Na manhã desta quinta-feira (2), data que marca a celebração da Independência da Bahia, Salvador contou com um evento simbólico em homenagem ao dia. No entanto, como já era esperado, durante uma coletiva de imprensa, realizada no momento do ato, o prefeito da capital, ACM Neto (DEM), e o governador da Bahia, Rui Costa (PT), lembraram os esforços na batalha constante de enfrentamento da crise sanitária provocada pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19).

No total, segundo o último boletim da Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), divulgado na noite de ontem (1°), a Bahia já soma 76.485 casos confirmados da Covid-19, com 1.902 óbitos em decorrência de complicações motivadas pela doença.

“Hoje fazemos uma homenagem a uma grande batalha que significou não só a independência da Bahia, mas também do Brasil, que se materializou com a luta do povo baiano. Só que hoje o povo baiano vive outra batalha, uma batalha contra um ser invisível, que a ciência ainda busca explicar o seu modus operandi: explicar a razão de que em algumas pessoas os sintomas são leves, e em outras, mesmo pessoas jovens, é letal, mata rapidamente, em poucos dias. Isso traz um trauma gigantesco”, começou o governador.

“A batalha no Brasil é longa demais, nosso país não escolheu a estratégia correta, minimizou o adversário. E toda vez que você minimiza o adversário, seja na guerra, seja no esporte, você tende a ser derrotado. Quem entra de sapato alto, exércitos que enfrentam países mais frágeis e cantam vitória antes da hora, saem derrotados. Entre os ensinamentos que esse vírus traz, fica esse, que não é possível minimizar o valor da vida humana”, completou Rui.

Já Neto, em seu discurso, iniciou homenageando os profissionais de saúde que estão atuando na linha de frente do combate ao novo coronavírus. De acordo com a Sesab, já são cerca de 9.005 trabalhadores da categoria que foram diagnosticados com a doença na Bahia, desde o início da pandemia.

“Vejam o drama que nós todos em Salvador e na Bahia. De certa forma, é um momento histórico. No passado, os heróis lutaram pela nossa independência, da independência do país. Hoje, no presente, temos muitos heróis em luta. A batalha é outra. Não é de armas, enfrentamento físico, que traz sangue e vítimas. A batalha hoje está sendo travada nos leitos hospitalares, nos 163 bairros dessa cidade, nos 417 municípios da Bahia. Neste momento não podemos deixar de homenagear os heróis do presente. Os profissionais da saúde, que estão na linha de frente, arriscando a vida para salvar a do próximo”, afirmou Neto.

“Todos estamos acostumados no Dois de Julho a atravessar no meio de uma multidão, da Lapinha até a Praça da Sé, ou ao Terreiro, para quem encerra o desfile um pouco antes. Os grandes eventos da Bahia pressupõem isso. Junção de pessoas, aglomeração de gente. É uma característica do nosso povo. Nesse momento, nós todos precisamos desse gesto simbólico, mostrar que a forma da gente melhor homenagear a todos que lutaram pela nossa história é respeitando a distância, entendendo que nesse momento a proximidade pode matar. Por isso, aqui minha homenagem ao Dois de Julho, a todos nossos heróis do presente. Principalmente para aqueles que estão lutando para salvar a vida dos baianos e soteropolitanos”, estendeu o gestor soteropolitano.

Comércio

A reabertura do comércio também foi pauta da coletiva. Desde o último fim de semana, Rui e Neto já conversam para definir um protocolo conjunto com regras para o relaxamento das medidas que envolvem a economia.

Na terça-feira (30), o prefeito prorrogou até o dia 7 de julho o decreto que impede o funcionamento de estabelecimentos não essenciais. A expectativa é de que prefeitura e governo anunciem o plano de retomada da economia nos próximos dias.

No entanto, tanto o governador quanto o prefeito de Salvador, asseguraram que a pressão por uma flexibilização imediata das atividades comerciais ainda é exercida por entidades que representam lojistas baianos.

“Ontem recebi uma correspondência da Federação do Comércio pedindo que o estado abra o comério. Qual o limite de mortes que temos que aceitar para abrir tudo de qualquer jeito? É aceitável 1,5 mil mortes por mês. Fica parecendo que aqui tem autoridade que decide sozinha o futuro das pessoas. O que a população baiana quer? Admitir 3 mil mortes por mês? Se abrir, vai dobrar. Uma semana depois, vai dobrar o número de mortes. Não podem dizer que não sabem o que vai acontecer”, informou Rui.

Em seguida, Neto reforçou a fala do governador e alertou que a abertura do comércio sem protocolos pré-definidos pode resultar no colapso do sistema de saúde.

“Ontem tive uma reunião com representantes comerciais. Atualizei as informações, expus o cenário. Aliás, é uma prática que venho procurando adotar desde o início da pandemia. Diálogo, abertura para ouvir os argumentos, e também apresentação de todas as informações que estão pautando as decisões da prefeitura. Informei que estamos em um processo de diálogo diário com o governo do estado. Qual é a base fundamental das nossas decisões? Impedir o colapso no sistema de saúde em Salvador. Todas as decisões que tomamos de 13 de março para cá, quando editamos o primeiro decreto municipal, foram nesse sentido”, disse o prefeito.

“O que pode haver de pior, de mais grave, em Salvador, é multiplicar o número de pessoas precisando de internação hospitalar, procurando UPA’s e hospitais, mas encontrando as portas fechadas por falta de leitos. Aí vai acontecer o que aconteceu em muitas cidades do Brasil e do mundo, inclusive em países ricos, que é mais doente do que leito para atender às pessoas. Quem paga por isso são os mais pobres, que têm condições menores de se defender”, complementou.

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