Confusão marcou o mais recente evento-teste para a segurança na Copa, realizado ontem pela Secretaria Municipal da Ordem Pública (Semop), com o apoio da Guarda Municipal e da Polícia Militar. O clássico Ba-Vi foi escolhido pela prefeitura para avaliar o ordenamento dos ambulantes que não vão poder atuar na área de circulação dos torcedores durante os jogos promovidos na Arena Fonte Nova, como forma de otimizar o trânsito e a segurança do público.

Em um dos bairros de atuação da prefeitura, Sete Portas, vendedores reagiram à fiscalização e bloquearam com caixotes e gelo baiano (pedra de concreto) a pista da Rua J. J. Seabra. Para conter a confusão, a Guarda Municipal atirou para cima, mas ninguém ficou ferido.

Durante o protesto, que aconteceu por volta do meio-dia, a ambulante Maria das Graças, 52 anos, deitou na pista para impedir que o caminhão da prefeitura fosse embora após ter R$ 2 mil apreendidos em mercadorias.

“Tô aqui há 35 anos e isso nunca aconteceu. A gente estava trabalhando. A gente sai daqui e vai para onde? Temos filhos para criar“, disse Maria das Graças. Segundo a ambulante, um fiscal da prefeitura chegou por volta das 10h e ordenou que eles ficassem todos do mesmo lado da rua. Mesmo tendo acatado a ordem, a Guarda Municipal chegou por volta do meio-dia, relatou.

“Já fomos à prefeitura solicitar lugar pra gente e ainda não aconteceu nada. A gente tem que sobreviver”, protestou o ambulante Edvaldo Muniz, 44, que há 33 anos é vendedor.

Fiscalização

Segundo um agente da Guarda Municipal, essa atuação faz parte da operação para a Copa e é uma exigência da Fifa. No entanto, a secretária da Semop, Rosemma Maluf, negou que a operação na Sete Portas esteja relacionada ao torneio e disse que se trata de uma operação de rotina: “A Sete Portas é uma área já ordenada e os ambulante precisam se submeter às regras. Eles foram agressivos, saquearam o caminhão que estava a serviço da secretaria. Por isso, recorremos à PM”.

Na Ladeira Fonte das Pedras (Ladeira junto à Fonte Nova), os ambulantes embaixo de um viaduto foram orientados a recuar cerca de 500 metros. Segundo a comerciante e moradora da região Andrea Almeida, 36 anos, a presença dos ambulantes não traz problema: “Até dão movimento à rua que normalmente está deserta”.

Apesar de outros habitantes também apoiarem a presença dos ambulantes, o coordenador de fiscalização da Semop, Braz Augusto, disse que o órgão recebeu inúmeras reclamações dizendo a atuação desordenada dos vendedores atrapalha o trânsito.

De acordo com ele, 40 fiscais da Semop e 30 agentes da Guarda Municipal atuaram na operação que abrangeu a Avenida Joana Angélica (muro do Convento do Desterro); parte baixa da Ladeira da Fonte das Pedras; o Dique do Tororó no sentido Lapa, do lado direito, após a escada de acesso ao Jardim Baiano, e no sentido Avenida Bonocô, na região da Ladeira do Pepino.

Operação

A fiscalização da prefeitura também levou em conta a lei que proíbe a venda de bebidas em embalagens de vidro, espetinhos e drinques artesanais. O uso de carros de mão, prancha, freezers, toldos e ligações irregulares de energia elétrica também são proibidos.

Para a Copa, foi liberado o credenciamento de 500 ambulantes que vão vender somente itens autorizados pela Fifa: Brahma, Coca-Cola e água mineral Cristal.

Na Fonte Nova, ambulantes se queixam sobre as mudanças

Se na Sete Portas ocorreu confusão, nos arredores da Fonte Nova o clima foi mais tranquilo, apesar das queixas dos ambulantes. A Prefeitura determinou que os vendedores não poderiam ficar na Ladeira da Fonte das Pedras nem na calçada do Bompreço de Nazaré. Segundo a fiscalização, o objetivo era facilitar o fluxo de pedestres e de veículos.

A vendedora Patrícia Queirós, 41 anos, disse que até o intervalo do Ba-Vi não tinha vendido sequer uma “caixa” de cerveja das 20 que havia levado. “Essa mudança me prejudicou muito. Cheguei aqui pela manhã e não vendi nada porque me mandaram ficar longe da entrada do estádio”.

O vendedor Joseval Nascimento deu mais sorte e conseguiu vender, até o início do jogo, às 18h30, metade das 400 cervejas que havia levado. “Mas se estivesse mais perto da entrada, já tinha vendido tudo”.

Com informações do Correio