A sentença do caso envolvendo nove integrantes da extinta banda de pagode New Hit e um policial militar deverá ser proferida pela juíza Márcia Simões, titular da Vara Crime da Comarca de Ruy Barbosa, até o mês de dezembro. A estimativa é do advogado Leite Matos, que defende um dos réus.

"Agora a defesa e a acusação têm cinco dias para requerer ou não diligências. Depois são feitas as alegações finais. A juíza vai ler, avaliar todas as peças e dar uma decisão justa", explica Matos.

Por meio de nota, o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) também destacou a impossibilidade da sentença ser determinada pela juiza logo depois da audiência. "Após essa fase processual com o interrogatório dos réus, não será possível a prolação imediata de sentença da magistrada, uma vez que o Ministério Público do Estado da Bahia e os advogados que representam os réus poderão requerer diligências (possíveis provas complementares)". Após esta fase, defesa e acusação apresentam as suas alegações finais por escrito à juíza. A partir daí a juíza irá analisar o caso e proferir a sentença.

Os músicos são acusados de abusar sexualmente de duas adolescentes após um show no ano passado. Na terça-feira (17) e quarta-feira (18) foram realizadas audiências de instrução no Fórum de Ruy Barbosa. Durante essa fase do processo, a juíza responsável pelo caso, os advogados de defesa e a promotora de Justiça Marisa Jansen interrogam supostas vítimas, acusados e testemunhas. A previsão inicial era de que as audiências fossem realizadas até esta quinta-feira (19).

Leite Matos avalia como positiva a audiência de instrução e acredita na inocência dos réus. "Acredito na prova do processo. Acho que ela é muito rica. A juíza não permitiu que houvesse qualquer tipo de ameaça. Todas as testemunhas que foram ouvidas deram depoimentos isentos. Eu tenho certeza que a verdade real saiu", afirma. O G1 procurou a promotora Marisa Jansen na manhã desta quinta-feira para comentar o caso, mas foi informado que ela estava em audiência.

No primeiro dia de audiência foram ouvidos seis ex-integrantes da banda, além do policial militar que acompanhava o grupo no dia do ocorrido. Já no segundo dia foram interrogadas outras três pessoas. Elas responderam às perguntas da juíza Márcia Simões e dos advogados de defesa, mas preferiram usar o direito constitucional de permanecer em silêncio diante das perguntas da promotora de Justiça Marisa Jansen, informou o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA).

Reforço policial

O policiamento para a realização da audiência foi reforçado em Ruy Barbosa após os advogados de defesa alegarem insegurança na última sessão realizada no dia 3 de setembro. A juíza acatou a argumentação e suspendeu o processo, mas exigiu o aumento do efetivo policial.

Segundo o capitão Capinam da Polícia Militar, 18 homens fazem o policiamento na região do Fórum, enquanto outros 12 estão distribuídos pela cidade. O número é quase o dobro da quantidade de policiais que trabalharam no dia 3 de setembro, quando 16 homens foram às ruas.

Presença de sêmen

Na primeira audiência realizada, os exames de DNA apresentados pela Promotoria indicaram presença de sêmen de 6 dos 10 integrantes da banda de pagode New Hit nas roupas das vítimas. "Segundo o DPT [Departamento de Polícia Técnica], foi confirmado o DNA de seis deles nas vestes delas. São peças diversas. Isso prova que foi mais de uma pessoa, corrobora com as versões das vítimas para o caso, de que elas foram violentadas por vários", disse a promotora Marisa Jansen. Segundo ela, o fato do sêmen de seis dos suspeitos terem sido encontrados nas peças de roupas não exclui a participação dos outros quatro na ação contra as adolescentes.

A audiência do dia 3 ouviu uma testemunha de defesa, pela manhã, e interrogou um dos sócios da banda na época à tarde.

A Promotoria informa que o ex-sócio afirmou que a relação sexual foi consensual, como argumentado pela banda desde o início do processo.

As adolescentes apontadas como vítimas do abuso não foram ao fórum da cidade. Elas foram representadas por uma advogada do Centro de Defesa da Criança (Cedeca), Isabela da Costa Pinto, que afirmou esperar a condenação dos réus e destacou o quanto as meninas tiveram a vida abalada pela suposta agressão.

Fim do grupo

O empresário Jorge Sacramento anunciou na quarta-feira (11), através de nota oficial, o fim da banda New Hit.

“Quero me dedicar exclusivamente a um novo produto, e com tantos problemas agregados à banda não estava conseguindo focar as coisas. Como não sei trabalhar nada pela metade, para evitar interpretações erradas resolvi dar um ponto final ao projeto. Quem sabe um dia eu retomo com outra formação”, comentou o empresário Sacramento.

Um ano do caso

O caso completou um ano no dia 28 de agosto, sem desfecho. Em 2012, nove integrantes do grupo foram presos sob a suspeita de estupro contra duas adolescentes de 16 anos, após um show realizado em trio elétrico em Ruy Barbosa. Mesmo sem desfecho, acusação e defesa acreditam que o processo está perto de chegar ao fim.

Entre os envolvidos no caso, estão dançarinos, um segurança, que é policial militar, o cantor do grupo e outros músicos da New Hit.

Sem definição do caso na Justiça, as duas adolescentes foram encaminhadas ao Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM) em setembro de 2012. No entanto, Ailton Santos Ferreira, Superintendente da Secretaria da Justiça Cidadania e Direitos Humanos, que gere o PPCAAM, afirmou ao G1 que uma das jovens deixou o programa em abril deste ano após solicitação da mãe.

Os músicos retomaram a rotina de shows ainda em 2012. No dia 30 de dezembro eles realizaram, em Feira de Santana, a cerca de 100 Km de Salvador, a primeira apresentaçãoapós serem presos. No dia 5 de outubro, a participação da banda New Hit no Festival de Pagode, na capital baiana, foi cancelada. Na ocasião, a assessoria da banda alegou que os integrantes da New Hit não tinham condições psicológicas para realizar a apresentação.

*G1.