O zagueiro Nen deixou o Bahia ao final de 2011 sem muito destaque, mas a marca da sua passagem pelo clube segue lembrada pela torcida e, principalmente, por ele mesmo. Prejudicado por lesões, o jogador de 34 anos não entra em campo desde o dia 3 de abril daquele ano, quando o Bahia perdeu por 1 a 0 para o Bahia de Feira no Joia da Princesa, pelo Baianão – foram apenas quatro jogos em 2011.
Mas ele quer recuperar o tempo perdido e reeditar o ano de 2010, quando ajudou o Bahia a voltar à Série A do Brasileiro como capitão. Como um garoto que aguarda a estreia no profissional, ele treina no Gama, time que o revelou, e vive a expectativa de voltar a jogar futebol após quase dois anos de agonia.
Em entrevista ao iBahia Esportes, por telefone, Nen relembrou os problemas que viveu nos últimos anos, falou sobre o retorno aos gramados e também dos bons tempos de Tricolor. "Quero voltar e virar treinador do Bahia". O zagueiro também manda um recado para o lateral-esquerdo Ávine, que também pena com problemas no joelho. "Não pode desanimar, ele é guerreiro".
Nen vestiu a camisa do Esquadrão de Aço de 2009 a 2011, fazendo 116 partidas e marcando 12 gols. Um desses tentos foi o do acesso à elite, aos 47 minutos do segundo tempo de Bahia 3×0 Portuguesa, em Pituaçu, em um 13 de novembro. Tá na história. Depois do período distante dos gramados, chegou a hora. "Passei 2011 e 2012 me recuperando. Falei que só ia voltar se estivesse 100%. Agora estou".
Quando você poderá voltar a jogar?
Acho que daqui a uns 10 dias a gente está apto para voltar. Já estou começando a fazer trabalho com bola e o ritmo está bem melhor. O negócio é pegar o primeiro jogo, voltar aquele ambiente, sentir aquela coisa novamente. Estou confiante e ansioso. Quando comecei a treinar no Gama, o telefone começou a tocar. Até recebi algumas propostas e resolvi não aceitar para primeiramente fazer um trabalho no Gama, que está me dando uma estrutura muito boa, apesar do clube viver um momento difícil. Acho que é retribuir isso e fazer o meu melhor quando estiver bem.
Como foi todo esse tempo longe do futebol?
Comecei a treinar tem 20 dias. Tava parado por causa de uma lesão que tive até no próprio Bahia e não conseguia recuperar, não conseguia constatar direito o que era, aí fiz uns exames em São Paulo e conseguiram saber o que era. Fiz fortalecimento, tomei algumas injeções e aí chegou no meio do ano e tive problemas de família. Resolvi primeiro resolver e dei uma parada no meu tratamento. Decidi ver essas questões familiares e graças a Deus consegui. Aí tava treinando com um personal e recebi o convite do Gama e comecei a treinar lá para assinar caso estivesse bem. E as coisas estão caminhando, a gente está fazendo um bom trabalho. Espero que a gente possa ajudar. Eu ainda não tenho nada assinado com eles, mas o trabalho está sendo bem feito e provavelmente a gente possa participar do campeonato local.
Em 2011, você chegou a dizer em entrevista ao jornal Correio* que às vezes dava vontade de largar tudo. Como está sua cabeça agora?
Naquela época eu falei, não me arrependo. Era muita contusão, fiquei praticamente um ano sem jogar, sempre lesionado, em uma equipe grande, uma equipe que você tinha todo respeito, todo respaldo, uma equipe que eu aprendi a gostar. Os torcedores que me viam na rua sempre me respeitaram, sempre me apoiaram, me perguntavam porque que eu não estava jogando. Consegui chegar aí no Bahia e a equipe conseguiu subir para primeira divisão. Acho que isso é um marco, você fica na história. Então eu tentava fazer de tudo, ficava indo de manhã e à tarde no clube, fazendo tratamento até de noite, porque eu tinha que retribuir o carinho do pessoal. Quando você resolvia uma coisa, o joelho já acusava outra coisa, e naquele momento eu fiquei meio pirado e falei que dava vontade de largar tudo. Dava mesmo. Era muito esforço que eu fazia, largava família e ia lá para o clube tentar me recuperar e não conseguia. Eu não tenho nada a reclamar do Bahia, o Bahia me deu todo o tipo de assistência. Infelizmente a lesão não conseguia ser constatada para me recuperar. Mas agora não, graças a Deus eu estou recuperado, fiz um trabalho legal de fortalecimento, fiz academia, uma fisioterapia boa, e agora estou de volta aos treinamentos no Gama, fiz os exames todos que um jogador faz. Agora estou apto a jogar e quem sabe a gente possa fechar com o Gama ou qualquer outra equipe para tentar levar a carreira mais adiante, porque acho que com 34 anos, você se preparando, se cuidando bem, dá para seguir um bom tempo.
Você teve bons momentos jogando no Gama, no Palmeiras e no Bahia. Onde você teve a melhor passagem?
