É dia primeiro de julho e acabei de chegar de uma festa junina em que pude comer as comidas típicas brasileiras, dançar forró e confraternizar com amigos. Não, não furei a quarentena, eu moro na Nova Zelândia, um país situado na Oceania, o primeiro do mundo a ter 0 casos ativos da Covid-19.

Desculpem-me por escrever dessa forma, foi apenas para chamar sua atenção. No começo da pandemia foi muito difícil, estava sozinha, ilhada, longe da minha família e dos meus amigos. Mas para a tranquilidade (e surpresa) deles e a minha também, não poderia estar num lugar melhor.

Mas isso é apenas para apresentar o contexto a vocês. E para lembrar a importância de sermos conscientes ao escolher nossos governantes, afinal, são em momentos como esse, a hora do “vamos ver”, que percebemos quem está disposto a lutar pelo bem comum. Foi notável a diferença, em relação ao Brasil, do posicionamento de empresários e governantes da Nova Zelândia, unidos deram um “banho” de cidadania e amor ao próximo.

Por vezes, me abstenho de falar sobre a pandemia com amigos e familiares ou de dizer “posso imaginar”, porque, felizmente, não posso, não vivi nem 10% do que vocês estão vivendo no Brasil. E, mesmo estando livre e feliz aqui, é muito doloroso perceber que pessoas que tanto amo estão vivenciando um caos sem previsão do fim.

Mas sim, apesar de não ter vivido nem 10%, também tivemos momentos de tensão por aqui, mas o principal acerto do governo e da população foi não subestimar a doença, “não era uma gripezinha”, o que levou a Nova Zelândia a ter o melhor plano de ação e execução para combater a Covid-19, segundo especialistas em nível mundial.

Entre dezembro de 2019 e fevereiro deste ano, período que vou chamar de fase 1, quando o vírus ainda era “inofensivo” para todos, fomos alertados a redobrar os cuidados de higiene, manter um distanciamento e evitar aglomerações. Ainda não sabíamos o potencial do vírus, mas o governo estava adotando medidas e nos bombardeando, através de todos os meios de comunicação sobre como evitar o contágio.

No momento em que os casos aumentaram, o qual chamo de fase 2, foi ai que aconteceram as mais duras ações, ditas por muitos como radicais, mas que foram essenciais para “eliminar” o vírus aqui. Com 28 casos no país, repito, apenas 28 casos em todo o país, as fronteiras foram fechadas. A primeira-ministra, Jacinda Ardern, uma líder nata (vou falar mais dela aqui na Coluna), não se deixou abater pela pressão e após fechar as fronteiras, decretou quarentena total.

“Comporte-se como se você tivesse com o vírus, fique em casa. Esteja seguro e salve vidas”, esse era o mantra que ela repetia no pronunciamento diário de atualização das ações para combater o vírus na televisão e nas redes sociais. Ela nos acalmava, era como uma mãe, aparecia todos os dias, categoricamente, serena, orientando e tranquilizando. De fato, com esses comandos nós nos sentíamos muito seguros. E essa atenção fez toda a diferença por aqui.

Mas também o que falar da população? Aqui na Nova Zelândia é muito importante seguir regras, acatá-las ou não diz muito sobre quem você é. E isso ficou ainda mais nítido para mim nesse momento. Por isso, a população além de cumprir o que estava sendo pedido (a grande maioria), também ajudava na fiscalização denunciando os “furoes” da quarentena que se comprovado pagam multa de ate 10 mil reais.

Mas e os empresários, Milane? Olha. esses ai são exemplos para todo mundo. Teve meia-porta durante quarentena? Bom.. antes de decretar o lockdown, um grupo dos mais poderosos empresários ligaram para a primeira-ministra e disseram: “Feche tudo! A vida das pessoas está em primeiro lugar, nós apoiamos você nessa decisão”. E os pequenos e médios? Tiveram suporte financeiro do governo para pagar funcionários e se manter enquanto estavam fechados. Preciso dizer mais alguma coisa? Atitudes como essa é que, mesmo distante dos meus nesse momento, me faz ser grata por estar aqui.

Com as ações do governo, o apoio dos empresários e a obediência da população ficamos “trancados” pouco mais de um mês, o pico nem chegou a acontecer aqui, a famosa curva nem foi lá uma curva, e aos poucos os casos foram diminuindo. À medida que isso acontecia a nossa liberdade também ia sendo devolvida, nem mascara precisamos usar, eu ate nunca nem usei. Que sensação…

Foram 1.180 casos confirmados, 22 mortes, e ficamos 20 dias sem nenhum caso ativo. Tivemos uma segunda “onda” da doença, mas que também não durou muito, foram 18 casos no total. Hoje, estamos há 2 dias sem novos casos, uma vitória da união e da solidariedade entre a população, os empresários e o governo.

Mas bem, agora estamos “livres” do vírus, mas presos por aqui (não existem muitos voos, não podemos sair) e com medo do futuro, do próximo passo. Sim, medo da fase 3, do período pôs pandemia, da crise econômica. Não tem sido fácil por isso aumenta minha preocupação, pois, se um dos melhores países para se viver, rico e estruturado está sofrendo tanto assim no período pós pandemia, me pergunto: o que acontecerá com os países que estão em desgoverno, com pessoas furando a quarentena para fazer festinha com amigos e com empresários que só olham para o próprio umbigo? Realmente são tempos difíceis e incertos, peço a Deus que tenha Misericórdia de nós!

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