Na manhã desta quarta-feira (25), durante a primeira edição do programa Bahia No Ar (Rádio Sucesso 93.1), o repórter Clerisson Amorim conversou com o advogado Jorge Lima, hoje à frente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Salvador, para falar sobre a necessidade da paralisação de obras na capital baiana devido a pandemia do novo coronavírus (Covid-19).

“A grande preocupação do sindicato, hoje, é com a proteção dos trabalhadores que ainda estão prestando serviço nas obras. Primeira noção de qualquer entidade sindical coletiva é proteger a vida das pessoas, e não podia ser diferente agora, diante dessa crise que se apresenta como a mais grave da história do país, e quem sabe do mundo, não se tem registro de outra situação dessa. E, lamentavelmente, ainda enfrentamos  grandes problemas de prevenção. As obras de construção civil já são propensas à contaminações e agora então, com esse vírus tão forte, tão perigoso, é grande a preocupação do sindicato, nós estamos acompanhando os casos e tentando resolver”, começou Lima.

Segundo o advogado, ainda existem muitas obras que poderiam ter adotado a medida de paralisação, mas seguem funcionando e sem as devidas ações de segurança para seus colaboradores.

“A gente ainda tem muitas obras funcionando. O sindicato tem acompanhado todas as dificuldades, tentando manter ao máximo seus diretores nas áreas, com toda cautela, e estamos observando e recebendo relatos de que muitas obras ainda estão funcionando, principalmente nas áreas de manutenção da Embasa, da própria Coelba, e também com obras prediais. A gente tem grande preocupação com isso, porque, claro, a gente precisa, a gente tem noção de que certos serviços essenciais tem que ser mantidos, mas não está tendo a cautela por parte das empresas de reservar parte dos trabalhadores e nem adequar esses trabalhadores a nova realidade. A gente precisa muito que as pessoas estabeleçam táticas de afastamento dos trabalhadores, de estabelecimento de máscaras  e outras proteções para que eles possam fazer o serviço. E em certa medida é inadiável, como ter manutenção para ajudar nos hospitais, na cidade em geral, isso não pode parar. Agora, obra de construção civil, por exemplo, que não é de cunho essencial já devia ter parado todas”, explica.

Na visão de Júlio, a pandemia vai gerar um grande impacto na economia, no entanto, vai gerar também uma mudança de atitudes.

“Vale para minha categoria e vale pra sociedade, esse sofrimento intenso que a sociedade tá passando vai gerar, obviamente, uma mudança de atitude. Tem que gerar. Se você parar pra observar um país tão maravilhoso quanto esse, culturalmente uma produção tão maravilhosa, com um povo acolhedor, a gente não tem grandes desastres naturais, mas nunca teve vazão técnica. O Brasil em si, com esse momento que todo mundo tá sendo testado, nós temos que repensar o valor das coisas. A perspectiva de que a morte possa chegar bem próxima da gente, a um parente, um amigo, que possa chegar nas ruas, leva as pessoas a repensar suas atitudes, seus valores. Então, espero que a gente saia com menos danos possíveis, claro, mas com a noção de que a gente precisa valorizar a solidariedade, a humanidade, a coletividade”, pontua.

Ele fala ainda do papel das autoridades.

“A gente vai ter que repensar o papel do Estado, para além das dificuldades ideológicas. A gente precisa repensar a importância de um órgão central que regule. Nós temos centro de excelência na Bahia, o Lacen, o Laboratório Público da Bahia, ele produz experimentos excepcionais, ele tem marcadores para acompanhar essas epidemias, essas pandemias, mas nós passamos e estamos passando ainda pela H1N1. O próprio serviço público só fala mal. Olha a importância do papel do SUS [Sistema Único de Saúde] nesse momento”, elucida.

“Nesse momento temos que nos proteger de uma doença que já ceifou a vida, por exemplo, do dono do Santader, um homem que estava no topo da estrututa do capital do mundo, perdeu a vida por uma doença que pode atingir todo mundo. Esse cataclisma mundial serve para mostrar as pessoas que somos todos iguais e que estamos submetidos a riscos. Então, vamos pensar mais no outro, pensar na coletividade, pensar em cosntruir uma proteção para toda sociedade. Eu acho que essa lição, por mais dura que seja, por mais que o recado tenha sido tão grave, ficará por muito tempo e eu espero que sirva para melhorar a humanidade”, finalizou.

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