Se você torce para algum time de futebol, sabe como é se sentir parte do clube que ama e também provavelmente sabe o significado do clubismo. Quem nunca teve uma atitude clubista que atire a primeira pedra. Mas não é só sobre isso que vamos conversar. Você já se arrependeu em algum momento por deixar seu sentimento falar mais alto? Eu já. Caso não esteja lembrando de nenhuma situação, vou te ajudar.
Lembra de alguma discussão (seja na internet ou pessoalmente) sobre algum jogo ou qualquer outro assunto e você ofendeu o coleguinha de forma pessoal só por ser rival? Pois é. Eu mesma já fiz isso e não me orgulho nem um pouco. Como já disse anteriormente em outro texto, estamos em constante processo de desconstrução, quando nos permitimos a aprender e conviver melhor com a escolha do outro. Infelizmente, sabemos que no mundo do futebol a coisa não é simples assim…
Já ouviu a expressão “política do cancelamento”? Se não, em algum momento você vai ver alguma informação sobre. Acredito que isso sempre aconteceu, mas agora com a quarentena, os debates sobre cancelamento/linchamento virtual se intensificaram, até porque estes casos também aumentaram muito e é sobre isso no contexto do torcedor que vamos falar.
No chamado “tribunal da internet” todo mundo já se achou no direito de julgar ou comentar sobre alguma situação, até porque a possibilidade de interação é gigantesca. Mas, infelizmente, estamos vendo também as pessoas que não compreendem ou fingem não saber que postar algo que prejudique o outro nas redes sociais é crime. Ou seja, não utilizam dessa maravilha que é a internet para fazer algo bom. Com o futebol não é diferente e acontece constantemente. Assim como eu, outras torcedoras também apaixonadas pelo esporte e pelo time que torcem já sofreram algum tipo de hate por um comentário criticando/zoando o rival, seja lá por qual situação for dentro desse contexto. Hate, pra quem não sabe, é uma expressão que define pessoas que postam comentários carregados de ódio ou críticas sem muito critério.
Meus amigos e até quem não é muito próximo a mim ou simplesmente me segue em alguma das redes sabe que sou 100% adepta da zuera saudável no futebol e que, particularmente, sou chata quando se trata de zoar o rival. Já ultrapassei dos limites? Já, não nego. No calor do momento já errei sim e admito, mas sempre me propus a melhorar. Só que, principalmente agora na quarentena, o nível saiu do meio de tabela pra o rebaixamento. Não estamos mais falando de algo “normal” e sim de ataques misóginos, de difamação, de ofensas voltadas às mulheres e não ao time que torcem.
Mas porque isso vem acontecendo? Você deve pensar que estas provocaram isso, né? Mas não. É o mesmo que dizer que, quando saio de roupa curta na rua, dei lugar pra um cara me assediar. A partir do momento que se vê uma publicação de uma mulher sobre futebol, a forma que deve ser comentada deve partir APENAS para o assunto futebol. Chamar ela de CADELA é debater ou atacar? Difamar ela é debater ou atacar? Utilizar a imagem dela em outra publicação de forma pejorativa é debater ou atacar? Desde quando isso virou zuera e alguém tem que ser obrigado a agir como se isso fosse normal? Se ficou chocado lendo isso, é com você que quero continuar conversando. Se não ficou e chama tudo isso de “mimimi”, vou ser bem sincera: você NÃO merece torcer pra time nenhum. O futebol não precisa de pessoas como você.
Vivemos em um estado democrático, onde a liberdade de expressão é garantida na nossa constituição, assim como o direito de ir e vir. Portanto, não cabe a você, misógino, machista, homofóbico, racista definir onde e quando as pessoas devem estar. Não cabe a você dizer que uma mulher ou qualquer outro ser humano não podem estar e falar sobre o esporte mais amado desse país.
Está claro na minha biografia aqui no Bahia no Ar e em todas as minhas redes que sou torcedora ferrenha do Esporte Clube Vitória, mas ainda assim não precisei mencioná-lo nas tratativas que trouxe nesse artigo para expurgar ninguém. O que trouxe aqui atinge todas as torcedoras de um modo geral. Além de mim, amigas minhas vieram sofrendo esses ataques e, quando vi uma torcedora rival passando pela mesma situação, fiz questão de entrar em contato com ela, me coloquei no lugar. É a tal da empatia. E não estou citando isso porque quero reconhecimento ou algo do tipo, não mesmo. Só quero reforçar que, independente de rivalidade, NINGUÉM merece passar por isso.
Se em algum momento da vida te ofendi ou agi de forma agressiva, aproveito o espaço para pedir desculpas. Mas, também aproveito para dizer que não estou escrevendo isso para ser vitimizada. Estou fazendo isso com a intenção de, simplesmente, manter minha posição de empoderamento, para trazer outras manas junto comigo e fazerem o mesmo, na tarefa árdua de transformar o que ainda é uma narrativa em realidade: o futebol é de TODOS. A lei do retorno não falha.