Uma área de dunas no bairro Bela Vista de Jauá, em Camaçari (Grande Salvador) está sendo devastada pela extração ilegal de areia.

Diariamente, várias caçambas são abastecidas com o mineral, que é carregado, com a utilização de pás, por trabalhadores informais.

O movimento dos veículos é intenso e ocorre a qualquer hora do dia, inclusive à noite. Na sexta-feira, 7, por volta das 16h, A TARDE flagrou duas caçambas sendo abastecidas.

Os moradores ficam incomodados com a degradação do meio ambiente, entretanto alguns têm medo de comentar o assunto.

"É melhor não mexer com isso. Essa extração é realizada por uma máfia. Os responsáveis têm olheiros pela região", disse uma pessoa, sem querer se identificar.

Outro morador contou ter denunciado a atividade, por e-mail, ao Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), mas não obteve retorno.

"A paisagem é linda e o é habitat de algumas espécies. É uma pena que esteja sendo destruída, sem a menor fiscalização", lamentou. Segundo ele, crianças da localidade são pagas para abastecer as caçambas.

Ainda de acordo com a população, parte da areia é levada para outros municípios e o restante é comercializado em Jauá e Abrantes.

"A caçamba custa R$ 250", disse um comerciante, que afirmou ter usado a areia ilegal para construir uma casa de veraneio. De acordo com ele, a atividade ocorre há, pelo menos, seis anos.

Na entrada de Jauá, uma placa afixada em frente a uma residência anuncia a venda.

"Temos areia fina e grossa", diz o informativo.

Segundo Luiz Edmundo de Campos, diretor da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (Ufba), e integrante do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (Crea-BA), a extração em região de dunas é ilegal.

O mineral, inclusive, não deve ser usado em construções por causa da salinização. "As paredes construídas com areia de dunas próximas à praia ficam sempre úmidas. Isso acontece porque o sal, presente no mineral, retém a umidade", explica.

O Inema não se pronunciou sobre o caso até o fechamento da edição. Já a Prefeitura de Camaçari disse, por meio de assessoria de comunicação, que já comunicou a atividade à Polícia Federal, que, por sua vez, já prendeu vários motoristas e autuou algumas empresas.

A prefeitura alegou que, com o tempo, os grupos voltam a atuar na região.

Para a gestão do município, é necessário que seja implantado um plano constante de proteção ambiental para fiscalizar a região e coibir a ação clandestina.

Ainda conforme a assessoria, a prefeitura tem feito ações educativas, instalando placas que informam sobre a proibição da extração. E o Inema, inclusive, já estaria ciente da atividade ilegal.

Área de proteção

A resolução 2.974/2002 do Conselho Estadual de Meio Ambiente classifica as dunas situadas na zona costeira do município de Camaçari como Zona de Vida Silvestre, e inclui o espaço na Área de Proteção Ambiental Joanes-Ipitanga.

Pelo documento, não são permitidas novas ocupações do solo. E é proibido o tráfego de veículos fora dos acessos viários locais.

Para a extração da areia, os responsáveis construíram uma passagem rudimentar de barro até o areal.

A região que dá acesso à passagem é conhecida como desvio d o pedágio da BA-099. O lugar deserto facilita a atividade ilícita.

Conforme o estabelecido no documento, a área devastada deveria ser destinada a visitações para fins educativos, ambientais, turísticos, ecológicos e relacionados a pesquisas.

A TARDE denunciou crime semelhante duas vezes

A extração ilegal de areia na região já tinha sido denunciada por A TARDE em 2009 e 2011.

Em 2009, o jornal apurou que foram devastados 20 hectares em Barra do Pojuca, com retirada de areia e arenoso. O local possui diversidade de fauna e flora, características da Mata Atlântica.

Em 2011, outro esquema veio à tona, após denúncia do veículo. Segundo apuração feita na época, a extração ilegal de areia no município de Camaçari rendeu, de janeiro de 2009 a dezembro de 2010, pelo menos R$ 1,2 milhão à quadrilha que atuava no Loteamento Joia de Itacimirim, em Barra do Pojuca.

Na região também ocorria tráfico de drogas, homicídios, desmanche de carros, invasões a areais de empresas legalizadas e ameaças de morte a moradores que denunciavam os crimes.

O montante roubado em dois anos daria para encher 47 piscinas olímpicas. Parte da areia tirada da jazida Joia de Itacimirim parava em depósitos de lojas de material de construção em Salvador, e era utilizada para a fabricação de pré-moldados, ao ser misturada com cimento, de acordo com um funcionário de uma das lojas.

Resultados

Na época, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), secção Bahia, embargou o campo de extração de areia e notificou a empresa HM Mineração, localizado na Fazenda Capoame, em Camaçari (Grande Salvador).

Algumas máquinas também foram apreendidas durante inspeção do órgão. Os extrativistas que atuavam em Barra do Pojuca foram notificados. Os criminosos já atuavam antes no loteamento Joia do Rio II e Lagoa da Sereia e aguardam resultado de processo administrativo.

Os criminosos conseguiram fugir do local e por isso não foram presos.