Imigrantes europeus, ao desembarcar no Brasil no final do século 19, trouxeram consigo o chamado café colonial — um cardápio farto e composto de pães, tortas, queijos, leite, frutas e carnes, entre outras delícias.
Na época, refestelar-se com um banquete imediatamente após a aurora trazia a energia necessária às atividades braçais dos colonos, que começavam junto com o nascer do sol.
Mas, ao longo dos anos, o trabalho deixou de ser fisicamente extenuante para muitas pessoas, enquanto a cultura de comer à vontade logo cedo atravessou gerações.
Como esse hábito veio do Velho Continente, nada melhor do que um pesquisador de lá para observar suas influências nos dias de hoje.
Após analisar a dieta de 380 indivíduos, Volker Schusdziarra, da Universidade Técnica de Munique, na Alemanha, chegou a uma conclusão desanimadora: abusar da comida nas primeiras horas da jornada culmina, sim, em ganho de quilos.
Segundo o cientista, mesmo quando se faz um ataque pesado à geladeira logo depois de acordar, geralmente não se diminuem as garfadas nas outras refeições.
"Ou seja, para se manter na forma ideal, é necessário controlar as calorias já no desjejum", sentencia Schusdziarra.
Lidas de maneira simplista, essas palavras justificariam o jejum absoluto no nascimento do dia.
Contudo, tal prática não tem nada a ver com saúde.
À esquerda, você já se depara com um belo exemplo de alimentação matutina, que garante elementos essenciais ao organismo e que não faz a circunferência abdominal aumentar.
A importância de colocar algo dentro do estômago ao amanhecer é inquestionável em todos os sentidos, inclusive no do emagrecimento.
"Existem fortes evidências científicas do seguinte: quem inicia o dia fazendo boas escolhas alimentares tende a comer bem nas demais horas", afirma Mariana Del Bosco, nutricionista da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).
"Por outro lado, pessoas que pulam o café da manhã dificilmente conseguem se controlar no almoço", completa a nutricionista Priscila Maximino, da Nutrociência Assessoria em Nutrologia, na capital paulista.
O motivo disso é simples: a partir do momento em que fica vazio, o estômago manda sinais para o cérebro de que é preciso reabastecer seus estoques.
E daí? Daí que, quando a privação de comida se estende por horas a fio, esses avisos vindos da barriga se tornam, digamos, cada vez mais contundentes.
Resultado: guloseimas demais no prato e acúmulo de gordura na cintura.
Muito além da regulação da fome, uma refeição matinal equilibrada acelera o organismo como um todo.
"A digestão aumenta em até 30% a atividade metabólica e influi inclusive na frequência cardíaca.
Isso aumenta o gasto calórico e, portanto, contribui para o peso ideal", ensina a nutróloga Marcella Garcez Duarte, da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), em Curitiba, no Paraná.
Essa, aliás, é uma das razões pelas quais os especialistas recomendam fracionar as refeições, com um menor volume em cada uma delas.
A dúvida, porém, sempre recai sobre a quantidade exata reservada para o café da manhã, até porque ela varia de acordo com a rotina de cada um.
Quem se exercita cedo, por exemplo, precisa de nutrientes extras para aguentar a sobrecarga.
Mas, no fundo, para qualquer mortal, os especialistas indicam que pelo menos 20% das calorias diárias venham de itens devorados de manhãzinha (saiba mais no gráfico).
A porcentagem em questão serve para evitar exageros.
Mesmo assim, não dá indicativos claros de como balancear os elementos do prato, outro fator essencial na busca por um corpo saudável e, claro, bonito.
Para criar um menu salutar, como o ilustrado à esquerda, o jeito é apostar na diversidade.
"Deve haver espaço para os carboidratos, presentes nos pães, as proteínas, encontradas no leite, os lipídeos, presentes na margarina, e também para as vitaminas e minerais, que estão nas frutas.
Essas, assim como os cereais integrais, contêm fibras, que auxiliam no funcionamento do intestino", enumera Juliana Zanetti, chefe do Setor de Nutrição do Hospital São Camilo, em São Paulo.
Produtos lácteos, como o queijo, também trazem a vantagem de carregar doses avantajadas de cálcio.
E a substância formadora dos ossos, de acordo com estudos recentes, ainda teria seu papel no afinamento da cintura.
"Uma teoria é a de que ele auxiliaria na liberação de gordura", aponta Mariana Del Bosco.
Durante uma noite de sono, o corpo diminui seu ritmo.
Mesmo assim, continua queimando energia — cerca de 80 calorias por hora — para cumprir tarefas básicas, como respirar.
Logo, sem uma reposição de combustível, ele não ativa para valer todas as suas funções.
"O cérebro é uma das estruturas que mais sofrem com isso.
Ele precisa de glicose para manter sua atividade normal", ressalta Marcella Duarte, nutróloga da Abran.
E, se a cabeça não está 100% ligada, fica complicado guardar histórias, apreender novas informações e raciocinar.
A falta de nutrientes compromete ainda a maneira como se encaram os compromissos diários.
Afinal, sem nada para reabastecer a sua maquinaria, o organismo passa a economizar.
E a primeira coisa a ser riscada da folha de pagamento atende pelo nome de disposição.
"Com o funcionamento neuronal reduzido, a tendência é ficar quieto, sem vontade para fazer nada", arremata Marcella.
Fonte:Abril.
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