Uma proposta de medicamento capaz de tratar infecções causadas por fungos multirresistentes foi desenvolvida por professores da Universidade de Brasília (UnB). Eles asseguram que a fórmula poderia ser produzida com um custo cerca de 80% menor que os remédios convencionais para complicações do tipo, que chegam a custar cerca de R$ 40 mil.

Segundo o estudo da UnB, o novo remédio poderia ser usado para tratar pacientes contaminados por Candida auris (mais conhecido como “superfungo”, que causa infecção na corrente sanguínea com risco de morte) assim como em diversas outras doenças fúngicas, a exemplo de meningite e a criptococose, popularmente chamada de ‘doença do pombo’.

Entretanto, um dos pesquisadores, Marcelo Rodrigues, ressaltou que o projeto esbarra na falta de recursos.

“É um medicamento para tratar doenças negligenciadas, por isso não tem muito apelo na indústria farmacêutica. São doenças que atingem uma população de menor poder aquisitivo”, alertou o pesquisador.

Na sexta-feira (11/12), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) confirmou o primeiro caso no Brasil de paciente contaminado por Candida auris. O “superfungo” foi encontrado no cateter de um paciente de 59 anos, internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) de um hospital particular da cidade de Salvador, capital da Bahia.

O fungo, considerado “uma grave ameaça à saúde global”, foi identificado pela primeira vez em humanos em 2009, no Japão. Em 2016, houve relatos de surtos de infecções na América Latina, mas nunca antes no Brasil.

De acordo com a Anvisa, “já estão sendo realizadas as análises fenotípicas para verificar o perfil de sensibilidade do microrganismo” no paciente com suspeita.

Ainda de acordo com a agência federal, para acompanhar o caso e para prevenir a disseminação do fungo no Brasil, centros de informações estratégicas e de vigilância epidemiológica da Bahia montaram força-tarefa. A Anvisa segue acompanhando os desdobramentos do caso.

Testes

A pesquisa foi elaborada por pesquisadores do Instituto de Química e da Faculdade de Medicina da UnB, em um estudo iniciado desde 2013. A formulação foi testada em amostras de fungos em animais.

Os pesquisadores explicaram que o remédio seria produzido à base de Anfotericina B, um dos mais potentes antifúngicos do mercado, já usado no tratamento de diversas doenças. O custo, segundo os cientistas, “se torna mais acessível pela expectativa de utilizar tecnologia 100% nacional”.

O professor Marcelo Rodrigues, destacou que o medicamento proposto agride menos o organismo durante o tratamento, enquanto que o convencional pode sobrecarregar os rins.

“Melhoramos a formulação, tornamos ela menos tóxica para o paciente”, revela.

No entanto, os pesquisadores ainda tentam financiamento para avançar a pesquisa para a fase de testes em pacientes e então encaminhar os resultados para o comitê de ética local, primeiro passo para o reconhecimento de medicamentos.

“Com recursos garantidos, o remédio poderia ser distribuído em até dois anos”, afirmam os cientistas brasileiros.

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