Líderes de partidos da oposição na Câmara se reúnem nesta terça-feira (1°) para contabilizar o apoio à criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a Petrobras e decidir qual dos três requerimentos sobre o tema terá prioridade. Desde que decidiu tentar criar uma CPI, há uma semana, a oposição coleta assinaturas em paralelo para três pedidos diferentes: um de CPI mista (que reúne deputados e senadores), de autoria do líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR); outro de CPI somente no Senado, de autoria do senador Alvaro Dias (PR); e um terceiro, também de autoria de Dias, para uma CPI mista.
Enquanto isso, deputados e senadores do PT vão articular negociações para convencer parlamentares da base aliada e partidos independentes a retirar assinaturas de apoio às investigações da estatal.
Nos bastidores, porém, o governo já admite que será difícil evitar a criação da CPI, e se prepara para "ocupar" a comissão – deve indicar parlamentares de peso para defender a Petrobras e evitar que denúncias envolvendo a empresa sejam usadas pela oposição como combustível de campanha nas eleições de outubro. O PT também vai trabalhar para ficar com a relatoria da comissão.
O requerimento que deverá prevalecer é o de autoria de Alvaro Dias para a criação de uma CPI mista. O texto já conta com o apoio de 29 senadores – dois a mais que o mínimo necessário – e reúne assinaturas de pelo menos 80 deputados, segundo assessores do DEM e do PSDB. Para ser protocolado, o pedido de criação da comissão precisa do apoio de pelo menos 27 senadores e 171 deputados.
Na reunião desta terça-feira, os deputados devem chancelar a escolha por esse requerimento e traçar uma estratégia para garantir que os parlamentares não retirem o apoio à comissão, mesmo diante da pressão do PT. O encontro será ao meio-dia, na residência do líder do DEM, Mendonça Filho (PE), e terá a participação de parlamentares do PPS, PSDB e Solidariedade.
Por sua vez, o PT realiza às 11h30 uma reunião da coordenação do partido na Câmara para articular uma reação à tentativa de criação da CPI da Petrobras. Uma das estratégias é ameaçar a oposição com a criação de uma CPI sobre as denúncias de irregularidades em licitações do Metrô de São Paulo.
"Tecnicamente, parece que não cabe um adendo para ampliar o objetivo da CPI da Petrobras e fazer com que a comissão também apure denúncias envolvendo o governo de São Paulo. Então vamos tentar uma CPI exclusivamente para apurar essas denúncias", afirmou o líder do PT na Câmara, deputado Vicentinho (SP).
No Senado, o PT insistirá na tentativa de convencer aliados a recuar do apoio, retirando assinaturas, segundo o líder do partido, senador Humberto Costa (PE). "Há investigações em curso que são absolutamente suficientes para viabilizar que todas essas denúncias sejam esclarecidas, e a realização de uma CPI agora seria tão somente para a criação de um espaço, um palco de disputa político-eleitoral que não é saudável", disse.
O líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (SP), afirmou ao G1 que, caso a CPI da Petrobras seja criada, o esforço da base aliada será de evitar que a oposição exponha a estatal e use a comissão como "palanque eleitoral". A ideia é indicar para a CPI parlamentares de peso, para defender a posição do governo.
"Não vamos deixar a oposição fazer um trabalho de colocar a Petrobras em um questionamento indevido. Uma coisa é amanhã alguém provar que teve algum erro de algum funcionário. Quem errou responderá por isso. O que não vamos permitir é a oposição fazer disso um palanque em ano eleitoral. Cada um que trouxer informação tem que provar", afirmou o petista.
Chinaglia considera a CPI "desnecessária", já que o Ministério Público e a Polícia Federal já investigam as suspeitas de superfaturamento na compra feita pela Petrobras da refinaria de Pasadena, Texas (EUA), em 2006.
"É uma CPI completamente desnecessária, porque todos os órgãos estão investigando [a compra da refinaria]. Corre o risco de [ser] mais uma CPI do Cachoeira", disse Chinaglia, em referência à comissão que investigou a relação do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários, cujo resultado mais evidente foi a cassação do senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO).
Na época, a base do governo trabalhou para barrar investigações que atingissem o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), e o do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT). O foco permaneceu nas negociações do contraventor com o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).*G1.