Você sabe como surgiram os brechós?
Para alguns historiadores a origem dos brechós está intimamente ligada aos mercados ao ar livre que aconteciam na Europa no inicio do Século XIX. Eram feiras livres em que qualquer pessoa podia vender e comprar objetos e roupas usadas. Como a preocupação com a higiene era praticamente inexistente, era comum nas roupas a presença de animais como as pulgas. Por isso essas feiras ficaram conhecidas como “mercado de pulgas”. Esses mercados cresceram muito nos períodos dos pós 1ª e 2ª Guerras porque eram uma ótima alternativa para os consumidores que viviam numa grave recessão econômica. Até hoje muitos desses mercados existem e são bem famosos como o Portobello Road Market em Notting Hill , Londres.
Aqui no Brasil, a primeira loja de venda de roupas usadas e objetos de segunda mão, surgiu no Rio de Janeiro no Século XIX. O fundador era um português chamado Belchior, daí a origem do nome brechó (as pessoas tinham dificuldade em pronunciar o nome corretamente). Durante muito tempo para os brasileiros esse tipo de loja foi associado à sujeira, “roupa de defunto”, “fora de moda” e até a doenças. Hoje esse tabu já foi superado e roupa de segunda mão virou um item desejado e relacionado a moda, a memórias e a sustentabilidade.
Mas por que os brechós são uma ótima alternativa para os consumidores?
Em primeiro lugar, pelo preço das peças se comparadas a itens novos. Esse pode ser considerado o principal atrativo. Já pensou em comprar uma bolsa daquela marca caríssima por um preço que cabe no seu bolso? Pois é, nos brechós é possível encontrar muitos produtos de qualidade por um valor mais acessível. Em segundo lugar, a diversidade de produtos que você pode encontrar, muitas vezes verdadeiros achados, peças únicas, quase que exclusivas, que nas lojas convencionais seria impossível de encontrar. Em terceiro lugar, se determinada peça está num brechó significa que ela tem um atributo mais durável, não é a toa que já foi usada por um tempo por pelo menos uma pessoa. Cada vez mais o consumidor está procurando por roupas que durem mais nos seus armários. E por fim, você pode também vender suas peças de roupas e assim aproveitar esse crédito para comprar outros itens. Interessante, né?
De acordo com Manuela Correia , co-fundadora do Desencalha, um brechó baiano 100% on line,
Manuela nos conta que ela e a sua sócia, Francine Ribeiro, fazem a curadoria de peças de terceiros por consignação.
“ Ao vender, nós ganhamos e nosso fornecedor/parceiro ganha, e juntos contribuimos para um futuro melhor!” , afirma a empresária.
Mesmo a moda sustentável tem que considerar que moda é desejo e de acordo com Sâmara Merrighi founder da Wabi:
Para criar essa atmosfera de desejo nas peças que a Wabi revende, a empresa aposta em uma estratégia que apresenta suas peças através de uma imagem de moda exclusiva, criada para cada coleção. Além das imagens conceito e do conteúdo produzido, a Wabi conta com editoriais com informações de moda, sustentabilidade, iniciativas sustentáveis dentro das marcas de luxo e inovação na moda. Tudo muito bem pensado e desenvolvido para um para um público seleto que sabe o que quer.
Mas por que comprar em brechó é mais sustentável?
A indústria da moda é a segunda maior poluente. Cada peça de roupa carrega em si além dos custos visíveis ( matéria-prima, mão de obra, energia, por exemplo) o custo invisível de produção ( poluição dos rios, contaminação e desagaste do solo pelo cultivo de monoculturas como algodão, emissão de gases de efeito estufa, uso de recursos não renováveis, como os derivados de petróleo) nem sempre é percebido e contabilizado pelo consumidor.
Para entender melhor vamos conhecer um conceito que tem tudo a ver com brechós: a Economia Circular.
