No posto onde trabalha na Avenida Heitor Dias, o frentista Danilo Oliveira faz mais que abastecer carros. “Todo dia aqui, apenas de manhã, são pelo menos dez motoristas que ficam perdidos e param só para perguntar”, conta sobre o trabalho de orientação que executa na região que dá acesso aos viadutos da Via Expressa Baía de Todos os Santos.
Apesar da obra não estar 100% pronta, boa parte dos viadutos e vias do novo acesso já está aberta para trânsito de veículos. Para quem não conhece bem a região da cidade em que ocorreram as mudanças, não é difícil se perder, rodar, rodar e ter de parar para pedir ajuda. E nem adianta ligar o GPS, porque as mudanças no tráfego ainda não foram atualizadas nos principais serviços de geolocalização.
Quebra-cabeça
Logo na frente do posto onde Danilo trabalha, os motoristas desavisados encaram o primeiro desafio: o acesso à Avenida Glauber Rocha, que leva à Cidade Nova, IAPI e Caixa D’Água mudou de local.
O antigo recuo que existia para este acesso continua a existir, mas serve apenas para quem quer fazer o retorno. “Neste caso tem até placa, mas são tantas, uma do lado da outra, que às vezes o cara se passa”, continua o frentista.
O CORREIO contou 18 placas, do início da Sete Portas, a partir da Avenida José Joaquim Seabra, até o final da Avenida Heitor Dias, pouco depois do Supermercado Extra.
Quem passa pelo primeiro teste das placas e segue em frente, tem de decidir virar à esquerda para ter acesso a Glauber Rocha — mas em uma via sem pavimentação e entre caminhões e sinalizadores de trânsito, é comum o motorista não entender que aquilo é sim o caminho pelo qual deve passar com seu carro.
No final da Glauber Rocha, outro trecho confuso. Não há placas que indiquem que à direita há o acesso para os bairros Cidade Nova e IAPI, e, no outro sentido, à Estrada da Rainha, Caixa D’Água e Lapinha, por exemplo.
Quem vira à esquerda chega a uma área de barro e muito buraco onde tem de descobrir, afinal, onde começam as ruas. É um espaço abaixo dos novos viadutos, onde ficava a Praça Nélson de Oliveira.
O início da Estrada da Rainha é a maior das incógnitas. “O pessoal fica batendo cabeça às vezes pensando que é pela direita do viaduto, aí acaba subindo na rua errada”, conta o vendedor de borrachas de limpador de para-brisa Glauber Conceição, 23 anos.
A “rua errada” é a modesta Freitas Henrique, onde é corriqueiro ver carros fazendo manobra após perceber o erro. “É bom que o pessoal vem devagar, olhando, a gente aproveita pra oferecer nosso produto e muita gente acaba parando”, comemora.
A Estrada da Rainha também não tem sinalização. Lá, as placas indicam somente que, pelo viaduto, é possível chegar à Rótula do Abacaxi e ao Cabula. Com o acesso das antigas ruas transversais completamente modificados pelas desapropriações realizadas pela obra, fica difícil identificar o acesso à Ladeira do Paiva e às Ruas Professor Arthur de Macedo e Rua José Mariz Pinto.
“Quando você desce do viaduto, já cai na Ladeira do Paiva. Agora eu sei, mas na primeira vez que passei, segui direto, por que achei que era mais na frente”, conta o taxista Osvaldo Macedo, 46 anos.
Estreantes
Para quem nunca passou pelos novos viadutos, a falta de sinalização pode levar o motorista a tomar a decisão errada. Como na descida do novo viaduto da Ladeira do Cabula.
As placas indicam que por cima se chega à Heitor Dias e ao Centro. Por baixo, ao Retiro e Avenida ACM. E a Avenida Bonocô? Não aparece nas placas. O motorista só encontra uma indicação para chegar na via após ter de tomar outra decisão sem orientação, a de fazer o retorno em vez de pegar a Avenida Barros Reis.
As placas no complexo de viadutos também podem lhe fazer dar uma volta maior que a necessária para ao destino. No fim da Heitor Dias sentido Rótula, uma placa indica apenas que por cima do viaduto é possível chegar ao Shopping Bela Vista. E apenas isto.
A mesma placa não informa, por exemplo, que neste mesmo caminho, além do centro comercial é possível chegar à BR-324 e aos bairros do Cabula e Pernambués. Neste caso, o motorista que quer ir a estes bairros saberá somente o que fazer quando se deparar com uma placa indicando o caminho mais demorado.
O superintendente da Transalvador, Fabrizzio Muller, afirmou que, como as obras ainda não estão finalizadas, estudará se a responsabilidade da sinalização nas avenidas próximas à Via Expressa é do órgão. “Procederemos com a sinalização onde for responsabilidade da Transalvador”, garantiu.
O CORREIO não conseguiu contato com a assessoria da Conder, responsável pela obra da Via Expressa.
Posto na Heitor Dias vira nova rota de fuga
Problemas com sinalização e buracos diminuem a velocidade dos veículos, aumentam o congestionamento e os dão espaço à falta de educação dos motoristas. O posto de combustível da Avenida Heitor Dias é utilizado durante todo o dia como uma via alternativa à principal.
Os condutores tentam fugir da sinaleira, da retenção causada pelo ponto de ônibus e de parte dos buracos da pista. Acabam gerando filas duplas e até triplas dentro do posto. “É absurdo, às vezes a rua principal fica menos movimentada que aqui o posto. Passam por aqui como se fosse rua, em alta velocidade, em tempo de provocar um acidente”, reclama um dos gerentes do estabelecimento, Dilton Lima.
“Entra tudo, caçamba, caminhão de lixo, e o pior é ônibus. Tem o ponto e eles passam por dentro”, completou. O gerente reclama ainda que, apesar do uso do posto como via alternativa para fugir de sinaleiras ser uma infração de trânsito, nunca houve fiscalização da Transalvador.
“A gente não tem como fazer nada. Aí quem quer entrar no posto para abastecer desiste quando vê que aqui ta engarrafado”, disse. O uso de postos de combustível como rota de trânsito é uma infração grave, com multa de R$ 127,69, além de 5 pontos na carteira.