Na última quarta-feira (5), cerca de 120 cegonheiros pararam as atividades no pátio da Ford, em protesto ao descumprimento do acordo firmado entre os profissionais da categoria da Bahia, a montadora e o Ministério dos Transportes.
O acordo prega que 30% do transporte de veículos produzidos pela Ford seja feito pelos cegonheiros da Bahia, o que não acontece. Sem trabalho, muitos estão com as finanças prejudicadas e alguns devendo meses de prestação de financiamento das carretas cegonha que adquiriram para trabalhar.
O caso tem criado polêmica e gerado novos fatos. O funcionário público de Camaçari, Antonio Cotrim, afirma emno perfil no Facebook, que os cegonheiros paulistas integram um cartel beneficiado por grupos políticos poderosos de São Bernardo do Campo, em São Paulo. Sem dar nomes, Cotrim deixa a entender também a participação de um ex-presidente, supostamente da República. Na postagem o servidor cobra resolução. “Autoridades tomem providências! Cartel é crime!”, declarou.
A situação é considerada grave e tensa. Fontes ligadas ao PORTAL BAHIA NO AR, revelaram que o incêndio que destruiu completamente um caminhão tanque e uma carreta cegonha, na última sexta-feira (31), foi criminoso e tem como autores cegonheiros paulistas. O fato aconteceu no pátio de um posto de combustível, em Camaçari, e está sendo investigado pela 18ª Delegacia Territorial (DT) do município.
A mídia estadual já começa a dar visibilidade ao caso, considerado uma “guerra”, pelo jornal Tribuna da Bahia, conforme publicação da última quinta-feira (6).
Veja a matéria na íntegra:
A “guerra” criada por um cartel de empresas de cegonheiros (transportadores de veículos em caminhões) de São Paulo contra os transportadores baianos da Ford, em Camaçari, ligados ao Sintracam (Sindicato dos Cegonheiros da Bahia) pode ter lances delicados hoje, na área da empresa na Bahia. De acordo com informações do Sintracam, os paulistas prometem fazer grande pressão contra os baianos. Fontes de sindicato denunciam, inclusive, que pelo menos 50 pessoas (entre elas, “pistoleiros”) teriam sido chamadas para o enfrentamento de hoje.
O problema da discriminação contra os cegonheiros baianos vem de pelo menos dois anos, sendo que o cartel paulista teria dado dois prazos (31 de dezembro de 2013 e 31 de janeiro último) para entrar em acordo, mas esses prazos não foram cumpridos.
Desta forma, houve uma paralisação no transporte, como protesto dos baianos e com apoio também de cegonheiros do grupo paulista, e centenas de veículos da Ford de Camaçari estariam no pátio aguardando o fim do impasse para que seja realizado o transporte.
Os transportadores paulistas, que monopolizam até agora o transporte dos veículos da Ford de Camaçari, são compostos por cinco empresas: Tranzero, Transauto, Brasul, Tegma e Dacunha, sendo que a Brasul seria a líder do grupo, comandada por Gilberto Portugal.
Do lado baiano está a Transcar, filiada ao Sindicato dos Cegonheiros da Bahia, que denuncia que o cartel paulista “não deixa os cegonheiros baianos a entrar no sistema de transporte, numa clara discriminação.”
De acordo com fontes do sindicato, os paulistas “ameaçam a Ford com um boicote nacional ao transporte de seus veículos, caso os baianos entrem no processo.” A paralisação no transporte terá hoje (7 de fevereiro) o seu dia D e conta com o apoio de motoristas paulistas, e a expectativa é de que ocorra até algum enfrentamento, caso não se adote um consenso. Lembram os cegonheiros baianos que esse problema vem de quase dois anos e que diversos apelos já foram feitos, inclusive, ao governo da Bahia, mas sem nenhuma solução.
Advogado vai denunciar cartel
O Sindicato dos Cegonheiros da Bahia já constituiu advogado, Marcos Rosa, que está ingressando com ações em dois níveis. Uma em relação ao CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que pode detectar a formação de cartel e estabelecer punições que devem mudar o perfil do setor em todo o País, e outra, a Justiça baiana.
De acordo com Marcos Rosa, “a cidade de Camaçari possui, atualmente, uma única montadora (Ford do Brasil) e conta com a perspectiva de receber em futuro próximo a Jac Motors. Toda a produção escoada pela Ford do Brasil, a partir da cidade de Camaçari, é transportada por caminhões de empresas sediadas fora do Estado da Bahia. Mais ainda, curiosamente as empresas que atuam para a Ford do Brasil, na Bahia, são as mesmas que operam na distribuição de veículos de diversas outras montadoras do país (Brazul, Transzero, Transauto e Tegma). Os empresários e trabalhadores autônomos da Bahia tem absoluta impossibilidade de prestar serviços à Ford em sua montadora na Bahia, pois a própria fabricante de veículos, por meio de prepostos, se diz receosa de uma retaliação logística das atuais prestadoras de serviço.”
O advogado prossegue esclarecendo: “Ou seja, todas as características de formação de cartel se encontram presentes, autorizando a adoção de medidas judiciais e administrativas adequadas. A prática realizada pelas empresas que atualmente ofertam serviços de transporte de veículos à Ford na Bahia, não apenas prejudicam financeiramente os empresários e trabalhadores baianos do setor, como configuram crime na forma do art. 4, I, da Lei Federal n. 8.137/90 e se constituem em infração administrativa de acordo com a Lei Federal n. 12.529/2011. Tanto a Justiça baiana, com o auxílio do Ministério Público, poderá intervir na questão, quanto o Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE será instado a se manifestar.”
Ele conclui afirmando que “o sindicato da categoria não ficará omisso diante da arbitrariedade imposta pelo cartel de empresas aparentemente formado pela Brazul, Tranzero, Transauto e Tegma, quanto buscará as medidas adequadas para que a Ford no Estado da Bahia passe a contratar empresas baianas em sua cadeia de logística. As penalidades poderão variar de simples multas, até mesmo a prisão dos empresários envolvidos no cartel, com possibilidade, ainda, de dissolução das próprias empresas pela prática de crime contra a ordem econômica.” As informações são do Tribuna da Bahia.