Segundo a Ellen Macarthur Foundation ,
“ A economia circular é uma alternativa atraente que busca redefinir a noção de crescimento, com foco em benefícios para toda a sociedade. Isto envolve dissociar a atividade econômica do consumo de recursos finitos, e eliminar resíduos do sistema. Ele se baseia em três princípios:
- Eliminar resíduos e poluição desde o princípio;
- Manter produtos e materiais em uso;
- Regenerar sistemas naturais.”
É no segundo princípio da economia Circular que os brechós se enquadram. Cada vez que você compra uma peça de segunda mão, você está mantendo aquele produto em uso por mais tempo e consequentemente prologando o seu ciclo de vida.
Importante destacar que o público já está prestando mais atenção a questão da sustentabilidade e percebendo que os brechós são uma ótima alternativa para os consumidores . Segundo pesquisa realizada pela consultoria internacional Boston Consulting Group(BCG) 70% dos entrevistados – 7000 pessos, em seis países – , o caráter sustentável desse mercado, acentuado durante a pandemia, é o primeiro motivo para a compra.
Quais são as inovações desse segmento?
Foi se o tempo em que brechó era aquela lojinha escondia, com um amontoado de roupas nas araras, sem nenhum visual merchandising. Hoje podemos comprar peças de segunda mão com apenas alguns cliques. Sites, lojas virtuais no instagram e até app oferecem esse tipo de produto acompanhando a tendência do mercado de varejo de moda de comprar cada vez mais on line.
O Enjoei , por exemplo, é o app mais conhecido e que está bombando no mercado. Criado em 2009 ele facilita esse mercado de compra e venda de objetos e roupas usadas criando um poderoso market place. Quem quer vender algo, cria facilmente um anúncio e quem quer comprar acessa a função “eu quero” e é direcionado aos itens que estão a venda. Tudo isso de forma fácil e gratuita. Se a venda acontecer aí sim é cobrado, uma taxa de 20% do valor do produto e uma taxa de venda. Ficou com vontade de fazer aquela limpa no guarda-roupa, né? Você vai ficar surpreso com a quantidade de itens que você já deve ter enjoado e com o “dinheiro” que está parado no seu armário!
Certamente, não tem como negar que os brechós estão cada vez mais ganhando espaço no mercado da moda.
Nos próximos cinco anos, o crescimento é estimando entre 15% e 20%. Segundo a BCG, em 2023 27% dos guarda-roupas dos consumidores terão um item de segunda mão.
Como podemos ver nesse artigo, os brechós são uma ótima alternativa para os consumidores pois oferecem inúmeras vantagens , desde preço mais acessíveis a diversidade de produtos. Sem falar no impacto positivo deste segmento para o meio ambiente. Fico feliz em saber que eles, agora também no formato on line, são uma realidade e um exemplo de que é possível buscar alternativas mais sustentáveis de negócios que seja bom tanto para as pessoas, como para o nosso planeta. Além movimentar a economia, gerando renda, empregos e fazendo circular roupas contribuindo para uma economia circular.
Confesso que depois de escrever esse artigo, fiquei com muita vontade de fazer um outra visitinha no meu guarda-roupa e desapegar das peças que enjoei e quem sabe fazer um “dinheirinho” e ainda por cima poder comprar alguma peça desejo bem vintage? Aliás, quem quiser dicas sobre como fazer a “faxina” no seu armário, pode acessar o meu artigo https://bahianoar.com/como-construir-o-seu-guarda-roupa-inteligente/ com muitas dicas que vão te ajudar nesse processo.
Em suma, adorei escrever sobre esse universo e já estou animada para explorar os brechós on line!
E você? Vamos fazer circular essas peças encalhadas do seu armário?
Excelente artigo! Mais uma vez acrescentando conhecimento!
Excelente artigo, extremamente rico e informativo. Estamos vivendo em uma época que assuntos como esse fazem a diferença na vida das pessoas, plantam sementes. Parabéns Monica ???
Você sempre trazendo discussões muito relevantes sobre a moda, Monica! Sim, brechó pode ser sinônimo de roupas e acessórios de qualidade e atemporais. Viva o estilo!!!
Muito bom o artigo! Eu sempre doei as roupas , que também é uma boa ideia, mas agora tenho um plano B.