de conta que eles estão fortes para ganharmos bem e elegermos uma grande bancada.

Tribuna – O seu nome é ventilado para ocupar a Sedur. Existe alguma probabilidade?

Caetano – Não. Acho que agora não dá mais. Acho que é ruim para o Wagner colocar um secretário agora que daqui a um ano terá que sair. O secretário terá que ter no mínimo dois meses para adequar a secretaria ao estilo dele e eu sou muito operativo. Sou uma pessoa que trabalha das 5 h às 23 h, todos os dias. Não acho que agora esse seja o melhor desenho. Acho que o governo sabe o que está fazendo, eu respeito muito o governador, ele sabe como movimentar e organizar o seu secretariado. Eu tive uma conversa com Wagner e eu expressei que ele ficasse à vontade em relação a mim, pois eu não estava atrás de cargos, nem de empregos. Mas estou atrás de consolidar o nosso projeto. Eu posso ajudar o governo dentro ou fora, mas neste momento eu acho que ajudo mais fora, mobilizando a sociedade baiana e o PT para trabalhar uma candidatura competitiva. Meu objetivo é esse: ajudar o governo e o PT.

Tribuna – A sua atuação na UPB lhe fortalece na disputa ao governo?

Caetano – Sim, muitíssimo. Eu fiquei muito conhecido no estado. E fiquei muito conhecido também pelos movimentos municipalistas, pelas lideranças. O prefeito é a maior liderança do município, então, tem que valorizar o prefeito, tem que ajudar o prefeito. É preciso no governo do Estado hoje ter um prefeito. Ter um governador que foi vereador, que foi deputado, foi prefeito. É preciso isso, porque essa questão vem de uma cultura de um aprendizado, vem de lá debaixo. Quantas pessoas vieram aqui em minha casa hoje de manhã? Tomar café, conversar, pedir um conselho, dar um abraço e tal. Essa química eu já trago há muito tempo. Que isso seja escutado cada vez mais em Ondina, e no Planalto, para poder se ajudar de fato os municípios. Não há desenvolvimento de um país sem o desenvolvimento do território, não há o desenvolvimento de um país sem o desenvolvimento da cidade. Não há desenvolvimento de um país sem o desenvolvimento da educação. Se não se compreende isso, dificilmente teremos o país que a gente quer. Esse é o desafio que estou peitando. É preciso ter municipalista no governo do estado para poder, com essa sensibilidade, fazer essa movimentação, por isso estou construindo a minha candidatura.

Tribuna – Qual o maior erro e o maior acerto do governo Wagner?

Caetano – Acho que o governo Wagner fez a transição da ditadura para um governo democrático. Então Wagner acertou muito quando ele construiu um novo modelo de governar, atendendo a todos sem distinção, sem perseguir ninguém. Esse republicanismo, esse espírito democrático que Marcelo Nilo acha que é exagerado, mas eu não acho, foi o maior acerto dele. Eu acho que essa é a melhor marca do governo Wagner. É um governo de várias realizações, mas a comunicação não está conseguindo mostrar isso. A comunicação é muito frágil em relação a isso. Existe uma boa equipe, mas é preciso ela estar mais oxigenada, ouvir mais, escutar. A boa comunicção é aquela que escuta. O pessoal que fez aquela propaganda da Brahma, a número 1 ficou na cabeça da gente. Quem deu aquele brienfing para ele foi o povo. Tem que ter sensibilidade cada vez mais. Ela garantiu a reeleição de Wagner, mas precisa oxigenar mais, precisa escutar mais. Portanto, acho que isso está um pouco negativo no governo.

Tribuna – Além da comunicação, o que precisa mudar no governo para garantir a tranquilidade na sucessão?

Caetano – Eu entendo que era bom descentralizar a máquina. Eu apostaria em fazer umas seis sub-governadorias regionais porque a Bahia é muito grande. O governo ficaria dois ou três dias em cada regional. O governante tem que estar perto do povo. Eu acho que esse é um bom ajuste que se faria. E outra coisa que eu acho é que esse é um problema nacional, que é a questão de focar no desenvolvimento territorial, trabalhar o território, trabalhar, discutir, planejar e agir em cima disso. Por exemplo, temos que ter um desenho novo para a Região Metropolitana. Esse desenho está ultrapassado e cheio de problemas. Há um fluxo migratório muito grande nessa região. O governo precisa encabeçar isso e chamar para discussão os gestores da Região Metropolitana, porque se não nunca vai desenvolver o problema da saúde, da violência, da educação, da mobilidade, pois se melhora em Camaçari, está ruim em Dias D’ Ávila, em Candeias. É preciso ter um planejamento estratégico para a Região Metropolitana, é preciso estudar. Eu estou agora com uma audiência marcada com o prefeito de Miami e vou discutir sobre isso lá, sobre desenvolvimento e sustentabilidade das regiões metropolitanas. Você vai ao Rio de Janeiro e já existe todo um desenho sobre isso lá. Em Belo Horizonte também está discutindo, e a Bahia está rastejando nisso.

