Novas evidências apontam que os suplementos de cálcio, usados na prevenção de deterioração óssea, podem, na verdade, colocar em risco a saúde do coração das mulheres.
A afirmação faz parte de um recente estudo, lançado no dia 19 de abril no periódico cientifico British Medical Jornal (BMJ).
Embora representem um alerta, sejam coerentes com os resultados de pesquisas anteriores, as conclusões não representam, necessariamente, uma sentença de morte para os suplementos de cálcio, dizem os autores.
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“Há uma falta de consenso no momento sobre quais recomendações devem ser seguidas em relação à suplementação de cálcio”, disse Ian Reid, autor do estudo.
Apesar da cautela, ele não esconde a grande expectativa de que os novos resultados tenham um impacto significante sobre as recomendações.
“O que nós recomendamos é uma revisão rigorosa do uso dos suplementos de cálcio, já que os dados deste trabalho sugerem que eles causem mais danos do que benefícios”, complementou Reid, que também é professor de medicina e endocrinologia da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia.
“De agora em diante, a medida mais cautelosa é encorajar as pessoas a obterem o cálcio através da alimentação e não através dos suplementos, já que o cálcio presente nos alimentos não apresentou este grande risco ao coração”, justificou o especialista.
Incertezas
Uma meta-análise recentemente conduzida pelo mesmo grupo de pesquisa encontrou um aumento de 27 a 31% nos riscos de infarto em mulheres tomando suplementos de cálcio sem a adição de vitamina D.
Muitas mulheres mais velhas fazem uso destes suplementos, com ou sem a adição de vitamina D, para manter os ossos fortes, principalmente porque há muito tempo tal prática vem sendo a recomendação médica padrão.
Além disso, a gigantesca pesquisa americana Women’s Health Initiative (WHI) ainda não havia encontrado ligação entre o cálcio e a saúde do coração.
Entretanto, como destacam os autores do novo estudo, mais da metade das mulheres participantes da pesquisa americana já fazia uso de suplementos de cálcio além do que foi prescrito para o estudo, o que pode ter interferido nos resultados.
Para a análise recente, os pesquisadores observaram um total de 16.
718 mulheres inscritas na pesquisa WHI que não faziam uso de suplementos de cálcio antes de participar do experimento.
Como parte do protocolo do novo estudo, as participantes foram divididas aleatoriamente para tomar cálcio e vitamina D, apresentando um aumento modesto de 13 a 22% nos riscos de doenças cardiovasculares, principalmente o infarto.
As mulheres do grupo controle não apresentaram variações de riscos.
Dados limpos
A causa contra o cálcio ganhou força quando os pesquisadores adicionaram dados de outros 13 experimentos não publicados, envolvendo quase 30.
000 mulheres.
Neste caso, foi observando um aumento de 20 a 35% nos riscos de infarto e de 15 a 20% nos riscos de AVC.
Mesmo que os autores do novo estudo considerem que o aumento no risco poderia ser biologicamente plausível, já que o cálcio esta relacionado ao enrijecimento das artérias, outros especialistas discordam desta hipótese.
“Mesmo que o cálcio costume ser um indicador de inflamação, as lesões com o cálcio, na verdade, são mais estáveis, por isso as chances de infarto são menores quando os vasos sanguíneos estão menos calcificados”, explicou o Dr.
Philip Houck, professor de medicina do Texas A&M Health Science Center College of Medicine.
Ele complementou que, além disso, os resultados podem ser estatisticamente – mas não clinicamente – significantes.
“Se as mulheres têm uma boa razão para tomar cálcio por terem ossos finos, então elas não devem ter medo de fazê-lo”, disse Houck, que também é cardiologista na clínica Scott & White, no Texas.
Alerta: Depressão aumenta o risco de infarto
Inconclusivo
Na opinião de Susan Bukata, professora de cirurgia ortopédica do Centro Médico da Universidade de Rochester, o estudo realmente não oferece informações suficientes para que uma conclusão definitiva seja tomada.
Entretanto, o acúmulo de evidências vem motivando a especialista a recomendar a seus pacientes a ingestão de cálcio através da própria alimentação, ao invés de lhes prescrever a suplementação de 1.
200 miligramas diários.
“Com a combinação de alimentação e suplementos, as mulheres deveriam estar ingerindo entre 1.
000 a 1.
500 miligramas diários”, disse ela.
Em um artigo que acompanha o estudo, os professores de medicina Bo Abrahamsen e Opinder Sahota escreveram que devido às limitações do estudo, “não é possível reconfirmar que os suplementos de cálcio com adição de vitamina D não causem eventos cardiovasculares adversos, ou ainda relacioná-los à certeza de aumento de riscos cardiovasculares.
Fica claro que estudos complementares serão necessários e que o debate permanece aberto”.
* Fonte: ig Saúde