A corregedora Chefe da Polícia Civil, Heloísa Campos de Brito, falou com a imprensa na manhã desta segunda-feira (15) sobre o depoimento prestado pelo policial civil que disparou tiros que atiingiram dois jovens na madrugada de sábado (13), em um bar no bairro do Imbuí, em Salvador.
O suspeito esteve na sede da Corregedoria na manhã desta segunda-feira.
Heloísa narrou a versão do policial, que não teve o nome revelado.
"Estavam todos eles na comemoração do aniversário dele [policial], em uma barraca do Imbuí, quando aconteceu uma discussão com um pessoal que estava do lado, por causa de uma paquera com uma das garotas do grupo. Em razão disto, Leonardo [um dos baleados] teria agredido fisicamente o Flávio, que é sobrinho do policial. Ele caiu ao chão, e ele [o policial] foi para cima para separar os dois, inclusive se identificando como policial, mas que o Leonardo veio em sua direção, e ele, para se defender, desferiu o disparo. Na verdade, ele alega que fez dois disparos: um contra o Leonardo e outro contra o outro rapaz que, segundo ele, teria levado a mão à cintura. No momento ele não sabia do que se tratava, e efetuou este outro disparo", relatou a corregedora.
Os dois jovens baleados, Leonardo Moraes e Lucas Urpia, permanecem internados nesta segunda-feira.
De acordo com Heloísa Campos, este mesmo policial civil já se envolveu em uma briga com um motorista de ônibus há dois anos.
"Houve esta situação. Segundo ele, o inquérito foi arquivado na Justiça. A gente ainda não verificou a situação do inquérito. Ele respondeu a um processo administrativo disciplinar e foi apenado, já cumpriu, o processo chegou ao fim, ele foi apenado por esta situação", disse a corregedora.
Um dos garotos atingidos pelos tiros, Leonardo Moraes, é filho de uma escrivão de polícia. Leonardo é primo da cantora baiana Ju Moraes, que chegou a relatar o caso em uma rede social.
"Como Corregedoria, para nós, não é interessante divulgar [o nome do policial], até por uma razão: a gente está trabalhando também com o filho de uma escrivã de polícia.
A vítima é filho de uma escrivã de polícia. Então, até mesmo para evitar alguma situação dentro da instituição, a gente está preservando", disse Heloísa.
A corregedora complementou as informações dizendo que vai ouvir as outras pessoas que estavam com ele, além de testemunhas que estavam no estabelecimento.
"E outras pessoas que não estavam ligados a nenhum dos dois grupos porque nos interessa saber o que realmente aconteceu. A arma que ele utilizou também foi apreendida por nós, vai ser encaminhada à perícia, estamos esperando também a chegada do laudo de perícia do local do crime e, a depender do que for apurado, ele vai ser indiciado e responderá ao processo administrativo", afirma.
Criminalmente, o policial pode responder por tentativa de homicídio e lesões corporais. "Porque temos duas vítimas, e administrativamente ele pode ter desde uma suspensão até a demissão, se comissão entender que foi uma situação mais grave", explica.
A arma, uma pistola ponto 40, foi entregue à polícia pelo próprio suspeito, quando chegou para o depoimento na manhã desta segunda-feira.
O caso
A corregedoria da Polícia Civil identificou um policial como suspeito de balear dois jovens no bairro do Imbuí, em Salvador, na madrugada de sábado.
O primo da cantora Ju Moraes, participante do programa The Voice Brasil, é uma das vítimas.
Em sua página na rede social Facebook, a artista publicou uma foto do primo e diz que ele foi alvo de um policial "inescrupuloso" durante uma briga de bar.
No dia da tentativa de homicídio, o policial estava de folga.
Já foram ouvidas quatro testemunhas, todas ligadas às vítimas.
Segundo elas, a briga teria sido motivada por ciúme, envolvendo duas mulheres que estavam em uma mesa com o policial.
Reviravolta
A mudança de postura das autoridades em relação ao caso aconteceu devido aos novos fatos que surgiram na investigação do crime da menina, morta no dia 25 de junho. Dois dias depois do sumiço de Tayná, a polícia prendeu quatro homens, funcionários de um parque de diversões do município. O parque inclusive foi alvo de protesto de moradores da região, que colocaram fogo no local e quebraram brinquedos. Em depoimento à polícia, os suspeitos confessaram o crime.
Entretanto, logo após o início das investigações, a perita Jussara Joeckel, que esteve no local onde o corpo foi encontrado, afirmou que a cena analisada por ela não representava uma situação de estupro. “Isso [a menina vestida] é incompatível com violência, com embate sexual e com violência sexual”, disse.
Um exame de DNA feito no sêmen encontrado no corpo de Tayná comprovou que o material não pertencia a nenhum dos suspeitos presos. Após ouvir os quatro homens, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) decidiu denunciar a prática de tortura contra eles.
“Todos eles contam a forma como eles chegaram a um ponto onde não havia mais possibilidade de aguentarem a tortura e foram obrigados a falar o que era mandado”, afirmou a coordenadora de Direitos Humanos da OAB, Isabel Kluger Mendes.
Três delegados já foram afastados das investigações. No domingo, toda a equipe, que conta com aproximadamente 20 policiais, foi afastada da Delegacia do Alto Maracanã, em Colombo, conforme a Secretaria de Segurança Pública do Paraná. Eles haviam sido temporariamente substituídos por equipes do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), da Polícia Civil.
Nesta segunda-feira,o delegado-geral da Polícia Civil, Marcus Vinicius Michelotto, determinou que a Delegacia do Alto Maracanã passe a ser comandada pelo delegado Iacri Meneghel Abarca, que, até então, era responsável pela Delegacia de Castro, na região central do estado. Doze investigadores, dois escrivães e dois estagiários vão assumir a delegacia junto com Abarca.
Apuração rigorosa
O governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), disse, na manhã desta segunda-feira (15), que todos os policiais suspeitos de cometer tortura contra os quatro homens presos após a morte da adolescente "serão punidos". "Nós temos uma apuração rigorosa com acompanhamento do Ministério Público e da OAB e todos os envolvidos, direta ou indiretamente, nesta prática de tortura serão punidos e a prisão dos que já tem identificado como responsáveis já está decretada", relatou.
'Coração está despedaçado'
"Está sendo muito difícil. Tudo lembra ela. Eu fico esperando que ela pudesse voltar e entrar por aquela porta ali, mas sei que isso não vai acontecer. Ela não era de ficar na casa de ninguém. Se ficasse, ela ligava para perguntar e dizer. Ela era uma menina muito querida, inteligente, meiga, estudiosa e tinha muitos amigos", desabafou a mãe de Tayná, Cleuza Cadomá da Silva.
Na época do desaparecimento da filha, a mulher havia relatado que Tayná tinha saído de casa para ir até a casa de um amigo. Como ele não estava em casa, a garota seguiu para a casa de uma amiga. Tayná chegou a mandar uma mensagem de texto pelo celular para a mãe dizendo que estava voltando para casa, mas desapareceu. "Esse crime não vai ficar impune porque eu não vou deixar. Eu sempre vou correr atrás, eu quero notícia, eu quero informação (…). Meu coração está despedaçado", afirmou Cleuza.
As informações são do G1