Tribuna – O senhor acha que o prefeito ACM Neto vai conseguir arrumar Salvador?

Caetano – Eu acho que ele começou errado. Pode registrar aí que ACM Neto não está fazendo um governo para quatro anos. Ele está fazendo um governo para um ano e pouco para sair como herói e ser candidato ao governo do Estado. Nenhum prefeito pega uma prefeitura falida, quebrada como a de Salvador que vá para rua estimular as pessoas a fazerem movimento e a reivindicar. Como ele pode atender aquilo que está estimulando a fazer em cada lugar? Ele vai para os bairros nos primeiros meses de governo? Nos primeiros meses de governo não se faz isso. Se faz é planejamento estratégico. Em minha opinião, ele tinha que pegar os contratos continuados todos e cancelar esses contratos. Tinha que ajustar primeiro a parte de gestão. Qual a secretaria que ele acabou? Ele extinguiu alguma secretaria? Ele fez uma reforma da estrutura da máquina? Porque ele tem apenas R$60 milhões no orçamento para investimento e isso não dá pra nada. Se ele fosse um bom gestor, e ele tem o DNA de gestão, ele tinha que diminuir em 40% a máquina. Não é só botar um decretozinho de que 20% dos cargos não devem ser nomeados, mas extinguir as estruturas. O custo está na estrutura montada lá dentro. Teria que extinguir tais e tais secretarias, tais e tais órgãos, extinguir tais contratos. Ele precisaria fazer isso para implementar aquilo que Salvador precisa. Ele fez o contrário, e foi assim que João Henrique fez. Ele está no mesmo caminho de João Henrique. Quando chegar ano que vem, ele vai dizer: o pessoal me quer e eu vou sair da prefeitura. Esse é o golpe que ele quer dar.

Tribuna – O senhor acha que ele vai sair e entregar a prefeitura ao PV e se lançar candidato?

Caetano – Eu acho. Ele está fazendo um governo de factoide. Isso não se sustenta. Governo de factoide não se sustenta. Passa um ou dois anos, mas depois não se sustenta. Qual o planejamento que ele tem para saúde? Não tem. Me mostre o planejamento que ele tem para a educação. Não tem. Só tem aquele programa Alfa e Beto, que é um desastre. Ele deixou um secretário corrupto lá dentro. Trouxe um cara de São Paulo todo apodrecido para a Secretaria da Fazenda. Essa é a inovação que ele fez? O gestor tem que fazer diagnóstico. Ele está indo para os bairros para mostrar que está se movimentando. Mas cadê o planejamento? Está onde? Quanto Salvador recebeu do PAC? Mas cadê os projetos? Não tem recursos. Uma prefeitura inadimplente como essa, ele tem que apresentar projetos junto à presidente Dilma para poder trazer os recursos. Como ele pode, é inadimplente, pode ter os recursos do PAC. Eu que fui atrás dessa luta, e Salvador vai receber R$33 milhões. Quer dizer, já estou ajudando a Bahia sem ser governador.

Tribuna – O fim dos vetos relacionados aos royalties traz um novo fôlego para os municípios?

Caetano – Sim. Acho que a Dilma errou em não ter feito isso antes. Ela deveria ter feito isso antes, pois o Rio não perde nada. O Rio deixa de ganhar mais. Os royalties não são royalties de petróleo da terra, não. São royalties do alto-mar. Ah! Falam em municípios de estados produtores, mas não existe estado produtor de petróleo em alto-mar. Essa é uma riqueza do povo. O petróleo é nosso. O governo Dilma e o governo Lula erraram quando fizeram isso. Tanto que o Congresso foi e reagiu. O Senado reagiu. Eu sou base do governo, mas fui para linha de frente com a Confederação Nacional dos Municípios peitar isso. Fui o único prefeito do PT que fui para a linha de frente peitar porque isso é uma microrreforma tributária. Devemos aprender com isso para fazermos a reforma tributária. Essa é a solução para os municípios. Não dá para a União ficar com 65% , o estado com 15% e o município com 10%.

Tribuna – O processo de disputa interna do PT pode provocar tensionamentos?

Caetano – Não existe disputa interna sem tensionamento, e isso está na alma do PT. O PT gosta de tensionar, de discutir e de debater.