Foto: Divulgação/ BandGentili revela que já pensou em ser pastor.

Acostumado a fazer piada sobre tudo e todos, Danilo Gentili sabe: “Não importa o assunto, sempre vai ter gente me odiando”. O bate-papo, ao contrário do senso comum sobre humoristas, não é engraçado. Mas o apresentador do “Agora é tarde”, que comemora dois anos na Band, não se esquiva de nenhum assunto. Gentili deixa seu recado sobre os limites da comédia e conta por que desistiu de ser pastor.

Como lidou com as críticas quando o “Agora é tarde” foi lançado?

Eu tinha consciência das dificuldades, que eu intimidava as pessoas, que tudo o que eu fazia era piada. Mas também sabia que só precisava de uma semana para mostrar que o programa traria uma novidade para o formato. Depois da terceira semana, as pessoas já chegavam com a piada. Eu me lembro que uma das coisas que me falaram antes de o programa estrear era mentira e acabou virando verdade: eu tinha um ótimo cast para ser entrevistado na semana de estreia, e aí um jornalista postou que ninguém queria ir no meu programa, que quem marcou estava desmarcando. Isso acabou virando verdade, os convidados começaram a desmarcar.

E por que acha que você intimidava as pessoas?

A minha escola de comédia é a que fala de tudo e de todos, e se você não entender que isso é humor, então, chora, porque eu não vou parar. Acho que isso assustava. Eu acho que se você for comparar com ritmo, o que eu faço é mais punk-rock. Acho que no Brasil, se você determinou que a Xuxa é a Rainha dos Baixinhos, puta merda, ninguém pode falar o contrário. Se você determinou que Roberto Carlos é o Rei, ninguém pode dizer nada. O brasileiro tem essa coisa. Uma das coisas que eu queria era catequizar os artistas e mostrar que não saber rir de si é muito chato. E eu acho que o programa não perdeu isso, agora eu faço na cara do artista e ele se diverte com isso.

E você tem jogo de cintura quando se torna o assunto da piada?

Eu sou alvo das piadas o tempo todo. No programa, eu tenho uma equipe de oito pessoas que entra no programa para fazer piada contra mim, e é por isso que os convidados se sentem à vontade. Quando o convidado vê isso, ele entende, dá risada e fica com vontade de ir ao programa.

Como o humor surgiu na sua vida?

Na época da escola, eu era aquele engraçadinho que completava a frase da professora com alguma piada. Eu era aquele cara chato. E aí eu sempre gostei da comédia, percebi o stand up quando eu nem sabia o nome. Quando o movimento chegou ao Brasil passei a fazer textos e me apresentar em bares. Aí, me chamaram para TV e agora estou aí.

Você é do tipo que se emociona com as coisas?

Eu sou um cara emotivo, mas essa emoção é rara de acontecer e, quando acontece, vem intensamente. Recentemente senti uma emoção muito grande no aniversário de dois anos do programa, quando eu pedi para tirar uma foto com todo mundo da equipe. Isso me deu muita alegria, fiquei emocionado. Não cheguei a chorar, mas não lembro da última vez que eu chorei.

Como você classifica seu humor longe dos palcos e da TV?

Eu sou mais melancólico e rabugento do que bem-humorado. Se você parar para pensar, a pessoa bem-humorada é mais chata e boba do que engraçada. Todo cara que quer ser engraçado só é chato e bobo e faz umas coisas que não tem nada a ver para fazer graça. Eu acho que eu não sou assim. As maiores piadas que fiz foram de coisas que me deixaram putos.

Você acha que se excedeu alguma vez numa piada?

Algumas vezes. E vou continuar me excedendo. As pessoas só chegam a mim porque eu produzo piada todos os dias. Para quem não gostou de uma, tenho mais de mil para ver se agrada. Não importa o assunto, sempre vai ter gente me odiando.

Incomoda ser um cara odiado?

O comediante que tem esse medo deve mudar de profissão. Ou então pega a piada de português e continua contando a mesma coisa, mas nem assim vai ter paz, porque vai ter um monte de português reclamando.

Quem você gostaria de entrevistar?

Tem muita gente que ainda não passou por lá. De cabeça, eu não tenho uma pessoa que eu gostaria de entrevistar, mas sabe que seria interessante falar com o José Genuíno e com o José Dirceu. O Genuíno não ia responder nada. Eu só ia jogar uma torta na cara dele. Ia ganhar a noite.

Você assiste a outros programas de entrevista no Brasil? O que você acha dessas atrações?

Eu acho a Marília Gabriela uma excelente entrevistadora. E o Jô Soares… Eu preciso dizer que hoje eu tenho o “Agora é tarde” porque eu cresci assistindo ao “Jô Soares Onze e meia”, no SBT, e isso me divertia muito. Antes de conhecer os originais, os papas do formato, eu já conhecia o Jô, e como eu me divertia… Eu até gostava mais dele antes, quando ia menos global e ele fazia mais maluquice.

Desde que você foi ao SBT receber o Troféu Imprensa de melhor programa de entrevista, surgiu uma forte especulação de que você iria para a emissora. Há realmente uma conversa para que isso aconteça?

Eu gosto muito do SBT. Sempre eu que sou convidado para fazer um programa lá, vou com o maior prazer, porque eles sempre foram parceiros do programa na hora de liberar convidados. Seria uma casa que eu adoraria passar. Mas eu posso dizer que hoje eu nem penso em sair da Band, por nada. Principalmente pela liberdade que eu tenho. Agora é fácil me sondar para trabalhar lá, mas era difícil quando a Band leu meu projeto e me tirou do CQC.

Li que você pensou em ser pastor. O que o fez mudar de ideia?

Aos 14 anos, comecei a ler a bíblia e achei que onde eu estava, que era a igreja católica, não era bem o que eu queria, não estava de acordo com a prática da fé que eu julgava mais correta. Eu comecei a procurar, fui parar no protestantismo e gostei muito. Pensei muito sério em ser pastor. Mas depois eu parei com a palhaçada e virei humorista. Desisti, porque fiquei com medo de que uma coisa do meu coração pudesse se tornar uma profissão burocrática. É uma coisa de amadurecimento. Hoje eu me considero monoteísta freelancer: acredito que tenha um Deus, mas não sigo igreja. *Jornal Extra