Durante 40 minutos da manhã de ontem, o cadeirante aposentado Sílvio Guimarães teve que repetir nove vezes a operação num caixa eletrônico do banco Itaú para conseguir retirar R$ 1.350, já que o terminal estava com limite de R$ 150 por saque.
“E ainda tive que esperar cinco minutos entre cada operação para não bloquear o cartão. Sem falar nas taxas que terei que pagar a mais. O dinheiro veio todo em notas de 10”, reclamou Sílvio.
Por conta da greve dos vigilantes, que hoje completa nove dias, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) recomendou que os caixas eletrônicos não fossem abastecidos, já que a segurança das agências está vulnerável. A entidade chegou a divulgar uma nota incentivando o uso de alternativas ao dinheiro vivo, como cheque, cartão de débito e transações via internet.
Assim, ao chegar em agências como o Bradesco da Avenida Sete, os clientes são recebidos por um aviso na porta, alertando sobre a falta de
cédulas.
“Eles (os vigilantes) têm o direito de reivindicar, mas os bancos tinham que encontrar uma solução porque quem sempre paga é o povo”, destacou o aposentado Sílvio.
O também aposentado Roque Almeida, 70, disse ter perdido uma “grande oportunidade” ao encontrar o Bradesco da Avenida Sete fechado por causa da greve. “Queria fazer um levantamento sobre um empréstimo. Por causa da greve, deixei de comprar uma casa de R$ 58 mil em Mar Grande. É válida (a greve), mas traz problemas para o povo”, observou.
Outro que teve problema por encontrar a agência bancária fechada foi Geovane Abreu, 25 amos, recém-contratado de uma usina em Candeias. “Como sou novo, não tenho nem cartão da conta. Recebi uma ordem de pagamento e não tive como receber meu salário. Mas as contas não esperam”, disse Geovane, na porta do Santander.
“Na Caixa Econômica a gente não está tendo nem acesso aos caixas rápidos”, completou o aposentado Edelson Roxo, 53. Na agência da Caixa da Avenida Sete, um cartaz informava que ontem não haveria expediente.
Risco
O presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia, Euclides Fagundes, não soube informar quantos bancos reduziram os limites de saque ou quantas agências estão fechadas. “Não temos esse tipo de controle. Os bancos estão funcionando sem cédulas porque trabalhar com dinheiro e estar sem vigilante pode atrair ladrão. É um risco maior”, explicou Fagundes.
Na manhã de ontem, os vigilantes em greve fizeram mais uma manifestação, saindo em passeata do Dique do Tororó até o Pelourinho. Eles reivindicam o pagamento do adicional de periculosidade de 30%, com base na Lei 12.740, sancionada em dezembro do ano passado. Atualmente, eles recebem 18% sobre o salário.
Filas
Com o fechamento dos bancos, o jeito é partir para as casas lotéricas, onde longas filas têm se formado. “O povo está correndo para cá e as filas estão grandes demais. Não consegui no Bradesco e nem no Itaú”, disse o autônomo Gilson Santos, 51.
“Acho que o único meio é a paralisação, mas estão sendo agressivos. Ontem (anteontem) um grupo com apitos dentro do shopping queria que os vigilantes saíssem a qualquer custo. Isso é bagunça”, acrescentou Gilson.
O diretor-presidente do Sindvigilantes, José Boaventura, disse que a entidade não aprova esta conduta. “Tem companheiros fora do movimento que, por estarem revoltados, podem estar fazendo essas coisas”, admitiu. Hoje, vigilantes se concentram na sede do sindicato, em Nazaré.
Tribunal do Trabalho julga dissídio coletivo hoje
Depois de nove dias de greve e sem acordo entre vigilantes e patrões, o dissídio coletivo será julgado hoje, às 14 horas, no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), em Nazaré.
O dissídio foi ajuizado pelo Sindicato das Empresas de Segurança Privada do Estado da Bahia (Sindesp-BA) contra os sindicatos dos trabalhadores (Sindivigilantes, Sindmetropolitano – de Camaçari – e SVITABUNA – de Itabuna).
A direção do Sindvigilantes informou que a greve é mantida porque, durante as negociações, o Sindesp não ofereceu nenhuma proposta de pagamento dos 30% de periculosidade. O presidente do Sindesp, Lauro Santana, admitiu. “Não apresentamos porque eles só querem o pagamento desde dezembro, quando a lei foi sancionada, mas os efeitos da lei só podem ocorrer após regulamentação do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)”, argumentou.
Já o diretor do Sindvigilantes, Almir da Anunciação, chamou a justificativa de “conversa de patrão”. A desembargadora Sônia França, relatora do dissídio coletivo, determinou, sexta-feira, que 50% dos vigilantes voltassem ao trabalho e fixou multa diária de R$ 50 mil no caso de descumprimento ou manifestações que possam constranger ou ameaçar direitos de terceiros. “Pediram 50% trabalhando e estamos mantendo. Eles trabalham à noite e em algumas áreas que a gente colocou afastadas do Centro”, disse Anunciação, sem especificar as áreas. Fonte: Correio