Durante um banho, a estudante Joana* descobriu um carocinho, parecido com uma espinha, na região genital. Não sentia dor, mas decidiu procurar um médico para descobrir o que era. A ginecologista logo lhe deu o diagnóstico: era HPV. O vírus, que infecciona a pele ou as mucosas, principalmente por meio de contato sexual, atinge grande parte da população em todo o mundo. Normalmente, este vírus é eliminado pelo próprio corpo, sem causar problemas à saúde. Mas é preciso esclarecer que também pode provocar o aparecimento de lesões e até câncer de colo de útero, considerado um dos piores cânceres.
Como mais uma forma de prevenção da doença, o Ministério da Saúde anunciou a vacinação gratuita de meninas de 10 e 11 anos contra o papilomavírus (HPV), a partir de 2014. A meta é vacinar 80% desse público-alvo, o que corresponde a 3,3 milhões de pessoas.
A escolha da faixa etária foi baseada em evidências científicas, estudos sobre o comportamento sexual e a avaliação de especialistas que atuam no Comitê Técnico Assessor de Imunizações (CTAI) – órgão vinculado ao Ministério da Saúde.
A vacina que estará disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) é a quadrivalente, usada na prevenção de quatro tipos de HPV (6, 11, 16 e 18). Dois deles (16 e 18) respondem por 70% dos casos de câncer e os outros (6 e 11) podem causar verrugas.
Esse último foi o caso de Joana. Ela não chegou a desenvolver um tumor, mas ficou muito preocupada com a possibilidade. “Quando fiz o tratamento, só fui cair na real mesmo quando fiz a cauterização. Porque você se sente um pouco mutilada. Fica aquela ferida e até cicatrizar, até melhorar tudo direitinho você já pensa em milhões de coisas”, lembra.
Ela não havia tomado a vacina antes de começar a ter relações sexuais. Mas agora considera prioridade a aplicação desse e outros métodos preventivos, como o exame Papanicolau e o uso de preservativo em qualquer tipo de contato sexual. “Hoje em dia eu me cuido indo ao ginecologista de seis em seis meses e usando camisinha sempre”, acrescenta.
A introdução da vacina SUS foi possível por conta da Parceria para o Desenvolvimento Produtivo (PDP), com transferência de tecnologia entre o laboratório internacional Merck Sharp & Dohme e o Instituto Butantan, que passará a fabricar a vacina no Brasil.
O acordo vai gerar economia aos cofres públicos, já que o Ministério da Saúde pagará cerca de R$ 30 por dose, o menor preço já praticado no mercado – 8% abaixo do valor do Fundo Rotatório da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).
A expectativa, em cinco anos, é de um valor 34% menor que o gasto atual (nesse período, o laboratório público passará a ter domínio de todas as etapas para a produção). Com isso, o custo vai cair de US$ 543 milhões para US$ 452,5 milhões – uma economia de US$ 90,5 milhões (ou cerca de R$ 200 milhões).
Papanicolau
A incorporação da vacina complementa as demais ações preventivas do câncer de colo do útero, como a realização do exame preventivo Papanicolau e o uso de preservativo em todas as relações sexuais.
O Ministério da Saúde orienta que mulheres dos 25 aos 64 anos façam o Papanicolau a cada três anos. Em 2012, foram 11 milhões de exames no SUS. O Plano Nacional do Controle de Câncer do Colo do útero prevê investimentos de R$ 382,4 milhões até 2014.
*Nome fictício para preservar a privacidade da entrevistada.
*G1.