Quando recebi o convite para ser colunista de moda aqui no Bahia no ar, não hesitei nem por um segundo em aceitar. Percebi que seria uma grande oportunidade de falar sobre uma moda inteligente, livre de rótulos, imposições, modismos rápidos e também sobre um consumo consciente, tema desse artigo.

Quando falamos em consumo consciente logo pensamos em reciclagem, meio ambiente, preservação da natureza e renovação de energia. Mas, o que muitas pessoas não sabem é que, além do meio ambiente, a sustentabilidade também envolve a esfera social e econômica. Assim como desejamos um meio ambiente limpo também almejamos um social bom para as pessoas e uma economia justa para todos os envolvidos.

Para vocês entenderem melhor sobre o que está em jogo, começarei mostrando quais são os custos visíveis e os invisíveis de cada “pecinha” de roupa.

Para produzir uma blusa precisamos de: tecido, aviamentos, confecção, processo de marketing e vendas e a logística envolvida desde a saída da peça da produção até as mãos do consumidor. Esses são os custos visíveis.

O que a maioria das pessoas não fazem ideia são dos custos invisíveis dessa mesma blusa. A enorme quantidade de água utilizada para produzir os tecidos, o alto consumo de energia, o prejuízo ao solo pelo cultivo desenfreado do algodão(só um exemplo), a grande emissão de gases de efeito estufa nos transportes durante todo o processo e sem falar na produção gigantesca de lixo que nem sempre é biodegradável e que permanecerá na natureza por muitos anos. Esse é somente o aspecto ambiental.

Quanto a questão social, infelizmente ainda existem muitas fábricas e confecções que mantém um sistema de produção com condições subumanas aos trabalhadores, ou melhor dizendo às trabalhadoras, visto que 75% da mão de obra da indústria da moda são mulheres. Essa realidade é uma realidade brasileira e mundial. Em alguns países o salário mensal mínimo de uma costureira não chegava a US$50 em 2013. Essa realidade só mudou, mas não o suficiente, quando um prédio que sediava alguns ateliês de costura desmoronou e matou 1.100 pessoas em Bangladesh. Aliás, recomendo o documentário “The True Cost “ de Andrew Morgan que retrata o impacto da indústria da moda na sociedade e a vida dessas trabalhadoras. Mulheres que são exploradas para fazerem a roupa que vestimos. Será que aquela blusinha baratinha está fazendo o bem para quem a produziu? O raciocínio é, se esse preço dessa blusa está tão baratinho é porque quem a produziu recebeu um valor também muito baixo pelo seu trabalho e muito provavelmente num mercado informal sem qualquer direito trabalhista. Para essa profissional sobreviver, ela precisar trabalhar muitas horas diárias, as vezes sem folga semanal e em ambientes insalubres.

Esse é o aspecto social que está estreitamente ligado ao econômico, quando pensamos que enquanto existem milhões de trabalhadoras e trabalhadores ganhando salários mínimos para produzir as nossas roupas, uma pequena parcela desta cadeia produtiva acumula 95% de todo o capital envolvido nesse mercado de moda. Será que é uma economia justa para todos os envolvidos?

Como então colocar em prática o Consumo Consciente?

Primeiro de tudo, só consumindo aquilo que você precisa. Pense 3, 4, 5 vezes antes de comprar algo. Você irá se surpreender com a quantidade de coisas que você deixará de comprar. Aqui está valendo a máxima que diz : quantidade não é qualidade .

Segundo, procure saber onde aquele produto foi fabricado, qual o material usado, o quanto a empresa que produz e vende esse produto está de alguma forma comprometida com a sustentabilidade.

Terceiro, questione se o preço daquele produto faz sentido. Será que esse valor é justo social e economicamente para os envolvidos na sua produção? O barato para você pode custar muito mais para outra pessoa.

Acredito que somos capazes de transformar a nossa realidade com mudanças de comportamentos. A reponsabilidade por um mundo mais justo depende de cada um de nós.

Por isso convido todos vocês a começar a suas micro revoluções substituindo o consumismo pelo consumo consciente!

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