São situações diferentes. No Gama peguei uma fase áurea em que a equipe estava na primeira divisão, consegui vários títulos, consegui subir da Série B para Série A. No Palmeiras consegui título paulista, Copa dos Campeões… Ficar cinco anos numa equipe como o Palmeiras é gratificante e é difícil para o jogador. E fiquei, lá o pessoal sempre me respeitou. Mas acho que no Bahia foi diferente, porque eu já cheguei com esse status de ser jogador tanto do Palmeiras como até mesmo do Atlético-MG. Então a responsabilidade era bem maior, porque você já tinha bagagem, você já tinha uma certa experiência. Eu cheguei como um cara que tinha que dar a resposta já de imediato pela história que eu tinha no futebol. E graças a Deus a gente conseguiu e foi diferente, ainda mais pela situação em que o Bahia se encontrava naquele momento, que era difícil. O Bahia está no topo ali e não tem como esquecer.
Tem acompanhado o Bahia?
Todo dia estou na internet acompanhando. Fiquei triste no último episódio aí em que o time não se classificou na Copa do Nordeste, mas tem o Campeonato Baiano, tem a Copa do Brasil, o Brasileiro. Sempre estou acompanhando, vendo quem está chegando, quem está saindo. Foi um time que eu aprendi a gostar, que eu tenho respeito, e profissionais que eu admiro.
Quais os melhores amigos que você fez nos tempos de Bahia?
Tinha o próprio Jael, o próprio Morais, os meninos da comissão técnica. Sempre estava batendo um papo para saber sobre o clube, botar o papo em dia, pois já faz muito tempo que eu estou longe. A gente está sempre conversando, amizade não tem preço, ainda mais você jogando futebol, que é uma caixinha de surpresas, você acha que é amigo de um e ele vem e te derruba. No Bahia eu fiz muitos amigos e a gente não pode deixar de mão, não.
O último gol que você marcou foi justamente o do acesso no jogo contra Portuguesa. Foi o mais importante da sua carreira?
Esse gol aí, pelo momento do Bahia, foi o mais importante. Tiveram outros no início de carreira aqui no Gama, contra o Flamengo, contra o São Paulo. Mas pelas circunstâncias que o Bahia se encontrava, esse aí foi o mais importante.
Qual técnico marcou mais sua vida no futebol?
Tem vários treinadores que eu admiro, mas eu gosto muito de treinador que motiva. Treinador motivacional, que chega e entra na cabeça do jogador. Eu cito dois, mas tem treinadores aí excepcionais. Tem dois motivacionais que eu trabalhei, que são o Tite e o Márcio Araújo. Com o Tite eu tive no Palmeiras e o Márcio no acesso do Bahia. São dois treinadores que eu tiro o chapéu. Eles conseguem colocar as coisas na cabeça do jogador, fazem o jogador se sentir importante. Mas já trabalhei com Jair Picerni, o Leão, o Luxemburgo, são treinadores acima da média.
Você pensa em virar treinador um dia?
Sim, penso sim. Acho que não consigo sair do futebol. Essa raiz já está comigo. Tenho escolinha, tem alguns jogadores que a gente está observando para colocar em algumas equipes, e espero um dia trabalhar no Bahia, retribuir o que fizeram por mim e fazer pelos outros. Quem sabe um dia eu possa receber um convite, não por agora, a gente sabe que lá tem os profissionais, mas no dia que precisar de mim eu vou voltar de braços abertos.
Ávine vive drama parecido com o seu na carreira por conta de seguidas lesões e quase não jogou em 2012. Que conselho você daria para ele?
Não desanimar. Ele é mais novo do que eu. Pra mim era muito mais difícil, você chega em certa idade e seu joelho, menisco, já fica mais desgastado. O joelho dele por ser mais novo acho que dá para melhorar. A gente está torcendo. Fiquei triste aí porque ele fez uma cirurgia e logo depois que fez uma partida veio a lesão de novo. É um parceiro que eu tenho, estou sempre mandando forças para ele. É um cara que não pode desanimar. Ele tem uma história no clube, o torcedor sabe que pode contar com ele, é um cara que quando está dentro do campo não se entrega. A torcida sempre tem que apoiar bastante. Ele é um cara guerreiro. Tem que ter pensamento positivo. A torcida gosta dele. Tendo uma torcida dessa do seu lado é um estímulo a mais. Torço por ele, é um menino bom. Quando cheguei aí tinham muitas histórias dele negativas e depois que eu cheguei aí vi esse menino crescer. Ele só tem a melhorar e é merecedor.
O Gama perdeu hegemonia do futebol em Brasília há alguns anos. Dá pra retomar?
Com certeza, ainda mais pelos profissionais que lá se encontram. Antes tava muita briga e briga política é complicado no futebol. Agora não, agora eles conseguiram ajeitar bem, colocaram um presidente que é torcedor mesmo e tem tudo a crescer. Aquilo ali tava uma bagunça, hoje não. Saí do Gama em 2003, no ano do último título (Campeonato Estadual) e de lá para cá não teve mais título. O Brasiliense chegou na hegemonia, mas tá na hora do Gama se erguer de novo. Hora da retomada. O time também tem um bom treinador que é o Vitor Hugo. Ainda tem o segundo turno no campeonato, ainda temos chance no primeiro (time está na semifinal). Vamos brigar aí para chegar ao título e colocar o clube na Série D.
Uma mensagem para torcida do Bahia.
Deixar uma mensagem de agradecimento. Eu joguei em outras equipes de massa, mas a torcida do Bahia é diferente. Acho que não tem coisa que pague você chegar num lugar e ser bem recebido. A torcida do Bahia é maravilhosa. Só tenho a agradecer pelo que fizeram por mim. É uma coisa inexplicável, que arrepia. A mensagem é de muito obrigado. O Bahia está no sangue. Fonte: Ibahia