O cantor sertanejo Marrone admite que costumava pilotar o helicóptero que se acidentou em determinadas ocasiões, mesmo sem ter licença.
“Eu segurava o manche, isso aí é normal”, falou, em entrevista ao Fantástico.
“Pilotava, lá em cima, sim, mas pilotar embaixo, não.
Decolar, fazer essas coisas, eu não fazia, não.
”
Na terça-feira (10), a assessoria da dupla sertaneja Bruno e Marrone divulgou em seu site que o cantor afirmou nunca ter assumido o comando do helicóptero antes da queda.
No dia 2 de maio, o helicóptero em que o cantor estava caiu logo após decolar de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo.
O piloto, Almir Bezerra, teve parte da perna esquerda amputada e segue internado.
Jardel Borges, primo e secretário de Marrone, sofreu traumatismo craniano e permanece em estado grave.
O cantor teve apenas ferimentos leves, mas o acidente trouxe à tona uma série de dúvidas: por que Marrone estava sentado do lado direito da aeronave, destinado ao piloto? Isso teria atrapalhado alguma manobra? Marrone estaria no comando do helicóptero recebendo instruções de voo de um piloto sem certificação para dar aulas?
O piloto Almir Bezerra disse em depoimento à polícia que era ele quem estava no comando do helicóptero no momento do acidente, apesar de Marrone estar sentado do lado direito.
Mas Bezerra também admitiu que o cantor pilotou o helicóptero em trechos do trajeto entre Curitiba e São José do Rio Preto.
Em entrevista, o cantor disse que não havia problemas em ele pilotar, mesmo sem o brevê – e, segundo ele, quem garantia isso era o piloto Almir Bezerra.
“Eu estou consciente, eu já estava consciente e estou consciente [de que não deveria estar sentado do lado direito do helicóptero].
Porque não sou eu que deixou eu ir lá do lado direito.
Quem me liberou foi o meu piloto, o Almir.
Ele falou: ‘Você pode ir aí que não tem problema.
Para mim, eu pilotar do lado esquerdo, do lado direito, tanto faz.
Pode sentar aí que eu vou explicando para você’”, diz.
Riscos
No entanto, o especialista em segurança de voo Jorge Barros assegura que há riscos no fato de alguém sem licença segurar o manche, um dos comandos do helicóptero.
“Uma pessoa não habilitada, ao tocar os comandos, está sendo um intruso perigoso para a segurança do voo.
Ela não pode tocar nos comandos.
Nenhuma chave, nenhum equipamento do avião que possa interferir no voo.
Ela está limitada apenas a se comportar como passageiro”, esclarece Barros.
Sentado à esquerda, o piloto tem menos acesso aos equipamentos do helicóptero.
Só pode pilotar nesta posição um piloto instrutor de vôo – o que não é o caso de Almir Bezerra.
“Ele falou para mim: ‘Fica tranquilo, a responsabilidade era minha, é minha, eu sabia o que estava fazendo, então fica tranquilo, entendeu?’ Estou tranquilo”, disse Marrone.
Em imagens feitas em outubro de 2010, em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul – às quais a reportagem teve acesso –, o cantor aparece embarcando do lado direito do helicóptero.
“Já aconteceu de eu ir algumas vezes, mas não era sempre, não”, argumenta Marrone.
O cantor admite que era ele quem pedia para sentar do lado direito, para “ir aprendendo”.
Ele diz que ia “mexendo nos relógios” e que “às vezes, pegava no manche também”.
Mil horas de voo
Outra gravação, feita há um mês, mostra o cantor em pleno voo.
Nela, Marrone explica o que fazia no Aeroclube de Umuarama, no Paraná: “Quando eu posso, eu estou com meu piloto fazendo algumas aulas.
Eu já piloto todos os dias com ele, já estou com mais de mil horas já, já estou tirando minha brevê, inclusive”, declarou no vídeo.
“Estou fazendo as emergências.
Perda de motor, é muita coisa, a gente tem que passar, porque quando acontecer uma pane na aeronave, a gente tem que estar ciente do que a gente está fazendo para não morrer”, continuou Marrone no vídeo.
Questionado pela reportagem se foi o piloto Almir Bezerra que deu todas as mil horas de aulas práticas de maneira irregular, Marrone respondeu: “Mil horas? Quem disse isso?”.
Ao saber que ele próprio havia feito a declaração em vídeo gravado há um mês, o cantor se limitou a dizer: “Às vezes, a gente fala de uma maneira não dizendo que eu seja piloto, nada.
Não é que eu estava falando que eu era piloto, a gente aumenta.
”
Exame teórico
Antes das aulas práticas de pilotagem, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) exige um teste teórico, mas Marrone diz à reportagem que não fez nenhuma prova.
Porém, um documento, que também está disponível na internet, indica o contrário.
Nele consta que Marrone fez o exame teórico e foi aprovado.
A reportagem questiona quem poderia ter feito o exame no lugar dele.
“isso aí eu não posso te responder agora.
” Para fazer essa prova, o candidato precisa ter o ensino fundamental completo, o que Marrone não tem.
As causas do acidente estão sendo investigadas pela Aeronáutica.
Só depois disso, a Anac vai decidir se cabe punição ao piloto que voava com Marrone.
Shows
Na noite de sexta-feira, Marrone participou do primeiro show aberto ao grande público desde o acidente.
Fonte: CDB