Egi SantanaCarina foi escolhida entre milhares de pelegrinos

Carina Soares é técnica de laboratório, tem 24 anos e mora no bairro de Águas Claras, na periferia de Salvador. Católica e uma das inscritas entre milhares de pelegrinos para participar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no Rio de Janeiro, há menos de um mês ela recebeu uma ligação mais que inesperada. Carina foi selecionada como a representante da Arquidiocese de Salvador para ficar próxima ao papa Francisco, durante as cerimônias da Jornada.

"Eu estava no ônibus, lá na Liberdade, indo para o trabalho, quando Dom Gilson me ligou. Ele foi falando que a organização do evento o convocou para uma missão, mas não me dizia o que era. Eu só confirmava: 'sim, certo, tá bom'. Aí eu pensei: 'Deve ser algo relacionado à semana missionária de Salvador que ele vai me chamar para participar'. Foi o máximo que eu pensei", diz a jovem.

Segundo Carina, mesmo depois do bispo contar que ela havia sido escolhida para participar dos atos centrais da JMJ, a "ficha" ainda demorava de cair. "Eu disse a ele: E vem cá, então significa que eu vou participar dos atos próxima ao papa? Ele disse que sim, que era isso, mesmo", conta. "Minha mão ficou gelada, eu tremi, o coração parecia que ia pular do peito. Só consegui responder que antes deles terem pensado em me escolher eu tenho certeza que foi um pensamernto de Deus. E se foi pensamento de Deus, eu tinha que fazer o mesmo que Maria disse ao anjo, 'eis-me aqui, senhor, envia'", cita a jovem.

O bispo auxiliar da Arquidiocese de Salvador, Dom Gilson Andrade da Silva, explicou que Carina foi selecionada por ser considerada um exemplo da juventude católica na capital baiana. "Nós tínhamos o compromisso de selecionar uma jovem que estava despontando entre a comunidade religiosa. E ela se encaixava nisso, como sendo um exemplo para nós, a escolha veio disso", justifica.

Segundo o bispo, a organização da JMJ ainda não explicou o local exato onde a jovem irá ficar. "O papa Francisco tem essa característica de buscar o contato com as pessoas, como exemplo do papa João Paulo II, que também pedia que os jovens ficassem bem próximos. O que sabemos é que os jovens escolhidos ficarão próximos ao santo padre", diz. Ainda segundo o bispo, um jovem de cada Diocese do Brasil foi escolhido para participar do evento com o pontífice.

História de vida

Carina mora com a mãe, que trabalha como diarista. Ela não tem contato com o pai e desde cedo encontra na religião a força e a fé para ir em busca dos objetivos, como ela diz. Segundo a jovem, entre as experiências com a religiosidade, uma das que mais marcou foi quando a mãe passou um período sem trabalhar.

"Acho que foi uma das épocas mais difíceis que já vivemos. A gente sabia que o aluguel dava para conversar com a dona da casa, as outras contas a gente também daria um jeito de pagar depois, mas e a comida? Naquela hora eu pude ver a presença de Deus", lembra.

Segundo Carina, como numa série de eventos que "se encaixavam", foi naquela época que os vizinhos decidiram ajudar da forma que podiam. Tinha vizinho que nunca tinha chamado minha mãe para nada, mas ofereceram faxinas para ela fazer, ou compravam comida e dividiam uma parte com a gente", recorda emocionada.

Hoje Carina é técnica de laboratório concursada no Instituto Federal de Ciência, Educação e Tecnologia da Bahia (IFBA) e estudante do curso de Farmácia na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Na igreja Matriz de Águas Claras ela é uma das coordenadoras do núcleo da pastoral vocacional. Vitórias conquistadas graças à fé que tem em Deus, como afirma. "Eu sempre respeito aqueles que não creem na presença de Deus, mas eu não consigo ver minha vida sem Deus. Ela não tem sentido, você tem que buscar um ponto de equilíbrio para seguir e ter conquistas", diz.

Papa Francisco

Antes de opinar sobre o novo pontífice, Carina fala do antecessor, Bento XVI. "Eu achei muito bela a atitude do papa Bento em admitir que naquele momento não tinha mais condições de assumir a igreja. E acho que ele deu um exemplo a todos, nesta época em que a sociedade está tão egoísta, onde as pessoas pensam mais em si, ele mostrou que é importante e belo dar lugar ao outro, conhecer a si e os seus limites. Acho que foi uma lição muito profunda", opina.

Já sobre o papa Francisco, ela acredita que é a oportunidade de uma renovação na igreja, assim como na fé das pessoas. "Ele tem uma linguagem simples, é um homem simples. Eu creio que o fato dele ser jesuíta, ter admiração pela vida de São Francisco, diz muito da forma que ele age, de olhar as pessoas menos favorecidas, os mais necessitados. Ele vem trazer a mensagem de que a gente não pode olhar nos bens materiais o nosso sentido de vida, mas nas pessoas, nas relações que a gente tem com o outro. Às vezes você se apega tanto ao bem material e você vai perdendo coisas que não têm preço", frisa.

Carina também acredita que o papa Francisco terá a capacidade de renovar o número de adeptos religião católica."O jeito dele ser pode ajudar a despertar a curiosidade das pessoas a vivenciarem mais a fé e trazer as pessoas que hoje estão afastadas ou que nunca participaram da igreja", complementa.

Egi SantanaCarina anseia pelo encontro com o papa

JMJ

Apesar de tentar evitar a ansiedade para os eventos na JMJ, a estudante não esconde o sentimento. "Estou tentando não pensar muito, porque ainda não sabemos exatamente o quanto próximo estaremos, se vai ter oportunidade dele falar com a gente. Eu tento ocupar minha cabeça com outras preocupações para não ficar muito ansiosa, quero viver o momento na hora que acontecer", declara.

Mas se puder imaginar alguns segundos de conversa com o papa ela já sabe o que falará: "Pedir a benção, pedir que ele continue com um olhar especial pela família e pelos jovens, além dos mais necessitados. Pedir uma benção especial ao pessoal daqui de Salvador e terminaria com a saudação 'paz e bem', a saudação franciscana", finaliza.

G1*