Em meio a pandemia do novo coronavírus (Covid-19), uma queda expressiva do comércio Brasil x Estados Unidos foi registrada ao longo de 2020. O recente levantamento da Amcham Brasil, com base nos dados do Ministério da Economia, aponta que o intercâmbio comercial entre os dois países teve o pior resultado em 11 anos, desde o desenrolar da crise do subprime.

A entidade também destaca que uma pauta comercial, baseada em produtos mais trabalhados, e as barreiras tarifárias impostas pelo então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (que não puderam ser revertidas), prejudicaram a indústria brasileira.

Nos dados oficiais, é ressaltado que a corrente de comércio em 2020 (soma entre exportações e importações) foi de US$ 45,6 bilhões; uma redução de 23,8% em comparação com 2019.

Foram vendidos US$ 21,5 bilhões (-27,8%), enquanto as compras somaram US$ 24,1 bilhões (-19,8%). Com isso, houve, portanto, déficit de US$ 2,6 bilhões.

A entidade destaca que o resultado destoa da média da balança comercial brasileira. A somatória das movimentações foi de US$ 368,847 bilhões em 2020 contra US$ 401,4 bilhões em 2019, uma redução de 9%.

O Brasil exportou cerca de US$ 209,9 bilhões e importou US$ 158,9 bilhões; dessa maneira, houve quedas de 6,1% e 9,7%, respectivamente. No agregado, foi computado um superávit de US$ 50,9 bilhões.

“O setor siderúrgico foi muito afetado. Há restrições em vigor desde 2018, que tiveram efeito nos dois anos passados, mas foram ainda mais negativas em 2020”, disse o vice-presidente executivo da Amcham Brasil, Abrão Neto.

Abrão Neto enfatiza ainda que produtos importantes da pauta, a exemplo do petróleo e seus derivados, sofreram com quedas de preço durante a pandemia. São produtos de “maior valor agregado”, que tiveram curso diferente da aceleração de comércio de insumos básicos, como alimentos exportados para a China.

No entanto, Neto tem previsões otimistas para o futuro: “Acreditamos que os níveis voltarão ao patamar pré-crise em 2021”.

Ademais, o levantamento também mostra que o Brasil registrou aumento de exportações para os asiáticos, principais parceiros comerciais. No total, foram US$ 67,6 bilhões, contra US$ 63,3 bilhões em 2019.

Dentre os 10 principais parceiros, as exportações caíram em sete. Somente a Holanda (-31%) reduziu mais as compras do Brasil que os EUA. Chile e Japão tiveram reduções semelhantes.

A aproximação de Bolsonaro e Trump, conforme frisa o levantamento, não trouxe, até o momento, grandes louros ao Brasil. Porém, especialistas alertam que parte dos acordos fechados terão algum efeito de médio a longo prazo.

“A relação com os EUA é desigual. Não somos parceiros prioritários, do ponto de vista comercial ou político. Somos como irmãos menores que têm que fazer mais concessões para se manter na agenda”, diz Verônica, da BMJ.

Nova gestão nos EUA

A projeção da Amcham sobre a retomada passa por um realinhamento de agenda depois do desgaste entre Bolsonaro e o novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

Na quarta-feira, 20 de janeiro, (data que o democrata tomou posse nos Estados Unidos), Bolsonaro enviou uma carta ao americano. A atitude aconteceu após, em novembro de 2020, o mandatário brasileiro ter declarado que “quando acaba a saliva, tem que ter pólvora” para lidar com eventuais barreiras comerciais contra o Brasil por conta de incêndios na Amazônia, como Joe Biden indicou que faria.

Na carta da quarta-feira, Bolsonaro afirmou ser “grande admirador dos Estados Unidos” e que, desde de que assumiu o poder no Brasil, passou a “corrigir” o que chamou de “equívocos de governos brasileiros anteriores”, que, segundo o presidente, “afastaram o Brasil dos EUA”.

“Com o novo governo, a relação passa por uma reconstrução. É uma agenda diferente, com novas prioridades e novos interlocutores. Mas há espaço para buscar entendimentos. Depende de engajamento e boa vontade dos dois lados”, avaliou Neto, da Amcham.

“A questão é que, com o governo Biden, tudo recomeça. Muito provavelmente serão exigidas novas concessões, desta vez sobre preservação do meio ambiente”, complementa Verônica, da BMJ.

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