“Camaçari é uma cidade fantástica”, foi com essa frase atribuída de patriotismo que o historiador e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Edvaldo Junior, começou a entrevista, que marca a última matéria da série ‘Viva Camaçari’, produzida pelo Bahia No Ar, em homenagem aos 261 anos de Camaçari, à ser celebrado neste sábado, 28 de setembro.

Edvaldo Junior, historiador e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA). (Foto: Reprodução / Instagram)

Conforme explicou Edvaldo, a fundação da cidade começa a partir da chegada dos jesuítas (membros da Companhia de Jesus, uma ordem religiosa católica romana fundada por Santo Inácio de Loyola), datada em meados do século XVI, quando o município era considerado uma vila. Mas, é a partir do século XVIII que a evolução municipal ganha “renovadoras” proporções.

“Em meados do século XVIII o Marquês de Pombal assume Portugal e faz algumas mudanças administrativas no país. Ele expulsa os jesuítas dos territórios portugueses e também das terras de Camaçari. Nessa saída, o que era a Vila do Divino Espírito Santo, de Nova Abrantes, passa a ser somente Vila de Abrantes, e é através desse desmembramento que, de fato, vai surgir Camaçari, primeiro como Montenegro, para depois torna-se conhecida com o nome atual”, começa.

“Já no início do século XX, a sede de Camaçari, que seria Abrantes, vem pra onde hoje é a sede do município e Dias D’Ávila, que pertencia ao município de Camaçari, ainda no século XX é desmembrada e Camaçari toma o contorno geográfico que conhecemos atualmente, passando por alguns ciclos econômicos e culturais importantes como a chegada do Polo [Petroquímico], na segunda metade do século XX”, complementa.

A partir da chegada do polo, o município se estrutura com uma nova perspectiva econômica e social, modificando a forma como era visto por outras localidades e classes sociais, conforme destaca Edvaldo. “Camaçari, até então, era vista como vilarejo. Era um local onde aqueles que moravam na capital [Salvador], como juízes médicos e pessoas da alta sociedade, vinham para veranear”, pontua.

E prossegue, “esse formato de como a metrópole enxergava Camaçari está registrado [atualmente] em nossa orla, nas partes de Guarajuba e Jacuípe. As casas que estão muito próximas das praias são casas de veraneio. Esse fato atual tem ligação um pouco com o formato que Camaçari tinha antes da chegada do polo”.

Foto: Reprodução / Sindiquímica

E o Polo Petroquímico foi o grande detentor na formação de bairros tradicionais do município, a exemplo das ‘Glebas’.

“Com a chegada do polo a cidade vai mudar totalmente o contorno. Passa a ser um local de moradia, surgindo as Glebas A, B e C, que são condomínios construídos para abrigar esses trabalhadores que viam trabalhar no polo”, revela.

A história de outro bairro importante da sede também ganha ênfase nessa fase de expansão do município. “O Inocoop vai surgir para os moradores do alto escalão que vinham trabalhar no polo”.

Entretanto, segundo o historiador, “esse alto escalão não consegue ver em Camaçari a estrutura econômica que eles estavam acostumas, levando em consideração que são pessoas que migraram de São Paulo, do Rio [de Janeiro], de Minas [Gerais] e até de outros países que estavam acostumados com grandes cidades. Ao chegarem em Camaçari, eles acabam se deparando com uma estrutura deficitária e aí preferem ir pra Lauro de Freitas, por isso que Lauro nesse mesmo período vai tem um ‘boom’ habitacional, sobretudo de pessoas que tem altos recursos financeiros”.

Fábrica da Ford em Camaçari. (Foto: Reprodução / interiordabahia.com)

Dando seguimento à eclosão socioeconômica, a “cidade industrial”, como é conhecida por muitos, vive um outro grande momento apontado por Edvaldo, que é a vinda da Ford – multinacional estadunidense fabricante de automóveis, sediada em Dearborn, Michigan, um subúrbio de Detroit.

“A chegada da Ford vai dar uma nova repaginada no nosso município. Junto com a Ford vai vir o que eu chamo de ‘Cadeia Secundária’ da Ford, formada por exemplo, pela Continental e outras empresas ligadas ao setor de montagem industrial, que acabam trazendo para a cidade um novo ciclo econômico, um novo momento de migração. As pessoas passam a ver em Camaçari uma cidade de oportunidades; ela ganha um status de grande cidade”.

Presentemente, Júnior define Camaçari como a “cidade mais importante da RMS [Região Metropolitana de Salvador]”, isso porque, em sua avaliação, o município “consegue influenciar outras cidades como Simões Filho, Dias D’Ávila, Mata de São João. Os moradores dessas localidades se deslocam para Camaçari com o objetivo de consumir nossos serviços, como cinema e festas; eles buscam esses serviços que não tem lá [em seus municípios]”.

Presente

Questionado pela repórter Dani oliveira, do BNA, sobre qual presente oferecia ao município nesses 261 anos, Edvaldo Júnior, respondeu: “Eu costumo dizer que temos uma grande cidade, com muita vitalidade mas, para mim, a coisa mais importante é o povo; a população são as pessoas que trabalham, que constroem o futuro da cidade. Se eu fosse dar um presente hoje seria o desejo que as pessoas da nossa cidade pudessem se envolver mais com a vida pública para que, assim, a gente possa escolher representações próximas dos nossos desejos e anseios pensando na pluralidade”, finaliza.

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