A língua portuguesa, oficial do território brasileiro, definiu que ARQUIBANCADA deveria ser um substantivo feminino. Mas, apesar disso, em pleno 2020 ainda existem pessoas que se atrevem a tratar esse lugar mágico como algo que pertença a um grupo específico: homens héteros. Sim, até porque a luta para aceitação do público LGBTQIA+ se intensificou recentemente, apoiada infelizmente ainda por pouquíssimos clubes e frequentadores dos estádios. E não, não estou entrando em guerra contra vocês, homens. Sempre serão bem-vindos, porém, respeitando a presença e o direito de torcer de todos os públicos.

Mulher. Torcedora, estudante, mãe, trabalhadora, qualquer que seja o seu contexto de vida. Não estamos falando de um sexo frágil, estamos falando de seres humanos fortes e presentes em todos os espaços. A inclusão feminina no futebol é um assunto que está sendo tratado cada vez mais no meio e, felizmente, em sua grande maioria pelas próprias mulheres. Não é novidade pra ninguém a imagem equivocada que se tem sobre nossa presença nos estádios, afinal, aceitar isso seria uma “afronta” ao público majoritariamente masculino. Vamos desconstruir isso?

Primeiro questionamento: O que te impede de conversar com uma torcedora, independente de qual torça, sobre o time dela ou somente sobre futebol em geral? O que te impede de se dispor até, possivelmente, aprender sobre com ela? Eu, particularmente, acho incrível quando nos cedem espaço para conversarmos e expor nossos conhecimentos, ainda que deva ser algo natural e não por pressão. Devemos normalizar todo tipo de inserção da mulher no cotidiano do esporte, nos estádios, na imprensa, trabalhando nos clubes, entre tantas outras opções.

Sair da sua zona de conforto para ampliar a visão sobre o que outras pessoas passam é uma atitude essencial para formação do nosso senso empático e prosseguir com a desconstrução social. Nesse contexto, falo agora como uma frequentadora de jogos não só do meu time, mas também de quem teve a honra de assistir alguns da Copa do Mundo e da Copa América. Aproveito sempre para observar a quantidade de mulheres presentes e como se portam diante de um ambiente ainda muito machista. É notório que, além de estarmos cada vez mais em maior número, vejo uma liberdade maior de se posicionar, de expor sua opinião abertamente sobre função tática dos jogadores por exemplo, ou sobre uma escalação mal feita e até sobre o corte de cabelo de alguém em específico. Mas, qual destes comentários você acha que foi citado por aquele indivíduo que ainda se recusa a aceitar nossa liberdade? Pois é. “Só veio pra cá pra falar da beleza dos caras. Se perguntar que posição joga nem sabe.” 

São situações como essa que devem ser combatidas. Quantas vezes você, leitora, esteve assistindo um jogo do seu clube de coração, gritou por causa de alguma jogada errada e alguém próximo a você riu ou desdenhou disso? Quantas vezes tivemos que ouvir aquela PÉSSIMA (sim, em letras garrafais) frase “você sabe o que é impedimento”? Quantas vezes você foi assistir a partida de short, saia, ou alguma roupa que, na visão destes, soe como “provocante”? Quantas vezes tomamos posicionamentos empoderados sobre tudo isso e somos taxadas de chatas ou até mesmo de feministas? Feministas no termo pejorativo e não no conceito raiz. Precisamos e devemos falar que somos livres para usar roupa curta, que podemos xingar os passes errados, que podemos comprar uma cerveja no bar, que podemos falar também do visual dos jogadores. Precisamos normalizar a nossa voz.

E você, leitor? Como falei no início, não estamos em guerra. Pelo contrário, estamos apenas expondo que não devemos ser excluídas por motivos patriarcais, motivos que não cabem mais ser validados em pleno século XXI. Talvez você já tenha reproduzido algum discurso destes, ainda que se disponha a aprender e ouvir uma mulher quando ela se sente incomodada. O conceito feminista é, basicamente, a equidade entre todos nós. Equivalência entre espaços. Uma boa opção para entender melhor são os coletivos femininos dos clubes. Hoje, tenho a oportunidade de participar do coletivo unificado do Vitória, que engloba boa parte das torcedoras que vão ao Barradão. Nossa união é voltada a continuar reforçando nossa presença na bancada, bem como estendê-la para fora do meio rubro negro e inspirar outras manas que também amam o futebol. Assim como o nosso, existem diversos na maioria das torcidas do país. Sintam-se à vontade para acompanharem e entenderem tudo o que é comentado.

Ainda é difícil? Sim, infelizmente. Mas, hoje já somos muito mais fortes e a consequente explanação do que ocorre abre nossos horizontes para compreender o que devemos fazer e como devemos agir. Por isso, nesta publicação, a comunicação é para todos. Para todos que enxergam o nosso potencial, para todos que estão entendendo e os que já entenderam o tamanho do sentimento que envolve o mundo do futebol. Perceberam que, apesar do título ser sobre português e denotar uma posição de domínio feminino, não inferiorizamos e nem retiramos ninguém? Seguindo este princípio, embarca no aprendizado e vamos em busca de mais passageiros! Quem sabe não paramos no caminho e construímos uma nova arquibancada com desconstrução, inclusão e empoderamento?

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